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Roberta estava radiante quando chegou à casa de Lívia. Assim que entrou, já foi anunciando a novidade.

Roberta: Lívia, você não vai acreditar!

Lívia, que estava no sofá com uma xícara de café, levantou a sobrancelha.

O que foi agora? Não me diga que estourou o limite do cartão de crédito?

Roberta: Não, sua boba! — Riu, sentando ao lado dela.

São três! Três bebês!

Lívia arregalou os olhos, e cuspiu o café que tomava.

Lívia: Três?! Como assim?

Roberta: Sim! Descobrimos hoje no ultrassom. Dois são univitelinos e o terceiro é fraterno. O doutor disse que ele pode até ser de outro sexo. Dá pra acreditar?

Lívia: Minha nossa senhora das chupetas!

Como você vai dar conta de três bebês?

Roberta: Eu não sei, mas estou tão feliz! E eu ainda quero te levar comigo para comprar mais coisas pra eles.

Lívia: Sorte a deles de terem uma mãe tão amorosa como você.

Eu nesse momento estaria surtando estando grávida de um, quem dirá três.

Roberta: Você diz isso agora, mas quando tiver o seu primeiro filho...

Lívia: Jamais, Roberta.

De uma coisa você pode ter certeza, eu nunca vou mãe, não sirvo pra isso.

Não sei lidar com os filhos dos outros, quem dirá dos meus.

E vai por mim, é melhor para o meu próprio filho que eu nunca o tenha, eu mesma não ia me querer como mãe.

Roberta: Eu ainda tenho a esperança de você mudar de ideia no futuro, para nossos filhos brincarem juntos.

Lívia: Desencana, Roberta!

...•••...

Enquanto isso, Otávio chegava, ele havia dito a Roberta que iria à mecânica, mas precisava de um tempo sozinho para pensar.

Com as mãos nos bolsos, ele caminhava de um lado para o outro, a mente a mil. A notícia dos trigêmeos havia mexido com ele. Não era apenas a responsabilidade de ser pai de um bebê, mas de três.

Otávio: Não tem jeito...

Decidido, ele pegou duas malas no armário e começou a enchê-las apressadamente. Roupas, ferramentas, documentos, tudo o que achava que poderia precisar.

Otávio: Preciso encontrar uma oportunidade melhor. Algo que me permita dar a eles o que precisam — Dizia em voz baixa, como se justificasse para si mesmo.

Ele parou por um momento, olhando para uma foto sua com Roberta. Seus olhos encheram de lágrimas, mas ele os enxugou rapidamente.

Otávio: É por eles...

Ele abriu um caderno velho e apanhou uma caneta e começo a escrever uma carta para Roberta. Em seguida, com as malas prontas, ele deu uma última olhada na casa. Respirou fundo, pegou as chaves do carro e saiu, sem olhar para trás.

•••

Roberta chegou em casa no final da tarde, ainda sorrindo pela conversa animada com Lívia. Notou a porta aberta e estranhou.

Roberta: Otávio? Você já chegou? — Chamou notando o silêncio da casa.

Otávio? — Chamou mais alto enquanto subia as escadas.

Ela entrou no quarto e notou a cama desarrumada com algumas roupas jogadas. sobre o travesseiro, uma carta dobrada cuidadosamente. Seu coração disparou. Ela pegou a carta e, com as mãos trêmulas, começou a ler.

"Roberta,

Eu não sei como começar essa carta sem parecer um covarde, mas preciso te explicar. Descobrir que vamos ser pais de trigêmeos foi uma das mais assustadoras notícias da minha vida. Desde que ouvi o coraçãozinho deles bater, meu maior desejo tem sido dar tudo de bom para eles e para você. Mas a verdade é que, com a vida que temos agora, eu não consigo ver como isso será possível. Trabalhando na mecânica, mal consigo sustentar o básico para nós, muito menos para um bebê, imagine para três.

Por isso, tomei uma decisão que está me partindo o coração: preciso ir embora. Não é porque quero fugir de você ou dos nossos filhos, é porque preciso encontrar uma forma de garantir que eles tenham tudo o que merecem. Vou buscar novas oportunidades, novos caminhos, para que um dia eu possa voltar e cuidar de vocês como vocês merecem.

Por favor, não pense que não os amo. Amo vocês mais do que tudo no mundo, e é justamente por isso que estou fazendo isso. Cuide bem de você e dos nossos bebês, e nunca se esqueça do quanto vocês significam para mim. Um dia, espero que você possa me perdoar.

Com todo o amor, Otávio."

As lágrimas de Roberta caíam silenciosamente enquanto ela lia. Seus dedos apertavam o papel como se quisessem trazer Otávio de volta. Ela sentou na cama, tentando processar tudo, enquanto o vazio da casa parecia crescer ao seu redor.

