Cheguei atrasado novamente, como a feira de talentos estava próximo, a escola só estava trabalhando em função daquilo, todo o ambiente estava sendo enfeitado, havia decorações nas salas, nos corredores, o palco estava sendo arrumado para os pais e alunos verem, muitas pessoas haviam se inscrito, já haviam elegido o orador, era tudo muito barulhento e a minha cabeça não aguentava tanta coisa, e entrando na sala eu via os meus colegas arrastando de um lado a outros materiais para deixar tudo bonito.
Eu coloquei um tampão nas orelhas, e me ofereci para ajudar também, era uma zona, mas era legal, peguei algumas coisas e comecei a segui-los, em um momento da organização eu vi Maria Alice levando as cadeiras para o oratório com suas amigas, apesar delas estarem levando aquelas coisas, pensei em ser gentil com as garotas e finalmente poderia ser visto por ela, admirado por todas as garotas eu seria desejado e meus defeitos seriam excluídos eternamente no vácuo vazio da minha mente inquieta.
_ Posso ajudar vocês, está pesado isso! (Dei um sorriso e mostrei meu braço para elas).
_ Você nos ajudar? Olha o seu tamanho, nem exercícios faz, é um magricelo fracote, a gente leva sozinha, Maurício! (Ela disse olhando a minha aparência de cima para baixo, meu coração foi esmagado novamente pela Maria Alice).
_ Eu sou forte também, eu consigo pegar as coisas que você precisa, não precisa sentir medo que eu não consiga, eu te ajudo e protejo vocês! (Eu era forte também!).
_ Olha aqui nanico, eu já disse para você cair fora, não precisamos de um fracassado com a gente, não ouviu a Maria Alice? Você é um fracote magricela e retardado! (Bárbara riu de mim e as meninas riram de mim).
Eu era zombado por causa da minha maldita estatura minúscula, meus braços pálidos e magricelos, eu não tinha culpa, eu iria ficar forte também, Maria Alice iria me amar quando eu ficasse forte, e tentaria de tudo para crescer, e assim ela não erraria mais o meu nome, eu iria ser interessante como qualquer outro cara e nunca mais iria se desprezado pelas garotas.
Eu pensava nisso apertando os meus ouvidos em uma crise interminável de desespero, eu havia tomado todos os remédios que deveria? Porque a minha cabeça não parava de dizer o quanto idiota eu sou, por que sou tão inútil e tão pequeno? Qual era o meu problema, será que eu realmente sou retardado, ou só um cara preguiçoso e burro? Eu odiava tanto isso, que raiva que eu tinha de tudo.
_ O último jogo que você fez com a sua turma, percebi que sua desenvoltura está baixa! Mas como não posso te deixar fora do campeonato, irei te colocar em uma série mista, não vai ser divertido? Alguns garotos da sua turma irão jogar também, você vai jogar com o 5° e 6° ano...(Um absurdo isso).
_ Mais eu sou mais velho que eles, não é justo! Eles são pequenos, e não vai ter graça nenhuma jogar com uma equipe dessa! (Na verdade eles eram quase do meu tamanho).
_ Ah, Murilo, veja só, as crianças vão adorar ter um garoto mais velho com eles! Elas amam quando tem um "tio" para os auxiliar! (Talvez fosse divertido fazer isso, e ainda faria amigos, mesmo que fosse com crianças).
_ Eu não sou tão velho como você, mas vou dar o meu melhor, eu juro! (Saí um pouco desapontado por não me quererem no time da minha turma, mas pelo menos os menores iriam gostar de jogar comigo).
Foi dito e feito tudo menos o que previ, no futebol havia tanto barulho, gente gritando e xingando, aqueles pequenos seres tinham uns gritos finos que ensurdeciam. Eu olhava para um lado e para o outro, a bola corria e desesperado eu tentava chutar, mas ela ia mais rápido que eu, caí no meio daquele jogo, nem senti meu joelho indo junto com o chão. Correndo atrás daquela bola, no meio daquela loucura, ouvindo todo mundo gritando, alguns colegas rindo de mim por estar com a galera menor, e outros me xingando de idiota e filho da mãe, era algo horrível. Uma pressão enorme em mim, eu não aguentava ouvir aquilo e os meus pensamentos gritando junto com a galera, eu peguei a bola e chutei no gol e fiz um gol contra, os meninos do meu time ficaram tão irritados com a minha falha, que levei um esporo do professor de educação física, da galera que estava torcendo e do meu time, fiquei muito, mais muito mal com tudo aquilo, principalmente na reunião do time com o treinador.
