STALKER?

Alicia Narrando

Os raios do sol invadiam o meu quarto, filtrando-se pelas cortinas e refletindo sobre o meu rosto, fazendo-me despertar às 7 da manhã. A noite havia passado tão depressa, como se eu tivesse mergulhado em um sono profundo por apenas alguns segundos. No entanto, aquele breve intervalo foi o suficiente para restaurar a mente e o corpo, deixando-me mais leve. Mesmo que ainda fosse cedo, levantei-me com a determinação de organizar algumas roupas para lavar. Era domingo, um dia em que eu tinha tempo de sobra para cuidar das pequenas tarefas que garantiam a organização do meu espaço.

Enquanto separava as peças, um pensamento me atravessou: como a rotina simples podia ser reconfortante. O cheiro do café fresco, que começava a se espalhar pela casa, envolvia o ar com uma promessa de aconchego e familiaridade. Decidi que, antes de iniciar a lavagem, me permitiria preparar uma xícara.

Com a cafeteira borbulhando ao fundo, peguei meu telefone, ansiosa para mandar uma mensagem para Samantha. Ela havia ficado no parque se divertindo, enquanto eu voltei mais cedo para casa, e era meu dever saber se ela havia chegado bem e se cumpriu a promessa de não beber, embora a festança no parque estivesse cheia de bebidas tentadoras. No momento em que toquei na tela, uma notificação repentina me fez parar: “Erick Stuart seguiu você”.

Senti um frio na barriga. Meu coração acelerou: seria um engano? Por que um Stuart teria me seguido? Meu Instagram era simples, uma coleção discreta de pensamentos e reflexões que raramente atraíam a atenção de alguém. Tomara pela curiosidade e apreensão, abri o perfil dele. 600 mil seguidores, apenas quatorze fotos casuais — claramente, Erick não era do tipo que se esbaldava na ostentação.

Metade de suas fotos mostrava-o em atividades escolares e, em uma única imagem, vi-o posando ao lado de uma medalha, um sorriso orgulhoso estampado no rosto. Lembrei-me de tê-lo visto em algumas entrevistas, sempre elogiado como o primeiro aluno do Colégio Prestige, um prodígio que parecia ter aprovação em todas as matérias e atividades extracurriculares. “Deve ter me seguido por engano”, pensei, jogando meu telefone de lado e prosseguindo com o preparo do meu café. Havia inúmeras coisas a serem feitas ainda, e eu não queria que a curiosidade roubasse o meu tempo valioso.

Ainda era cedo, e eu hesitei, ponderando se deveria ligar para a Sam naquele momento ou se deixaria o tempo rolar um pouco mais antes de fazer uma videochamada. A ideia de interromper seu descanso me incomodava. Sabia que ela havia se divertido no parque até tarde, e a última coisa que queria era perturbá-la com minha ansiedade.

Decidi pela segunda opção, convencida de que ela merecia um pouco mais de paz antes que eu invadisse seu mundo com as minhas preocupações. Enquanto o café gotejava, pensei em quantas vezes já havia feito isso. Nossas conversas sempre fluíam melhor quando eu a deixava relaxar um pouco antes de tocar em assuntos mais sérios. A amizade que construímos era feita de momentos compartilhados, mas também de silêncios respeitosos.

A Sam é linda. Não porque é a minha amiga, mas ela esbanjava muita beleza em apenas 1,67m. Os cabelos cacheados volumosos combinavam perfeitamente com o tom de pele negro, destacando-a por onde passava. Embora não fosse rica, a Sam tinha uma condição financeira bem melhor do que a minha, sua mãe casou-se com um grande empresário no ramo de agricultura, o que custeava a sua faculdade de Administração.

Eu tenho um desejo de começar a faculdade, mas eu não sabia ao certo em que me encaixar. Talvez, apenas talvez, eu gostasse de medicina, mas era uma realidade muito distante. Não sobrava tanto tempo para estudar e tentar conseguir uma bolsa de estudos nesse curso, mas também não tinha um bom financeiro para custear a faculdade. Então, eu era feliz com o pouco que pudesse alcançar e trabalhar na cafeteria me ajudava a pagar as contas de casa, sentia que era o suficiente.

