CAPÍTULO 4 - CORRENTES INVISÍVEIS

— Você não se cansa de me envergonhar na frente dos meus amigos e sócios? Primeiro escolheu aquele curso que não serve para nada. Eu ao menos pensava que queria ser professora universitária, mas não, quer ser escritora. E agora ainda diz que não quer se casar? — meu pai diz, visivelmente se controlando, mas não pretendo ceder.

— O senhor quer que eu me case com o Enzo. Eu não quero. Eu não gosto dele! — digo com firmeza.

— Não preciso que goste dele, só preciso que se case. Será importante para os negócios. Os Hernandez são uma família com poder, e nós temos dinheiro. Se nos unirmos, todos sairão ganhando.

— Então é isso? Tudo se resume a negócios? E os meus sentimentos, senhor? — pergunto com um nó na garganta, olhando-o nos olhos.

— Por acaso está apaixonada por alguém? — ele rebate com outra pergunta.

— Na-não, senhor — minto, desviando o olhar.

— Então, qual o problema? — ele franze as sobrancelhas.

— E se eu gostar de alguém? O que devo fazer? — falo, esperando que ele entenda.

— Esquecê-lo. Eu só tive uma filha. Não tenho um herdeiro para assumir os meus negócios. Por isso, deve se casar com alguém da minha escolha e me dar um neto saudável. Eu permiti que você cursasse a faculdade que queria e perseguisse esse seu sonho inútil. Agora deve me retribuir o favor.

— Favor? Que favor? Eu entrei na faculdade por mérito próprio. Eu estudei, conquistei uma bolsa integral. Eu trabalho, pago o lugar onde moro e todas as minhas contas. Que favor você me fez todo esse tempo? — digo entre dentes, com os olhos cheios de lágrimas. Tenho vontade de chorar, mas não farei isso aqui.

— Eu te deixei viver. Te dei um sobrenome. Acha que seria alguém sem mim? Acha que teria chegado a algum lugar sozinha? Se você é algo hoje, é porque eu permiti — ele diz, cruel e implacável, ferindo-me por dentro.

Caminho até a saída do escritório e saio batendo a porta. Meus olhos encontram um par de saltos vermelhos. Subo o olhar e vejo meu algoz: a pessoa que assombra os meus pesadelos à noite — a esposa do meu pai.

— Parece que ainda não entendeu... Você não é ninguém — ela sussurra no meu ouvido. — Não tente ser alguém. Não queira ser especial. Se eu estalar os dedos, tudo que você mais ama desaparece — ela olha nos meus olhos, com o rosto a centímetros do meu. — Apenas faça o que lhe mandarem e seja o que quiserem que você seja. Não se atreva a desejar que seu pai te enxergue. Ele só ouve a mim. E enquanto eu quiser, você será apenas um estorvo para ele — seus olhos refletem pura maldade e rancor. Engulo a vontade de chorar quando as suas unhas se cravam na minha mandíbula.

A porta se abre e meu pai sai com uma expressão confusa.

— O que está acontecendo aqui?

A mulher que, segundos atrás, me ameaçava, põe as mãos no meu rosto num gesto fingido de carinho e diz com um sorriso falso:

— Estava olhando como a Rebecca está tão bonita... puxou a mãe, com certeza. Estava lhe dizendo agora como será uma excelente esposa, não é? — ela pede minha confirmação, mas apenas me viro, indo embora. Ainda a ouço dizer:

— Volte mais vezes, querida. Sentimos sua falta.

Hipócrita.

No caminho para casa, deixo as lágrimas — até então contidas — caírem livremente. Sinto minhas forças se esgotarem e meu corpo ceder. Antes de desabar, sou amparada por alguém. Essa sensação… tão familiar...

Alex. Já faz um ano... Por onde andou todo esse tempo?

Meus olhos se fecham. E a última coisa que vejo antes de perder a consciência é o seu lindo sorriso.

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Comments

Vera Lúcia Vieira

Vera Lúcia Vieira

que pessoas sem noção não fazem nada por ela e ainda se achando no direito de cobrar o que não fazem que horror

2025-04-04

1

Elaine Maria

Elaine Maria

Que incrível

2025-01-21

1

Ver todos

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