4

À noite, o ambiente estava silencioso na casa de Roberta e Otávio, ele chegou do trabalho e entrou no quarto de mansinho, encontrando Roberta deitada na cama, abraçada a um travesseiro e com o olhar distante. Ele parou por um momento na porta, como se estivesse reunindo coragem para falar.

Otávio: Beta, amor...

Ela ergueu os olhos para ele, mas não disse nada. Seu olhar estava carregado de mágoa, e isso fez ele sentir ainda mais o peso do que havia feito.

Otávio: Eu...— Suspirou profundamente.

Queria pedir desculpas. Eu fui um idiota.

Roberta: Foi mesmo.

Ele engoliu seco.

Otávio: Eu estava assustado, Roberta. Não é uma desculpa, eu sei, mas a notícia me pegou de surpresa. Eu fiquei com medo de não ser um bom pai, de não conseguir dar conta. Ainda mais com os problemas de dinheiro que temos e um bebê vai fazer a gente gastar o triplo.

Ela continuou em silêncio, e ele pegou algo do bolso do casaco.

Otávio: Hoje, quando eu estava indo pro trabalho, eu vi isso na vitrine de uma loja de bebê.

Ele estendeu para ela um pequeno body branco com a frase: "Mal posso esperar para conhecer meus papais".

Otávio: Eu quero que você saiba que, apesar do meu medo, eu já amo esse bebê. E amo você.

Roberta olhou para o body por alguns instantes, seus olhos se enchendo de lágrimas.

Roberta: Você realmente sente isso por nós?

Otávio: Sim! Você e nosso bebê são tudo para mim.

As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Roberta, e ela o abraçou com força, finalmente permitindo que o alívio tomasse conta de seu coração.

Roberta: Eu estava tão assustada... Tive medo de passar por isso sozinha.

Otávio: Você nunca estará sozinha.

•••

6 semanas se passaram. O tempo parecia voar desde que Roberta descobriu a sua gravidez. Com quase quatro meses de gestação, muita coisa havia mudado na rotina dela. Ela aproveitava sempre que podia para arrastar Lívia para ajudá-la a escolher coisas para o bebê. Mesmo com toda a relutância da amiga, sempre havia um momento que as duas acabavam rindo juntas.

Numa loja de departamentos, Lívia segurava uma roupinha vermelha e franzia a testa.

Lívia: Isso aqui é muito pequeno. Tem certeza que cabe num bebê? Parece mais coisa de boneca. — Mede na palma da mão.

Roberta ria enquanto escolhia um body.

Roberta: Lívia, é pra recém-nascido, claro que é pequeno. Agora deixa eu ver o que você pegou. — Observou mais de perto e caiu na gargalhada.

Lívia, isso é roupa de cachorro!

Ela arregalou os olhos e ficou vermelha.

Eu sabia! Isso explica por que tinha um osso desenhado na etiqueta. Quem diabos põe roupa de cachorro perto de roupa de gente?

Roberta se segurava na prateleira de tanto rir, enquanto a amiga cruzava os braços.

Lívia: Tá vendo? Eu sou péssima com essas coisas! Não sei nem diferenciar roupa de bebê e roupa de cachorro.

Roberta: Não, pelo contrário, você é ótima em me fazer rir, amiga. Isso já vale muito.

Enquanto isso, Otávio trabalhava duro na mecânica, ele dobrava os turnos e fazia reparos extras para juntar mais dinheiro. Ele sabia que o bebê traria despesas, e queria garantir que Roberta e a criança tivessem tudo o que precisassem.

...•••...

No consultório, Roberta estava animada, era sua segunda ultrassom, Otávio segurava sua mão enquanto o médico, um senhor já de idade com os cabelos branco como algodão, passava o aparelho pela barriga dela.

Médico: Bom, vamos dar uma olhada aqui...

Na tela, as imagens começaram a surgir. Roberta apertou a mão de Otávio, sorrindo de orelha a orelha.

Roberta: Olha como é incrível!

Otávio: Mais não dá pra ver nada, são só uns borrões.

Médico: No início é difícil ver mesmo, mais nas próximas você vai ver com mais clareza.

Roberta: Doutor, hoje vamos saber o sexo?

Médico: Não exatamente. Mas temos uma notícia ainda mais especial.

Otávio: Mais especial? — Perguntou, franzindo a testa.

Médico: Não estamos vendo apenas um bebê aqui... nem dois. São três! — Vira a tela.

Ela levou as mãos ao rosto, rindo e chorando ao mesmo tempo.

