capitulo 2
A estrada era a mesma, mas tudo parecia diferente.
Aurora apertou o volante com força, os nós dos dedos brancos, enquanto seu carro avançava devagar pelas ruas estreitas de Santa Clara. O bairro, com suas árvores antigas e fachadas coloridas, guardava lembranças que insistiam em voltar como fantasmas — doces e dolorosos.
Passou pela antiga praça central, onde costumava andar de bicicleta com Marina e Adriana nas tardes de verão. As árvores pareciam menores agora. Ou talvez ela que tivesse crescido demais por dentro.
Suspirou.
— Não devia ter vindo — murmurou, mas o GPS insistia que o destino estava a poucos quarteirões.
Aurora havia ensaiado esse retorno por anos. Inventava desculpas para si mesma: o trabalho, a distância, o medo. Mas no fundo, sabia que era Marina. Sempre foi ela. O nome que nunca disse em voz alta desde o dia em que foi arrancada de sua vida, levada ao internato como se amar fosse um crime.
O carro parou em frente à casa.
Ainda era amarela. O jardim estava mais florido. Havia risos ao fundo, vozes infantis, e por um instante, Aurora achou que não conseguiria sair do carro. Seu coração parecia uma caixa de vidro prestes a estilhaçar.
Mas saiu.
Cada passo até o portão foi uma luta entre o passado e o presente. Tocou a campainha com a ponta dos dedos, e antes que pudesse pensar, a porta se abriu.
Era Adriana quem vinha descendo a varanda, um avental amarrado na cintura e um sorriso largo se formando no rosto.
— Meu Deus... — Adriana parou, surpresa. — Aurora?
Aurora assentiu, emocionada. E então, como se o tempo não tivesse passado, Adriana a puxou para um abraço apertado.
— Eu sabia que você voltaria um dia. — Adriana sussurrou em seu ouvido. — Mas nunca imaginei que seria hoje.
Aurora fechou os olhos por um momento, sentindo o calor da única pessoa que sempre soube de tudo.
— Ela está aqui? — perguntou, a voz baixa, trêmula.
Adriana não precisou perguntar quem. Apenas sorriu com os olhos.
— Está. Mas... muita coisa mudou, Rô.
— Eu também mudei — respondeu. — Mas tem coisas que a gente nunca esquece.
Adriana segurou sua mão com carinho.
— Entra. Marina vai querer ver você.
Aurora hesitou. Mas antes que pudesse decidir, uma risada soou ao longe. Passos leves. Voz de menina.
E então, uma figura surgiu no corredor. Cabelos loiros, olhos azuis, expressão curiosa.
Sophia.
Aurora a reconheceu no mesmo instante. Era como ver Patrícia outra vez. Mas havia algo de Marina ali também. No jeito de levantar as sobrancelhas, no sorriso cauteloso.
— Quem é você? — perguntou a menina, direta.
Aurora sorriu, engolindo a emoção.
— Uma velha amiga da sua mãe.
Sophia arqueou uma sobrancelha, desconfiada, antes de virar-se e gritar para dentro da casa:
— Mãe! Tem gente aqui querendo te ver!
O som dos passos de Marina foi como um trovão no peito de Aurora. E quando ela surgiu na sala, os olhos verdes se encontraram como se nenhum segundo tivesse passado desde o último beijo escondido atrás da escola.
Silêncio.
A respiração das duas parecia preencher todo o ambiente.
— Aurora... — Marina disse, num sussurro.
Aurora não sabia se sorria, se chorava ou se fugia.
Mas respondeu com a verdade:
— Eu voltei.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
A.Maysa
já estou amando a história 😍
2025-04-08
0
Zuleide Santana
Que tudo!!!!!
2025-04-27
0