Ela olhou para a porta, como se ele fosse entrar a qualquer momento, mas tudo o que restava era o som do seu próprio choro ecoando pela casa.

Ela pegou o celular e ligou pra ele, mais só dava desligado. Ela gritou tão alto que parecia que um terremoto estava balançando a casa. Sem saber o que fazer ela liga para a amiga. Ela segurava o celular com as mãos trêmulas, os olhos ainda vermelhos das lágrimas e cada toque parecia uma eternidade.

Roberta: Lívia? — Sua voz saiu fraca.

Lívia: Roberta? O que houve?

Roberta: Ele... ele foi embora, Lívia... o Otávio me deixou. — Começou a chorar novamente.

Lívia: O quê?! Como assim ele foi embora? Pra onde? O que aconteceu? — Perguntou, já se levantando do sofá.

Roberta: Ele deixou uma carta... disse que precisava encontrar uma forma de sustentar os bebês, mas ele se foi, Lívia! Ele me deixou aqui sozinha... — Soluçava do outro lado da linha.

Lívia: Calma! Eu estou indo agora para a sua casa, Roberta. Não saia daí, me espera — Respondeu, já pegando sua bolsa e as chaves.

Sem perder tempo, Lívia saiu correndo para fora de casa arrancando com o carro sem nem pôr o cinto. O trânsito parecia lento demais para sua urgência, e ela tamborilava os dedos no volante, tentando manter a calma. Pouco tempo depois, ela chegou à casa de Roberta, ela saiu do carro furiosa.

Lívia: Você me paga, Otávio! — Bate a porta com tanta força que o carro balançou.

Ela entrou e encontrou a amiga sentada na escada, com a carta de Otávio nas mãos, os olhos vermelhos de tanto chorar.

Eu estou aqui, Beta. — A abraçou.

Roberta: Por que ele fez isso, Lívia? Por que ele achou que fugir seria a solução? — Perguntou, com a voz cheia de dor, deitado a cabeça no ombro da amiga.

Lívia: Porque ele é um idiota, um moleque — Respondeu, indignada.

Roberta: Ele disse que ia buscar novas oportunidades, mas eu só precisava dele aqui... — Murmurou, com os olhos marejados.

Lívia pegou a carta das mãos dela e leu rapidamente, balançando a cabeça com irritação.

Lívia: Esse discurso de “vou fazer isso por vocês” é a desculpa mais egoísta que já ouvi! Ele está com medo, Roberta. É isso.

Roberta: Como vou cuidar dos meus filhos, sozinha.

Lívia: Mas você não está sozinha! — Segura o rosto dela.

Eu estou aqui! Eu vou te ajudar em tudo! Vocês não estão sozinhos!

Roberta a encarou, tentando encontrar forças nas palavras da amiga.

Roberta: Obrigada por vir, Lívia.

Eu não sei o que faria sem você.

Lívia sorriu, apertando a mão de Roberta.

Lívia: Você vai superar isso. E se precisar, eu vou atrás do Otávio, pego ele pela orelha e trago ele de volta.

Apesar de tudo, Roberta conseguiu soltar uma risada fraca. Lívia ficou ao seu lado pelo resto da tarde e noite, ajudando a organizar os pensamentos e reforçando que ela não enfrentaria nada sozinha.

Depois de horas ao lado de Lívia, Roberta finalmente parecia mais calma. Sentada na poltrona da sala, ela olhava para a carta novamente, como se buscasse entender as entrelinhas.

Roberta: Talvez... talvez ele só precise de tempo, Lívia — Disse pensativa.

Lívia: Tempo? — Ergueu as sobrancelhas.

Ele te deixou aqui, grávida dos filhos DELE e foi embora sem nem conversar!

Roberta: Eu sei, mas... talvez ele esteja tentando me proteger de alguma forma. Talvez ele ache que, se tivesse me contado antes, eu teria tentado impedir.

Lívia: Claro que teria! Porque ele deveria estar aqui com você, e não fugindo. — Balançou a cabeça, incrédula.

Roberta, eu sei que você ama ele, mas não pode ficar se justificando por algo que ele fez errado.

Roberta: Eu só... eu só quero acreditar que ele vai ligar. Que ele foi embora pensando que era o melhor para nós, mesmo que tenha feito da pior maneira possível.

Lívia cruzou os braços, observando a amiga.

Lívia: E se ele não ligar? Você está preparada para seguir sozinha?

Roberta abaixou os olhos, as mãos acariciando a barriga levemente arredondada.

Roberta: Eu não sei, Lívia. Mas eu preciso acreditar que ele vai ligar, que ele vai perceber que o lugar dele é aqui.

Lívia se aproximou, ajoelhando-se ao lado dela.

Lívia: E se ele não ligar, eu estarei aqui, Roberta. Você não está sozinha nessa, entendeu?

