O final do ano letivo se aproximava e a turma queria organizar uma confraternização. Como não sabiam se todos os colegas continuariam na mesma escola no próximo semestre, decidiram aproveitar a ocasião para uma despedida especial. Assim, quando o aniversário do garoto mais rico da sala coincidiu com esse período, a ideia surgiu naturalmente: fariam uma festa na fazenda da família dele.
O anfitrião fez questão de convidar toda a turma, sem exceção. O grupo de amigas de Clarissa não era tão próximo dele, mas os meninos com quem costumavam andar insistiram para que fossem. A primeira a aceitar foi Jade, que usou um argumento tão convincente que rapidamente convenceu Helena, e logo depois Elisa e Clarissa se juntaram ao plano.
No dia da festa, o cenário parecia saído de um filme. A chácara era enorme, cercada por colinas verdes e árvores imponentes. Tudo estava impecavelmente organizado, e os pais do aniversariante preparavam um churrasco farto, servindo os convidados sem parar. Havia também sorvete e picolé, o que deixou Clarissa especialmente animada — ela simplesmente amava sorvete e fez questão de aproveitar.
O início da tarde foi marcado por jogos no campo gramado. Primeiro, futebol. Depois, queimado e peteca. O sol brilhava forte, e as risadas ecoavam pelo ambiente, enquanto os adolescentes corriam de um lado para o outro, cheios de energia.
Quando o fim da tarde se aproximava, a maioria já estava exausta e satisfeita depois de tanto comer e brincar. Foi então que uma das meninas sugeriu uma brincadeira clássica: Verdade ou Consequência.
— Ah, não… Eu não quero brincar disso — murmurou Clarissa, torcendo o nariz.
Mas os colegas que haviam aceitado insistiram para que todos participassem, e logo Elisa se juntou à ideia, o que fez com que Clarissa não tivesse outra escolha.
Foi só naquele momento, ao olhar ao redor, que Clarissa percebeu que Caleb também estava lá. Seu coração deu um leve salto. Não o havia visto antes. Será que ele tinha chegado tarde ou apenas evitara as atividades mais movimentadas?
Os estudantes formaram um círculo no gramado, sentando-se no chão. O sol já começava a baixar, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Uma brisa fresca soprava suavemente, fazendo Clarissa abraçar os próprios joelhos.
A garrafa foi posicionada no centro e começou a girar. Girou, girou… até parar.
O coração de Clarissa acelerou quando percebeu que a ponta do vidro apontava diretamente para ela e Caleb.
Um burburinho percorreu o círculo. Risadinhas, olhares cúmplices e cochichos surgiram entre os colegas.
— Sem trapacear! — alguém anunciou. — Agora só pode escolher consequência!
Clarissa sentiu o rosto corar, mas manteve o olhar firme. Olhou para Caleb, que estava pálido como papel. Seus olhos castanhos estavam arregalados, e ele parecia prestes a desmaiar.
O desafio veio em seguida, carregado de uma excitação quase maldosa:
— Eu desafio você a beijar o Caleb.
O burburinho aumentou. Os colegas trocavam olhares animados, esperando a reação de Clarissa. Era um desafio extremo, uma provocação que, para eles, parecia impossível. Caleb era conhecido por sua timidez extrema, e todos pareciam apostar que ela não teria coragem de fazer aquilo. Já estavam, inclusive, pensando em qual castigo ela deveria cumprir por não completar o desafio.
Clarissa sentiu seu coração bater ainda mais rápido. Caleb, por sua vez, estava imóvel, encarando o chão, como se quisesse desaparecer.
Uma brisa suave ergueu as folhas secas do gramado, formando pequenos redemoinhos. No meio desse turbilhão efêmero, Caleb levantou o olhar. Seus olhos encontraram os de Clarissa, e, por um breve momento, ela sentiu algo diferente — algo que não conseguia explicar. Era como se ele quisesse dizer algo sem usar palavras.
Respirando fundo, Clarissa se levantou lentamente. Cada movimento parecia pesado, como se o tempo tivesse diminuído o ritmo.
Passou as mãos nas roupas, ajeitando a barra do vestido de forma inconsciente. Não queria assustá-lo, nem fazer com que se afastasse. Ele parecia tão frágil naquele instante que, por um momento, ela temeu que ele fugisse dali.
Deu um passo à frente. Caleb permaneceu imóvel.
Outro passo. Ainda nenhum movimento.
A essa altura, os outros já estavam de olhos arregalados, curiosos para saber o que aconteceria.
Clarissa fechou os olhos por um instante e respirou fundo. Quando os abriu novamente, reparou nas pequenas sardas salpicadas pelo nariz de Caleb. O jeito que o cabelo caía sobre seus olhos. O leve rubor que ainda tomava suas bochechas.
Foi quando aconteceu.
Ele hesitou por um momento, e então, como se tivesse finalmente reunido toda a coragem que possuía, inclinou o rosto na direção dela.
O toque dos lábios foi leve. Quase um sussurro. Um beijo tímido, desajeitado até, mas carregado de uma eletricidade que fez Clarissa sentir um arrepio subir por sua espinha.
O tempo pareceu parar.
O vento soprou mais forte, como se até a natureza estivesse reagindo àquele momento único.
Então, os gritos e aplausos explodiram ao redor, trazendo Clarissa de volta à realidade.
Ela se afastou rapidamente, o rosto queimando de vergonha, e voltou a se sentar no lugar onde estava antes. Os colegas riam e a provocavam, enquanto Elisa lhe dava pequenos empurrões com o ombro.
— Não acredito que o primeiro beijo da Clarissa foi com o Caleb! — exclamou Jade, rindo.
— E logo o garoto mais quieto da escola! — acrescentou Helena.
Clarissa cobriu o rosto com as mãos, rindo sem graça. Não conseguia processar direito o que tinha acabado de acontecer.
Olhou discretamente para Caleb e percebeu algo curioso.
Ele estava sorrindo.
Não um sorriso largo, zombeteiro, ou qualquer coisa parecida. Era um sorriso discreto, quase imperceptível, mas genuíno.
E, por alguma razão, aquilo fez Clarissa sentir algo quente dentro do peito.
Algo novo.
Algo que ela ainda não sabia nomear.
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Atualizado até capítulo 25
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