Já se olhou no espelho e se sentiu mal ao se ver? Não por se achar feio(a), mas como se de alguma forma estivesse diferente, fora do comum. Como se a imagem refletida não correspondesse exatamente ao que você sente por dentro, uma desconexão entre a sua aparência e quem você realmente é. Talvez uma sensação de estar preso(a) em um corpo que não parece seu, ou como se o reflexo não captasse toda a complexidade do que você sente? Essa estranheza pode nos fazer questionar o que realmente vemos e como nos percebemos no mundo. Bom, eu estava exatamente assim, criando paranoias enquanto me arrumava para sair. Um vestidinho rodado, de tecido leve e simples, com estampa floral, iria combinar para uma saída de domingo à noite? Ou seria um tanto quanto estranho para uma jovem de 18 anos? As dúvidas me rondavam a mente como nuvens pesadas antes de uma tempestade, me fazendo questionar cada detalhe. Talvez fosse algo bobo, mas naquele momento parecia crucial. Eu queria me sentir bonita, confortável, mas sem destoar. Afinal, será que a roupa refletia quem eu era ou o que esperavam que eu fosse? Meu corpo magro, com 58 kg, e uma altura de 1,75m. Embora minha amiga me considere alta, eu me vejo como alguém de estatura mediana, sem nada de extraordinário. Meus cabelos lisos e castanhos, que caiam até próximo à cintura, eram finos e tinham pouco volume. Eu não costumava fazer penteados elaborados; preferia deixá-los soltos, livres, como se a simplicidade fosse minha assinatura. No fundo, gostava de manter as coisas assim, sem muitos artifícios. Meus olhos grandes, de um castanho profundo, minha pele branca, meio que formavam um bom contraste. Minhas sobrancelhas até que combinam com o tom dos meus cabelos, emoldurando meu rosto de forma simples. Minha boca era pequena, mas bem desenhada, o que muitas vezes me fazia sentir que, embora eu não tivesse traços marcantes, havia uma certa harmonia no meu rosto. Cada detalhe parecia discreto, mas juntos contavam uma história que eu nem sempre conseguia enxergar no espelho.
Depois de algumas tentativas frustradas em tentar achar um look que me caísse bem, acabei optando pelo que sempre me fazia sentir segura: uma jaqueta jeans, um vestido simples e um tênis. Não era nada extravagante, mas tinha tudo a ver comigo. Era mais sobre como eu me sentia ao vestir aquilo, confortável na minha própria pele, sem forçar algo que eu não era. Pelo menos, dessa vez, eu não me importaria com o que as pessoas pudessem pensar. Talvez estivesse simples demais para uma saída de domingo à noite, mas não me importava. Era eu, de verdade, e isso bastava.
Tirei uma foto do queixo para baixo, quis dar uma atualizada em meu Instagram, pensei em tentar pelo menos uma vez ser “normal” e agir como as outras pessoas na sociedade.
"Se sentir bonita é complicado. Não é apenas sobre o que os outros veem, mas sobre o que você enxerga em si mesma. A beleza é subjetiva, fluida, e parece escapar entre os dedos quando mais precisamos dela. Às vezes, mesmo que tudo esteja 'certo'—roupa, cabelo, maquiagem — há uma desconexão interna, um vazio que impede de se sentir bem consigo mesma. É uma batalha silenciosa entre a expectativa e a realidade, entre o que nos é imposto como padrão e o que, no fundo, acreditamos ser. A beleza não é só sobre aparência, mas sobre o quanto conseguimos aceitar e amar quem somos. E isso, sim, é a parte mais difícil. Porque não se trata apenas de ajustar o exterior, mas de lidar com as vozes internas, com as inseguranças e comparações. Se sentir bonita é, muitas vezes, mais uma questão de autocompreensão e aceitação do que de agradar a quem está de fora."
Talvez, eu estivesse apenas me enganando quando se tratava de aceitar e amar quem eu sou. Sinceramente, eu abominava o que eu era, e não falo só dos meus aspectos físicos. Era um descontentamento que ia além da superfície, algo que tomava conta de mim de forma constante.
Após postar a foto, estava pronta para sair de casa, rezando para ser um dia legal, pelo menos só uma vez eu poderia começar o próximo dia, no trabalho da cafeteria, com o pé direito e um pouco mais de ânimo. Era só isso que eu queria: uma pequena vitória, algo que me fizesse sentir que, por mais simples que fosse, as coisas podiam melhorar.
