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Capítulo 2
Ecos do Passado
Sophia não resistiu.
Quando Adriana a levou para a cozinha, dizendo que precisavam ver o bolo, algo no tom da mãe a fez desconfiar. Nunca tinha visto aquele brilho nos olhos dela. Um brilho meio nervoso, meio... feliz demais.
Então, assim que Adriana se distraiu com o timer do forno, Sophia deu meia-volta, caminhando silenciosa até o corredor. Sabia os cantos da casa como a palma da mão. Parou perto da porta da sala, entreaberta, e encostou-se à parede, curiosa.
— Você está igual. — disse a mulher, a tal Aurora. — Só… mais forte.
Sophia franziu o cenho. Nunca ouvira falar dessa mulher antes. E sua mãe nunca falava sobre o passado, principalmente com aquela voz tremida que agora tentava esconder.
— A vida ensina. Às vezes, na marra. — respondeu Marina.
A adolescente prendeu a respiração. Aquela não era a mãe que ela conhecia — tão firme, tão segura. Essa era uma Marina com os ombros abaixados, os olhos emocionados, vulnerável.
— Por que agora, Aurora?
— Porque agora eu posso. Porque agora eu quero. Porque… se eu não voltasse, ia passar o resto da vida me perguntando o que teria sido da gente.
O que teria sido da gente?
Sophia sentiu o coração acelerar.
— E você acha que a gente ainda existe?
— Eu acho que nunca deixamos de existir.
A cabeça de Sophia girava. Ela entendeu antes mesmo de ouvir o resto. Aquilo era mais do que uma amizade antiga. Era amor. Ou algo que já foi. Ou ainda podia ser.
Mas como sua mãe nunca tinha contado nada? Nunca tinha mencionado amar uma mulher?
— Você partiu no momento em que eu mais precisava de você.
— Eu fui levada. Você sabe disso.
— Eu sei. Mas saber não impede de doer.
Sophia encostou a testa na parede, em silêncio. Estava chocada, sim. Mas mais do que isso… estava emocionada. Havia algo tão verdadeiro naquela conversa, naquela troca de olhares que nem mesmo ela podia ver direito, mas podia sentir.
Sua mãe amava aquela mulher. Talvez ainda amasse. E talvez estivesse com medo de contar a verdade para ela, por achar que não entenderia.
Mas ela entendia. Ou pelo menos queria entender.
Quando ouviu Marina dizer “entra, vamos conversar”, Sophia voltou discretamente para a cozinha. Fingiu estar pegando um copo d’água, o rosto ainda pensativo.
Adriana olhou para ela com um sorrisinho de canto de boca. Não disse nada.
Sophia encarou o copo nas mãos, depois levantou o olhar.
— Ela... era importante pra minha mãe, né? — perguntou, quase num sussurro.
Adriana assentiu, suavemente.
— Era. Ainda é.
— Por que ninguém me contou?
— Às vezes, a gente guarda o amor em silêncio. Com medo. Com vergonha. Mas o amor não devia ser segredo.
Sophia ficou quieta. Depois sorriu, pequenino.
— Eu não entendi tudo ainda. Mas se ela fizer minha mãe sorrir de novo… acho que quero ajudar.
Adriana passou a mão carinhosamente nos cabelos da menina.
— Você tem o coração no lugar certo, minha querida. Isso já é mais do que muita gente por aí.
Sophia ficou ali, observando o corredor com o coração cheio de perguntas — mas também com uma nova certeza: faria o que fosse possível para apoiar sua mãe. Mesmo que ainda estivesse descobrindo o que tudo aquilo significava.
Porque amar... era bonito. E ela queria ver sua mãe feliz outra vez.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Zuleide Santana
História interessante 👏
2025-04-27
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