Capítulo 2

Conforme os dias passavam, Clarissa não conseguia parar de observar o comportamento de Caleb — ou, na verdade, a ausência de qualquer comportamento. Ele estava sempre quieto, imóvel, quase como se quisesse se tornar invisível. Até que, certo dia, ao se virar para conversar com sua amiga Helena, acabou notando que Caleb a observava. No instante em que percebeu que ela podia notar, ele desviou o olhar rapidamente, como se tivesse sido flagrado em algo proibido.

Naquele momento, Clarissa teve certeza de que Elisa estava certa ao dizer que já o havia visto olhando para ela. Isso a fez questionar os motivos dele. Será que Caleb queria se aproximar? Será que queria fazer amizade? Ele estava sempre sozinho, e, se aquele olhar significava algo, talvez tudo tivesse começado apenas por conta do simples oi que ela dissera no outro dia. Aquele pensamento a incomodou. Será que ninguém nunca se importava em cumprimentar o pobre garoto? Uma onda de pena a tomou.

Mais tarde, em um momento de intervalo entre as aulas, Clarissa sugeriu a Elisa que tentassem puxar assunto com Caleb.

— Você tem certeza? — Elisa hesitou. — E se ele só quiser ficar sozinho? Ele sempre passa essa impressão, como se não gostasse quando alguém tenta se aproximar.

— Mas ele estava olhando pra mim! Isso é um sinal de que queria conversar, só deve ser muito tímido.

— Tá, mas sobre o que a gente falaria? Não dá pra chegar do nada e só… começar a falar.

— Que tal comentarmos sobre o filme que assistimos na aula anterior?

Elisa deu de ombros, pensativa, mas acabou concordando. Quando o sinal do intervalo tocou, as duas se olharam com cumplicidade e foram em direção a Caleb.

A maioria dos alunos já tinha saído da sala, mas Clarissa e Elisa enrolaram, fingindo terminar de copiar o que estava no quadro. Quando perceberam que restavam poucos estudantes, levantaram-se, alongando os braços e se espreguiçando, enquanto disfarçadamente olhavam para Caleb. Ele estava sentado no fundo da sala, olhando para a janela, alheio a tudo.

Fingindo estar apenas conversando entre si, as duas foram se aproximando. Elisa até improvisou uma reclamação sobre suas costas doloridas, só para parecer mais natural.

O garoto só notou a presença delas quando já estavam bem perto. Ele se sobressaltou e arregalou os olhos, como se tivessem invadido seu pequeno mundo particular.

Clarissa sorriu e, sem hesitar, disse:

— Oi!

Caleb piscou algumas vezes, confuso, e murmurou:

— Oi…

A voz dele saiu tão baixa que Clarissa quase não ouviu. Ele abaixou a cabeça logo em seguida, evitando qualquer contato visual.

— Você quer conversar com a gente? — continuou Clarissa. — Podemos ir comprar um lanche ou ficar aqui mesmo, se você preferir.

Caleb não respondeu. Sua expressão se tornou ainda mais tensa, e suas bochechas coraram instantaneamente. Ele parecia paralisado, como se as palavras estivessem presas na garganta.

Clarissa e Elisa trocaram olhares constrangidos. Elisa suspirou e, sem dizer nada, puxou Clarissa pelo braço. As duas se afastaram, apressadas, tropeçando em algumas carteiras pelo caminho.

— Eu falei que não daria certo — disse Elisa, cruzando os braços ao saírem da sala.

— Que estranho… Será que ele tem algum distúrbio?

— Que nada! Ele só é muito tímido e introvertido. Tem gente que simplesmente não gosta de interagir.

— Mas por quê? Ele nem nos conhece… A gente poderia ser legais.

— Sei lá, questão de personalidade. Não esquenta com isso. Esquece e vamos lanchar.

Enquanto isso, Caleb permanecia sentado em sua carteira, imóvel, sua face ardendo como fogo. Seu rosto estava tão vermelho que parecia queimar. De cabeça baixa, ficou ali por um longo tempo, como se tivesse apertado um botão invisível e se desligado do mundo.

Clarissa não comentou mais nada sobre o assunto, mas pensou nisso durante todo o intervalo. Quando voltou para a sala depois da pausa, reparou que Caleb ainda não havia retornado. Dez minutos se passaram, e ele continuava ausente.

"Será que ele se escondeu em algum canto?", pensou Clarissa. "Ou inventou alguma desculpa para ir embora?"

A ideia a deixou inquieta. O que a incomodava mais era que ninguém parecia notar a ausência dele — nem os alunos, nem os professores. Quando mencionou isso a Elisa, recebeu um simples:

— Provavelmente é isso que ele quer. Passar despercebido.

Durante a aula de geografia, enquanto o professor falava sobre os estados brasileiros, Clarissa rabiscava aleatoriamente em seu caderno.

"Tímido", escreveu.

"Algum distúrbio?"

"Odeia a escola?"

Ela olhava para as palavras, tentando entender. O que fazia Caleb ser tão misterioso aos olhos dela?

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