_ Você está fora! A gente não quer ele, é um perna de pau, ele não corre, não pega a bola e quando pega ajuda o outro time, você é um idiota e por uma votação justa, não queremos você mais! (O capitão catarrento falava comigo e eu fiquei com vontade de mandar todo mundo tomar no orifício interno das profundezas de trás de suas cuecas).
_ Eu não queria chutar errado, eu me confundi e fiquei nervoso com aqueles gritos, prometo que farei melhor no outro jogo! (Eu queria jogar, e precisava, as minhas notas não eram boas em quase nenhuma matéria, e ninguém gostava de me dar oportunidades na educação física).
_ A gente não te quer! Você tá fora! (Eu tinha sido expulso).
_ Espera, o campeonato não acabou e ele não pode sair assim, se não o time vai ficar desfalcado! Você vai treinar para jogar melhor, e se eu ver que seu desempenho não melhorou, você está fora! O Murilo vai ficar no gol e o Josué vai ficar no lugar dele! (O treinador disse e eu sorri).
_ Mas o Josué é um goleiro bom, o Murilo vai deixar a gente ser goleado! (Eu iria ser o goleiro, eu defenderia tudo e mostraria meu empenho para a Maria Alice).
_ Eu já disse que ele vai ser o goleiro e se o Murilo não se esforçar, ele vai ser expulso do time e ficar de recuperação! (Ela iria amar quando eu pegasse a bola e a homenageasse).
_ Tomara que você saiba o que está fazendo! Não quero que a gente perca de novo, então presta atenção no lance! (Seria bom ter um lance com ela, e fazer amigos mesmos que sejam mais novos, e alguns mais altos que eu).
Eu joguei mais alguns jogos e infelizmente minhas distrações quase nos faziam perder, foi um custo eu ter foco, não queria ser taxado de preguiçoso, eu consegui por um estresse enorme ficar naquilo. Minha cabeça doía tanto e todos os dias, por causa dos meus remédios, quando o efeito queria terminar meu corpo pesava tão forte, nada me dava controle, eu só parava e ficava quieto por um longo tempo, me sentia muito desconfortável e mal, na maioria das vezes só estava eu e minha mente descontrolada em casa, eu dormia sozinho em casa, minha mãe quando folgava ficava às vezes comigo e outras com seu namorado, eu não ligava muito, mas às vezes me sentia muito pressionado com meus pensamentos dizendo que eu era uma péssima pessoa, por isso não conseguia me relacionar com ninguém, e sofria por ser um preguiçoso desajeitado.
Vendo meus braços pálidos e finos, resolvi que o meu problema é que sou fraco, eu iria fazer exercícios e ficar forte para impressionar todo mundo, e aí sim, eu seria notado por Maria Alice e ela finalmente sentiria segurança em mim e me desejaria.
Eu comecei a fazer exercícios, eu não dormia mesmo, então me exercitar não seria um problema, isso durou incríveis três minutos, meus braços não aguentavam mais o meu peso, eu caí no chão e fiquei estável, me deprimi naquela noite e acabei ficando no chão até o amanhecer, minha cabeça doía e eu me odiava.
_ O que está fazendo no chão? (Eu só a olhei e dei de ombros).
_ Vai se atrasar para aula, levanta daí e vai se arrumar! (Minha mãe não entendia que eu queria faltar de aula, eu odiava a escola).
_ Eu tou com dor de cabeça e não vou na aula! (Me levantando, fechei o rosto e me encolhi entre as pernas).
_ Toma o remédio e vai, você não vai ficar mais esperto ficando jogando videogame em casa! (Aff, odiava tanto isso).
Eu não me levantei por pura teimosia, e por teimosia a minha mãe tirou meu videogame e me tirou do quarto com uma bela chinelada para eu aprender a virar homem.