Roberta: Obrigada, amiga! — Sorriu.

Não sei o que faria sem você.

Lívia apertou a mão dela com firmeza, olhando nos seus olhos.

Lívia: Você vai dar conta. E enquanto ele não volta, nós vamos comprar mais coisas para esses bebês. E, dessa vez, eu prometo não confundir roupa de cachorro com roupa de bebê!

As duas riram, aliviando um pouco a tensão da noite. Mesmo com o coração apertado, Roberta começava a encontrar forças para seguir em frente, enquanto uma ponta de esperança ainda brilhava dentro dela.

...****************...

Foi no quinto mês que Roberta descobriu os gêneros dos bebês. Durante uma consulta, ela segurava a mão de Lívia, que a acompanhava para oferecer apoio.

Médico: São dois meninos e uma menina! — Anunciou com um sorriso.

Os olhos dela se encheram de lágrimas.

Roberta: Eu sabia! Eu sentia!

Lívia: Agora já podemos chamá-los pelos nomes! — Riu.

Roberta: Sim! Romeu, Ravi e Renata, meus filhos! Meus trigêmeos!

Médico: Meus parabéns!

...****************...

Roberta começou a ajudar dona Hilda com as costuras pouco depois de descobrir os gêneros dos bebês. A ideia inicial era aprender a confeccionar roupinhas para economizar, mas logo se tornou uma fonte de renda extra.

Sentada em uma cadeira próxima à janela, Roberta ajustava os tecidos com habilidade crescente. Dona Hilda, com a paciência de quem já viveu muito, orientava cada passo.

*Hilda*

Hilda: Esse ponto tá bom, Roberta. Agora, só não esqueça de reforçar as costuras nas bordas. Bebês puxam tudo com força! — Dizia, com um sorriso divertido.

A senhora é muito experiente, Dona Hilda. Quer ser a madrinha? — Brincava Roberta.

Hilda: Ah, minha filha! Eu não tive filhos, mais cuidei de muitos bebês ao longo da vida e garanto que conhecia mais eles do que os próprios pais.

Roberta: É triste saber que tem pais que simplesmente deixam os seus filhos jogados nas mãos da babá, sem dar o mínimo da atenção que eles precisam.

Hilda: É verdade, querida.

Sabe a razão pela qual eu não quis ter filhos? Por ver a tristeza no olhar daquelas crianças, elas tinham tudo, mais não tinham o que mais queriam que era o amor dos pais, que estavam ocupados, trabalhando dia e noite.

E não estamos falando de pessoas que realmente precisavam trabalhar para se sustentar, assim como nós.

Eram pessoas que tinham dinheiro pra viver vida de Reis e Rainhas, que poderiam facilmente parar de trabalhar.

...****************...

Enquanto isso, Lívia lidava com o caos organizado da empresa de Thales. A dinâmica entre os dois continuava eficiente e cheia de humor. Thales frequentemente dizia que não sabia como teria sucesso sem ela.

Thales: Lívia, você é insubstituível, mas eu juro que vou desmaiar com o tanto de coisa que você resolve antes de eu sequer perceber que era um problema. — Dizia, se recostando na cadeira.

Thales: Não desmaia, agora. Antes preciso que assine esses cheques. Depois juro que você pode desmaiar tranquilo por dois minutos pra não atrasar a agenda. — Brinca.

Mas o trabalho não era apenas números e relatórios. A esposa ciumenta de Thales, sempre inesperada, fazia questão de aparecer em momentos inconvenientes, lançando olhares desconfiados para Lívia.

Andressa: Thales, eu estourei o limite do cartão de crédito. Me empresta o seu, preciso renovar o meu guarda roupa. — Anunciava, entrando no escritório sem aviso prévio.

Thales: De novo? É a terceira vez só essa semana.

Andressa: E eu vou estourar pela quarta vez se for preciso! Onde já se viu, a esposa de um empresário andar desarrumada, como se eu fosse uma secretária qualquer. — Falou olhando para Lívia.

Thales: Andressa, quando você vai aprender a parar de tratar as pessoas pela classe social delas?

Andressa: E quando você vai parar de me repreender na frente dos seus empregados?

Mesmo com essas interrupções e as discussões diárias dos dois, Lívia mantinha o profissionalismo e ajudava Thales a organizar a empresa de maneira impecável.

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Comments

Ana Carolina Figueiredo

Ana Carolina Figueiredo

agora mas que nunca que ela irar precisa de você e você tá abandonado

2025-05-05

0

Rosaria TagoYokota

Rosaria TagoYokota

😂😂😂se ela soubesse que livia nao quer esse tipo de vida pra ela

2025-04-30

0

Ana Carolina Figueiredo

Ana Carolina Figueiredo

mentira que é fez isso deixar ela sozinha

2025-05-05

0

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