Depois do café reforçado, das energias ainda mais restaurada, prossegui com a minha obrigação e dei início à lavagem das minhas roupas. O tempo pareceu voar ainda mais de pressa quanto à minha noite de sono, passavam-se um pouco mais das 9 da manhã e foi aí então que fui surpreendida, novamente pra variar. O Erick Stuart havia curtido o meu último post no Instagram.

Por alguns segundos, pensei que ele pudesse ser um stalker, mas por outro lado, pensei na liberdade dada a isso, já que o meu perfil era totalmente público. Como forma de retribuição, abri sua foto e dei like, então estaríamos sendo mútuos.

Fiquei pensando na curiosidade que Erick havia despertado em mim. Nunca havia me importado tanto com quem curtia minhas postagens, mas a presença dele parecia mudar tudo. Era como se ele estivesse projetando uma sombra sobre a minha rotina tranquila e previsível, algo que eu não estava certa se queria ou não.

Após o último like trocado, voltei ao meu trabalho. Minhas mãos estavam ocupadas, mas meus pensamentos viajavam para longe. Que tipo de conversa eu poderia ter com alguém como Erick? O garoto prodígio e filho do chefe da minha mãe, tão longe do meu mundo de simplicidade.

A máquina de lavar começou a fazer seu barulho característico, e percebi que o tempo estava se esgotando. Eu precisava me arrumar e ir ao mercado antes que fechasse, mas a ideia de me encontrar com pessoas e enfrentar o mundo exterior me deixava nervosa. O que eu diria a Sam sobre Erick? E se ela soubesse que eu estava pensando nele?

Decidi que não podia permitir que essas preocupações me dominassem. Sacudi a cabeça, tentando afastar os pensamentos, e me vesti rapidamente, optando por uma blusa confortável e jeans surrados. Não era um encontro, era apenas uma ida ao mercado, mas o nervosismo estava lá, como um eco insistente.

Enquanto caminhava, o ar fresco da manhã batia no meu rosto, trazendo uma sensação de renovação. Fui lembrada de que o mundo estava cheio de possibilidades, mesmo que eu estivesse presa em uma rotina confortável. A ideia de me aventurar mais, talvez me inscrever em um curso de medicina ou qualquer outra coisa que me interessasse, piscava na minha mente como uma luz distante.

Assim que eu fiz a feira e estava com as sacolas nas mãos, decidi que era o momento de ligar para a Sam. Deslizei meu dedo em meus contatos favoritos, então fiz a ligação para ela. A Sam atendeu no terceiro chamado, pelo horário, era quase onze da manhã, ela com certeza já havia se levantado.

– Bom dia, amiga! – A Sam disse com uma voz de sono — Você madrugou, né? — Perguntou, antes mesmo de eu dizer qualquer palavra.

Soltei uma leve risada do outro lado da linha.

— Bom dia! — Entusiasmada, respondi a ela. — Hoje é somente mais um daquele dia que eu acordo até bem, mas nunca se sabe como ele vai terminar — falei em um tom sarcástico, mas quem dera se a Samantha soubesse que é realmente dessa forma em que eu vivo, sem expectativa alguma se vai terminar bem ou não.

— E como foi ontem? — Que horas você voltou para casa? — Está tudo bem? — Perguntei a ela.

Senti a respiração da Samantha mudar repentinamente.

— Ontem foi bom, seria melhor se você ainda estivesse lá, mas eu pude aproveitar — Eu estou bem, rolou um beijo indevido, mas apenas isso mesmo — Sam falou.

— Um beijo? Me conta — falei, sem fingir surpresa. Samantha adorava beijar e era obvio que ela não sairia de um lugar como aquele no 0x0.

“Então, o jogo rolou depois que você e o Erick saíram, fui desafiada a beijar o Enrico, a gente se beijou e foi muito legal, tirando a parte em que mais tarde ele queria um pouco mais que isso.”

— O quê? — Você beijou o arrogante do Enrico? — Perguntei, e dessa vez foi uma surpresa e tanto. Minha amiga e um Stuart? Ela merece algo muito melhor.

— Sim, a gente se beijou — E foi um dos melhores beijos da minha vida.

