Nova York, um ano antes…
Kyera Winter entrou na sala e viu sua tia Siena à beira de um colapso. Sentada no sofá, com os olhos perdidos no vazio e um copo de vinho pela metade na mão, ela parecia mais uma pintura de sofrimento do que uma pessoa real. Siena não notou a presença de Kyera, e o silêncio no ambiente era tão pesado que Kyera precisou respirar fundo antes de se aproximar.
— Tia Siena? A senhora está bem? – perguntou Kyera, cautelosa, quebrando o silêncio sufocante.
Siena se virou lentamente, e a dor em seu rosto deu lugar à surpresa. Seus olhos vermelhos e inchados a encararam, confusos, como se estivesse decidindo se ficava feliz ou irritada com a presença de Kyera. O coração de Kyera acelerou, mesmo sem saber o motivo de tanto abalo.
— Kyera, querida, você não deveria estar no trabalho? – murmurou Siena, a voz carregada de tristeza e frustração.
— O Phill decidiu fechar mais cedo hoje – respondeu Kyera, sem entender o que estava acontecendo. – Tia, o que está acontecendo? Por que você está assim?
Siena hesitou por um instante, até soltar um longo suspiro. A voz dela tremeu ao falar:
— Eu não consigo mais manter isso em segredo. – Lágrimas começaram a rolar por seu rosto. – Sua mãe, Kyera... Ela se foi.
As palavras atingiram Kyera como um soco no estômago. Ela mal conseguia acreditar no que estava ouvindo. A última vez que vira sua mãe, era apenas uma criança. Desde que se mudara para Nova York com sua tia, nunca mais tivera notícias de sua mãe ou de qualquer outro parente de Lone Ridge. Crescera sem contato, mas sempre esperou por um reencontro, por respostas que explicassem por que foi abandonada.
— Como assim, minha mãe se foi? – A voz de Kyera falhou, ainda incapaz de processar o que havia acabado de ouvir.
Siena assentiu devagar, as lágrimas escorrendo.
— Ela faleceu de câncer há dois meses, no hospital de Lone Ridge. Sofreu muito, e o tratamento não deu resultado. – explicou Siena, dando um pequeno gole no vinho antes de encarar Kyera com tristeza. – Mas saiba que, mesmo à distância, ela te amava muito. Ela lamentou profundamente não ter visto você durante todos esses anos.
Aquelas palavras martelaram na mente de Kyera. Dois meses. Dois meses e ela só estava sabendo agora?
— Minha mãe faleceu há dois meses e ninguém me contou? – A indignação explodiu dentro dela, junto com uma necessidade urgente de entender. – Por que você não me contou antes, tia?
O grito de Kyera encheu o ar, ecoando suas frustrações. Lágrimas quentes começaram a rolar por seu rosto. Siena parecia prestes a desmoronar.
— Kyera, não é tão simples assim. Havia razões, boas razões. – tentou justificar Siena, com a voz falhando miseravelmente.
Mas Kyera não conseguia mais controlar sua raiva. Tudo aquilo parecia uma injustiça esmagadora.
— Boas razões? Como você pode dizer isso? – Kyera afastou-se, magoada. – Minha mãe estava doente, faleceu, e ninguém me disse nada. O que foi que eu fiz para merecer esse silêncio? Por que todos me deixaram no escuro?
Siena se levantou e foi até Kyera. Seu rosto estava tão vermelho que Kyera não sabia dizer se era por raiva ou pelo efeito do vinho.
— Querida, sinto muito! Eu queria ter contado, mas só soube quando já era tarde demais. Quando ela ficou doente, já não havia mais o que fazer – disse Siena, passando a mão pelo rosto de Kyera.
— Eu poderia ter ido vê-la. – sussurrou Kyera, as lágrimas sufocando sua voz. – Eu mal me lembro do rosto dela, mas eu a amava.
— Eu sei, querida, eu sei. – respondeu Siena, abraçando Kyera como nunca fizera antes. Siena sempre foi excêntrica, divertida, mas Kyera nunca a vira chorar daquele jeito. Nunca a vira expressar tanto sentimento, exceto através de suas telas.
— Preciso ir até lá! – disse Kyera de repente, afastando-se. – Quero visitar o túmulo da minha mãe.
Siena franziu a testa, encarando Kyera com seus grandes olhos verdes, iguais aos dela.
— O que você disse?
— Eu disse que vou visitar o túmulo da minha mãe.
A expressão de Siena se transformou. Algo sombrio tomou conta do seu rosto.
— Você não vai!
— O quê? Claro que vou! Tenho o direito de saber mais sobre minha mãe, de visitar o túmulo dela.
De repente, Siena soltou um rosnado que fez Kyera recuar. Ela agarrou os braços de Kyera com força, sacudindo-a.
— Você não vai, Kyera! Eu proíbo você de ir à Lone Ridge! – gritou Siena, com uma mistura de medo e raiva nos olhos. – Você não faz ideia do que aconteceu, dos problemas que cercaram sua mãe, do motivo pelo qual ela te mandou para cá!
As lágrimas que Kyera tentava conter começaram a escorrer livremente. Ela não entendia o que sua tia estava tentando esconder.
— O que a senhora está escondendo de mim? Eu tenho o direito de saber!
Siena soltou um suspiro, mas não cedeu.
— Você está proibida de ir ao Texas, Kyera. Não resolverá nada você ir até lá. Sua mãe não queria que você fosse – disse Siena, soltando-a e afastando-se lentamente. – Respeite o desejo dela e fique longe daquela cidade. Faça jus ao sacrifício de Sara.
Os olhares delas se cruzaram em um confronto silencioso, até que Siena se virou abruptamente e saiu do apartamento, deixando Kyera sozinha com um turbilhão de emoções. Kyera precisava de respostas, precisava entender de que sacrifício sua tia falava e por que ela estava agindo daquela maneira. Mas, naquele momento, tudo o que sentia era a dor e a injustiça queimando dentro de si.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Patricia Gomes
/Drool//Drool//Drool/
2025-01-13
2
Fenix
/Angry//Angry//Angry/
2025-01-13
0
Pietra
Quanto mistério
2025-01-13
0