Roberta: Três?! Meu Deus!

Eu vou ser mãe de trigêmeos!

Otávio tentou sorrir, mas a tensão era visível em seus olhos.

Otávio: Três? Tem certeza, doutor?

Médico: Absoluta. São três corações batendo. Tudo indica que estão saudáveis e se desenvolvendo bem.

Roberta: Você ouviu isso, Otávio? Fomos abençoados com três bebês!

Otávio: Sim, fomos. — Tentou soar convincente.

Ele estava preocupado. As despesas, o espaço em casa, o trabalho dobrado... tudo isso pesava na sua mente. Mas ele decidiu não demonstrar isso a Roberta. Afinal, o sorriso dela fazia valer qualquer esforço.

Médico: Além disso, temos algo especial aqui. Dois dos bebês são univitelinos, ou seja, idênticos, e estão dividindo o mesmo saco gestacional. O terceiro bebê está em outro saco gestacional, o que significa que ele é fraterno, ou seja, geneticamente diferente dos outros dois.

Ela piscou algumas vezes, confusa, enquanto olhava para a tela.

Roberta: Doutor, pode explicar isso em palavras mais simples?

Médico: Claro. Univitelinos são gêmeos idênticos. Eles se formaram a partir do mesmo óvulo que se dividiu após ser fertilizado. Isso significa que eles terão o mesmo DNA, poderão ser muito parecidos fisicamente e até compartilhar algumas características únicas.

Otávio: E o terceiro?

Médico: O terceiro bebê é fraterno. Ele veio de um óvulo separado dos irmãos. Ele pode ser completamente diferente dos irmãos ao ponto de não parecerem trigêmeos ou pode acontecer o contrário.

Roberta: Então... é como se fossem dois "gêmeos" e um irmão juntos?

Médico: Exatamente! É um caso especial, mas comum em gestação de trigêmeos.

Otávio: E eles estão bem? Quero dizer, isso é seguro para a Roberta e para os bebês?

Médico: Até agora, tudo parece ótimo. Vamos acompanhar com mais frequência porque a presença dos gêmeos univitelinos exige mais atenção, já que eles compartilham a mesma placenta. Mas estou confiante de que tudo vai correr bem com o pré-natal adequado.

Roberta: Otávio, nós somos muito abençoados.

Otávio: Somos, sim, meu amor. Muito. — Tentou esconder a preocupação.

Enquanto Roberta irradiava felicidade, Otávio, embora orgulhoso, começava a sentir o peso das responsabilidades. Três bebês ao mesmo tempo...

Continuando na ultrassom...

Médico: Algo importante a saber é que os gêmeos univitelinos, por serem idênticos, terão o mesmo sexo. Já o gêmeo fraterno pode ser do mesmo sexo ou do sexo oposto.

Roberta: Então... podemos ter, por exemplo, dois meninos e uma menina?

Médico: Exatamente, Roberta. Ou o oposto, ou

três meninos, ou três meninas. Só saberemos com mais clareza em algumas semanas, mas as possibilidades estão aí.

Otávio: Doutor, e sobre o tamanho deles?

Eles estão todos crescendo bem?

Médico: Aqui está algo interessante. O gêmeo fraterno parece um pouco menor que os outros dois, o que é comum em casos como este. Provavelmente ele foi concebido em um momento ligeiramente posterior aos outros dois.

Roberta: Espera aí... Quer dizer que esse bebê "chegou atrasado"?

Médico: De certa forma, sim. Em uma gravidez de trigêmeos com gêmeos univitelinos e um fraterno, pode acontecer de o óvulo fraterno ser fertilizado pouco tempo depois. Isso não é incomum e, até agora, não vejo nada que indique problemas. Só precisamos acompanhar o desenvolvimento de perto.

Otávio: Três bebês... Eu mal consigo acreditar. — Passa a mão no rosto.

Roberta: Vai dar tudo certo, amor. A gente vai se ajustar, você vai ver.

Roberta saiu do consultório radiante, já imaginando como seria sua nova vida com três bebês. Otávio, no entanto, continuava a preocupação.

Roberta: Tem casos de gêmeos na sua família?

Otávio: Não, e na sua?

Roberta: Também não! Isso mostra que realmente somos abençoados.

3 bênçãos de uma vez só.

Otávio: Amor, eu tenho que ir trabalhar agora.

Roberta: E eu vou passar na casa da Lívia, quero contar a novidade.

Otávio: Nos vemos mais tarde.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***