Naquele momento, fiquei feliz pela Sam, como sempre fico em qualquer conquista da vida dela. Eu sorri, mas uma parte de mim estava se perguntando sobre a escolha dela. O que havia de tão atraente em alguém como Enrico? A fama? O charme superficial? No fundo, eu a conhecia bem o suficiente para saber que Samantha não se deixava levar por qualquer um, mas a ideia de que ela tinha se envolvido com um Stuart me incomodava.

 

— Verdade! — eu disse, tentando manter um tom leve. — Mas ainda assim, você merece algo mais do que um "beijo indevido". E se ele tentar se meter com você de novo?

Ela riu, a confiança na voz dela me tranquilizou. — Eu sei me cuidar, amiga. Além disso, tenho um novo plano: vou me concentrar na faculdade e nos meus projetos. O Enrico foi só um desvio. E você, como andam as coisas? Alguma novidade?

Tive que pensar por um momento. As coisas estavam mudando, e eu não tinha certeza se devia contar a Sam sobre Erick, especialmente considerando que ele me seguiu por engano. Mas eu não podia esconder isso dela. Afinal, éramos melhores amigas.

— Na verdade, algo meio estranho aconteceu. Um certo Erick Stuart começou a me seguir no Instagram, e ele curtiu meu último post. — Abri o jogo e contei para ela.

— O Erick Stuart? — Ela quase gritou. — O irmão do Enrico? Você está brincando!

— Eu queria que estivesse. Não sei o que ele quer de mim. É estranho, né? Ele é tão... diferente.

— Diferente como? — a curiosidade dela me fez sorrir.

— Não sei, Sam. Ele é famoso, rico, inteligente, e eu sou só eu. Não sei o que poderia interessá-lo.

— Ah, não fala isso! Se ele te seguiu, é porque algo na sua vibe chamou a atenção dele — disse ela. — Você é incrível do seu jeito, e talvez você seja exatamente o que ele precisa.

Essa ideia ressoou em mim, mas eu não conseguia me convencer. A insegurança ainda estava presente, como uma sombra. Eu tentei afastá-la, mas não era tão fácil. O que eu realmente sabia sobre Erick? E se ele estivesse apenas curioso, ou pior, brincando?

— Vou tentar não pensar muito nisso — respondi, com um suspiro. — O que você está fazendo agora? — Perguntei.

Samantha disse que estava organizando umas atividades da faculdade e que talvez pensasse em sair um pouco à noite.

—  O que acha de ir comigo? — ela sugeriu.

Nem sempre eu sentia o desejo de sair de casa. Quando eu pensava em fazer isso, tudo parecia fugir do meu controle, me trazendo uma enorme ansiedade e pânico. As paredes do meu quarto eram um abrigo familiar, e a ideia de deixá-las para enfrentar o mundo me fazia hesitar. O coração acelerado, a respiração mais curta, como se estivesse prestes a mergulhar em um abismo profundo.

Olhei para o horizonte, observando a luz do sol dançando nas folhas das árvores, e por um momento, a beleza do dia parecia me chamar. Mas a pressão dentro de mim era palpável, como se uma força invisível me puxasse para trás. As vozes da multidão, o barulho da música ao vivo, ainda mais causava um certo arrepio.

 

Parei um momento até conseguir dar a resposta a ela.

— Talvez eu dê uma saidinha contigo — Falei sem muita empolgação.

— Então tudo bem — Te encontro às 19h — Um beijo e cuidado, agora vou me organizar aqui — Sam se despediu.

Após pensar um momento novamente, decidi que, se eu me sentisse mal, poderia simplesmente voltar. Era uma estratégia. Se eu mantivesse a ideia de que tinha controle sobre a situação, talvez a ansiedade não se tornasse tão opressora. Com as sacolas de compras em mãos e o coração um pouco mais tranquilo, fui para casa, determinada a enfrentar o mundo.

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Comments

Sabrina Vilas Boas

Sabrina Vilas Boas

meu Deus alicia é mto besta fica só se questionando, ele quer vc fia cai de boca nele logo

2024-10-23

0

Ana Luísa Menezes

Ana Luísa Menezes

Estava reelendo, erick quer mto vc, besta! KKKk pega logo, affê.

2024-10-22

0

Ana Luísa Menezes

Ana Luísa Menezes

Ele é influenciador KKKKKKKKKK. Acho que eles vão ter uma quimica boa, eu to curtindo isso do garoto ser mais na dele, menos se achando.

2024-10-22

1

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