Fui para a escola chorando de raiva, chutei tudo que tinha no caminho e só parei de espumar quando vi a escola, todo lá iriam rir de mim novamente se me vissem chorando, eu desesperadamente enxuguei o rosto e me distrai com os carros que passavam na via, pois do outro lado tinha uma venda nova de sorvete. Era cedo demais para pedir um, então só fiquei olhando a loja fechada com as fotos e placas de sorvete, eu levaria Maria Alice pra tomar sorvete comigo, caso ela quisesse.
Entrei na escola e fiquei quieto a aula toda, não desenhei nem nada, minha cabeça brincava comigo o tempo todo, então fiquei cabisbaixo coçando meu braço para ver se eu me animasse um pouco, cocei tanto que aquilo começou a sangrar, minha pele pálida ficou vermelha e sangrando, mesmo assim eu continuava cutucando desesperadamente em busca de dopamina.
_ Dissem que ele é estrangeiro, vai entrar na nossa sala! (O recreio era um tédio, eu comi feito um troglodita, estava em busca de algo interessante para fazer).
_ Será que ele é bonito? Se for ele já é meu! (As meninas riram muito, e eu encarava meu braço que coçava muito, tentando não coçar eu o coçava como se não houvesse o amanhã).
_ Você que pensa, se ele for bonito a Maria Alice vai ficar com ele, você não vê que ela é uma piranha! (A Maria Alice tinha uma piranha bonita mesmo).
_ Ela que pensa que vai ficar com ele, eu arrebento ela! (Jussara parecia um Tonhão, eu ri e ela viu).
_ Do quê tá rindo, imbecil? Quer levar um mu... que nojo, olha isso, vai se lavar! (Fiquei sem graça, ela olhou meu braço vermelho pingando sangue na minha calça e minhas unhas cheias de pele e sangue).
Eu saí de lá e fui para o banheiro, lavei a minha calça e parecia que eu havia mijado nela, ficou horrível, eu tentei tirar a sujeira das minhas unhas, só que o atrito entre uma unha e outra me deixava nervoso, eu não conseguia limpar aquilo sem sentir repuxo.
Na sala eu olhava as unhas, era tão chato não ser normal, meu braço tava com um papel grudado no machucado, eu não queria ser estranho, mas parecia que quanto mais tentava me enturmar, pior a minha situação ficava, eu dei um riso para a Maria Alice e ela me mostrou o dedo me chamando de nojento, fiquei triste e olhei para frente, talvez ela não gostava de risos eu deveria ter ficado sério, ela gostaria de mim.
A encarei novamente com o rosto sério, e ela me encarou novamente e virou para frente cochichando algo, ela me encarou novamente e eu franzi o rosto, mostrando que posso protegê-la sempre, mas por algum motivo ela trocou de lugar e eu não podia mais ver o seu rosto me encarando.
Em casa me despi com aquela maldita mania de bater em tudo, meu corpo estava todo marcado, algumas lesões leves, outros arranhados e machucados estranhos, que não me lembrava onde havia feito. Respirei fundo e tomei um banho, porquê meu celular não parava de tocar escrito banho, era alguns alarmes programados para eu não esquecer de fazer nada, e nem me distrair com qualquer besteira.
Tomar banho foi difícil, estava machucado, eu parei de cocar o meu braço e cocei em outras partes do corpo, eu estava cheio de feridas. Depois que me limpei vi o post-its escrito para eu escovar os dentes ou comer, eu não havia comido ainda, saí do banheiro e me troquei e fui fazer alguma coisa, esquentei a comida e sentei no sofá olhando TV.
Era tudo tão distante da realidade, filmes falsos e sem graças, contam histórias irreais, pessoas não sabem amar ninguém, eu sou desprezado por não fazer nada, como que podiam dizer que tudo é um mar encantado, se na realidade só sofremos muito por não ser igual o padrão?
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Atualizado até capítulo 133
Comments
Da Silva Lopes Clinger
até o momento sem entender.Ele tem ansiedade Def de atenção depressão é hétero ou é gay ?
2025-01-27
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