Capítulo 3

Clarissa vivia com seu pai e seu irmão mais velho, Frederico, que tinha dezesseis anos. Os dois irmãos eram unidos, mas, como era de se esperar, sempre se desentendiam. Fred, como era chamado, adorava provocar a irmã mais nova, muitas vezes apenas para se divertir com suas reações irritadas.

O pai deles trabalhava muito e, por isso, Fred acabava assumindo a responsabilidade de cuidar de Clarissa em diversas ocasiões. Ela era uma garota disciplinada e cumpria suas obrigações sem reclamar, mas, ainda assim, sentia o peso das cobranças do pai. Ele parecia exigir que ela fosse perfeita em tudo, enquanto com Fred era mais ameno e tolerante. Essa diferença de tratamento não passava despercebida por Clarissa, que ficava frustrada e insatisfeita. No entanto, sempre que tentava protestar, suas queixas eram ignoradas.

Depois da escola, Clarissa tinha uma rotina estabelecida: varria a casa e, às vezes, lavava roupas antes de se sentar para fazer seus deveres. Fred, por outro lado, ficava encarregado do almoço. Ele não gostava de estudar, e o pai, percebendo isso, depositou toda a responsabilidade acadêmica da família sobre Clarissa. Ela até gostava de aprender e costumava tirar notas boas, mas, em vez de isso deixar seu pai satisfeito, apenas aumentava suas expectativas e exigências.

Certo dia, como de costume, Fred deveria buscá-la na escola. No entanto, ele se atrasou, deixando-a plantada na porta do colégio. Clarissa balançava a perna inquieta enquanto olhava para o céu azul-claro, observando as nuvens se movendo lentamente. Suspirou, frustrada.

Foi então que, ao desviar o olhar, notou Caleb parado a uma boa distância, aparentemente também esperando por alguém. Ele estava sozinho, com as mãos enfiadas nos bolsos e a cabeça levemente abaixada. Clarissa o observou de relance, mas rapidamente olhou para o outro lado, evitando ser pega no flagra.

Por alguns instantes, ficou hesitante. Mas, sem saber exatamente por quê, começou a se aproximar, dando passos pequenos e calculados. Parava por um momento, esperava, depois avançava mais um pouco, como se tentasse não assustá-lo. Quando já estava relativamente próxima, Caleb percebeu e ergueu os olhos. Os dois se olharam rapidamente antes de ele desviar o olhar de forma abrupta.

Ela notou que suas bochechas ficaram levemente avermelhadas.

— Esperando alguém para te buscar, assim como eu? — perguntou, tentando soar natural.

— Sim — ele respondeu, sem olhar diretamente para ela.

— Meu irmão sempre me busca, mas hoje se atrasou…

No momento em que ela tentava puxar mais conversa, Fred finalmente apareceu do outro lado da rua.

— Clarissa! Vamos logo! — chamou, antes mesmo de se aproximar.

Ela olhou para Caleb e sorriu educadamente.

— Nos vemos amanhã.

Caleb apenas assentiu, observando-a se afastar.

Fred, que nunca perdia a chance de atormentar a irmã, percebeu a cena e abriu um sorriso travesso.

— Estava aproveitando o tempo com seu namoradinho? — provocou.

Clarissa revirou os olhos.

— Deixa de besteira… Você não devia demorar tanto para me buscar.

— Mas pelo menos você não ficou sozinha — continuou Fred, rindo. — Até arranjou companhia.

— Era só um colega de classe, nada demais. Para de ser ridículo.

Mas Fred não se deu por satisfeito.

— Sei não, hein… Pelo visto, os garotos mais bonitos da escola não ligam para você, já que seu namoradinho é meio esquisito.

Dessa vez, a provocação atingiu Clarissa de um jeito diferente. Ela sentiu um calor subir pelo rosto e, antes que percebesse, sua voz saiu mais alta do que pretendia:

— Para com isso! Tudo o que você fala é besteira!

Sua explosão foi tão alta que algumas pessoas na rua se viraram para olhar. Fred, surpreendido, ficou em silêncio por um instante. Sem dizer mais nada, os dois atravessaram a rua movimentada.

Ao chegarem em casa, Clarissa subiu as escadas correndo e bateu a porta do quarto com força, como se quisesse deixar a discussão para trás.

Pensou que, dali em diante, Fred esqueceria o assunto. Mas, algumas horas depois, ele voltou com o tormento.

Clarissa estava sentada no sofá da sala, assistindo a um filme, quando Fred entrou casualmente e se jogou no outro lado do sofá. Ficou em silêncio por um tempo, como se estivesse apenas acompanhando o filme.

Então, sem aviso, soltou:

— Qual o nome do seu namoradinho?

Clarissa sentiu uma onda de raiva instantânea.

— Fred, me deixa em paz!

Ele gargalhou.

— Ah, então ele tem nome! Agora fiquei curioso…

— Você é insuportável!

Ela se levantou e saiu da sala, bufando de irritação. O que mais a incomodava era que nem sequer entendia por que ficava tão furiosa com isso.

Talvez fosse porque, no fundo, Fred tivesse tocado em um ponto sensível.

Talvez porque, pela primeira vez, Caleb não lhe parecia mais tão invisível.

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