Assim que entrei na sala de casa, minha mãe abriu um sorriso largo, daqueles que iluminam o ambiente. Eu sabia que ela não tinha ideia do que se passava dentro de mim. Ela não sabia do meu recente diagnóstico, nem que eu vinha fazendo minhas consultas com a psicóloga escondida, na cafeteria, como se aquilo fosse algo que eu precisasse disfarçar. Ela não imaginava o caos que existia por trás da minha expressão calma. Eu não queria destruir aquele sorriso com meus problemas. Era como se ela fosse o último fragmento de normalidade que me restava, e eu não conseguia reunir forças para expor o que se passava aqui dentro. Então, eu não me limitei a sorrir de volta.
Apesar de ser maior de idade, eu sempre contava a ela para onde ia, até mesmo o que fazer ou fazia.
— Eu vou sair com a Sam, mas volto antes das 01h, prometo — Avisei enquanto beijava o seu rosto.
— Está tudo bem, qualquer coisa me avisa, tá? — Mamãe me avisou, retribuindo o beijo em meu rosto.
— Na volta eu trago um doce pra você — Gritei para Camille que estava na sala assistindo desenhos.
Em pé no sofá olhando para minha direção, ela elogiou o meu look dizendo que eu estava linda. Dizem que crianças não mentem, tomara que estejam certos rs.
Assim que peguei o meu telefone na bolsa para checar as mensagens, outra notificação apareceu. Dessa vez, era o Erick que tinha curtido minha última foto. Senti um frio na barriga. Já era a segunda vez em pouco tempo que ele interagia comigo, e aquilo não parecia apenas uma coincidência. O fato de ser um engano já podia ser descartado, isso era certo. Mas o que será que ele estava tramando? — perguntei a mim mesma, tentando não me deixar levar por esperanças ou interpretações precipitadas.
Após alguns minutos, quando encontrei a Sam em frente à casa dela, uma maré de curiosidade me envolveu. Pensei em perguntar como foi o beijo dela com o Enrico, se ela de fato havia gostado. Mas, ao mesmo tempo, sentia que precisava aproveitar aquele momento para falar sobre o que estava acontecendo com o Erick.
— E então, como foi beijar o Stuart? — Perguntei diretamente, sem rodeios.
Senti os olhos de Sam brilharem um pouco mais do que o normal.
— Foi bom, diferente, sofisticado, gostoso e envolvente — tirando o fato de que ele estava doido para agarrar a minha bunda. (senti ele excitado) — ela murmurou em meu ouvido essa parte.
A situação me constrangeu, mas ao mesmo tempo me fez rir. O enrico tinha 20 anos, exibido e rodeado por outras garotas, com certeza ele teria esse tipo de atitude. Mas também, a Sam era uma mulher deslumbrante.
— E você, o que falou a respeito das investidas dele? — Perguntei.
— Hm... Mandei ir parando que eu não era as patricinhas dele, em seguida retirei as mãos do meu popô.
— Se ele pensa que me ganha assim, fácil? — Tá sonhando — Nem pitado de ouro. (ouro é o que mais tinha nos acessórios dele) Sam ironizou.
A Sam era sexualmente ativa, ela já tinha passado por alguns relacionamentos que não deram certo, e por isso se arriscava em pequenos casos, evitando se envolver de verdade. Era um padrão que parecia funcionar para ela, mas para mim, era um tanto quanto diferente. Eu nunca tinha tido a minha primeira vez e, na verdade, nem mesmo um relacionamento sério. Apenas beijei algumas vezes um garoto que conheci no verão do ensino secundário, mas ele teve que ir embora para a Austrália, e isso parecia ter sido um capítulo fechado antes mesmo de começar.
— E você com o Erick? — Pensa em ficar? Sam me perguntou.
Arregalei os olhos, surpresa com a pergunta. Era uma questão que nem sequer havia passado pela minha cabeça. Não havia nada entre Erick e eu, e a ideia de que algo pudesse acontecer parecia absurda. Ele jamais iria querer algo com alguém como eu, e eu definitivamente não tinha coragem de tentar algo com alguém como ele.
— Ah, não sei... — respondi, tentando parecer despreocupada, mas a insegurança começava a me consumir. — Não temos essa vibe. Ele é... bem, ele é o Erick. E eu sou só eu. — Expliquei a Sam.
— Virgem — Ele é virgem, amiga — Sam disse eufórica, parecia estar feliz com isso.
A Sam se lembrou do jogo da garrafa em que o Erick diz ser virgem. Embora por um lado eu acreditasse, mas será que é normal um garoto rico, inteligente e bonito como ele nunca ter transado? Afinal, acredito que o sexo não muda nada na vida das pessoas. São apenas conexões momentâneas, alguns por amor, outros por simples prazer.
— Vamos que eu quero chegar ainda cedo — avisei a Sam na tentativa de cortar aquele assunto.
Sam grudou em meus braços, e assim fomos, sem rumo, eu nem sabia para onde estávamos indo, apenas acompanhei.
Depois de um tempinho caminhando pelas ruas de Nova Iorque sem um rumo aparente, Sam e eu nos sentamos em um banquinho em Bryant Park. O parque era um lugar agitado, mas ao mesmo tempo calmo e seguro, um refúgio no meio do frenesi da cidade. O cheiro de pipoca e doces flutuava no ar, e a vibração animada ao nosso redor era contagiante.
A Sam escolheu algodão doce, suas mãos se sujavam levemente com o açúcar, enquanto eu optei por uma maçã do amor, a caramelizada, era a minha preferida. Um pouco de doce em um final de domingo não fazia mal e era o complemento perfeito para a nossa conversa.
— Então, você acha que tem alguma chance de algo acontecer entre você e o Erick? — Sam perguntou novamente, mordendo um pedaço do seu algodão doce.
— Eu não sei, Sam. É complicado. Ele é tão diferente de mim. — Respondi honesta.
— Diferente como? — por que ele é milionário? — você é bonita, uma boa filha, uma boa amiga — o fato de você não ter dinheiro não faz com que ele não tenha interesse em você, você não acha?
Sam tocou em um ponto importante. Era verdade que a diferença financeira era apenas uma parte da equação. Mas, no fundo, eu sabia que a questão ia além disso. Era sobre como eu me via em relação a ele e ao mundo ao nosso redor. A insegurança que me acompanhava era como uma sombra, e não se resumia apenas à questão do dinheiro.
— Você transaria com ele? — Sam me perguntou, dessa vez extrapolando.
— OBVIO QUE NÃO — JAMAIS! GRITEI.
A conversa já estava tomando caminhos que não eram para serem percorridos. Mas, eu precisava amadurecer mais esse meu lado e ter a mente mais aberta pra algumas situações, embora fossem assim tão intimas.
— Na verdade... não me vejo tendo a minha primeira vez com ele, seria um tanto quanto desajustado, não acha? — Completei a minha resposta e ao mesmo tempo perguntei a ela.
— Não sei, amiga. — Ele é novo e tímido. Mas ao mesmo tempo ele é alto, bonito, sensual. — Se escavar direitinho consegue achar petróleo — Sam disse. (MUITOS ORGASMOS) — Ela brincou.
Eu ri com Sam, sem conseguir segurar. Era tão típico dela levar a conversa para um lugar inesperado, e embora o que ela disse fosse absurdo, o jeito descontraído com que ela falava sempre me fazia relaxar um pouco.
— Sam, você é inacreditável — falei, ainda rindo. — "Petróleo"? Essa foi nova pra mim. A verdade é que, por mais que o assunto fosse constrangedor, conversar com ela deixava tudo mais leve. Mesmo que eu não me visse tendo minha primeira vez com o Erick, só o fato de especular sobre isso já me parecia surreal. E pensar em orgasmos nesse contexto... bem, era o tipo de coisa que eu só falaria com ela mesmo.
Sam deu de ombros, com aquele sorriso de quem sabe o impacto de suas palavras. — Ué, é só uma possibilidade. Nunca se sabe, né? — Ela falou.
Eu balancei a cabeça, ainda sorrindo, e olhei ao redor, percebendo as poucas pessoas que tinham nos encarado. Mas aquele era o tipo de momento que só nós duas entendíamos. Apesar de tudo, eu me sentia mais leve.
Peguei o meu celular na minha bolsa, tirei uma foto da minha maçã, que ainda não tinha terminado, e em seguida, aproximei o meu rosto ao da Sam para tirar uma selfie e postei em meu Instagram.
"Os doces em boa companhia revelam os sabores mais encantadores que a vida nos proporciona."
Depois de conversar bastante, jogar ideias fora e comer doces, estava ficando tarde, já se passava um pouco mais da meia noite e decidimos que era hora de voltar para casa. Chamamos um taxi e assim encerramos a noite de domingo.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Tânia Campos
A história é maravilhosa, é suave,
Amando a amizade da Sam com ela,
Sam é verdadeira, é extrovertida, levanta o astral da amiga.
E isso é muito bom!!!
2024-10-30
2
Tânia Campos
Vai acontecer naturalmente, sem pressão!!!
2024-10-30
1
Tânia Campos
Pois vai acontecer tudo com Erick,
Tenho certeza!!!
🤣🤣🤣🤣🤣🤣
2024-10-30
1