O caminho de volta à vila de Seradun parecia mais longo do que na noite anterior. A clareira estava atrás dela, mas as palavras do demônio ecoavam na mente de Alana como um feitiço sussurrado. Um espírito maligno, invisível para os aldeões, mas não para ele. Cada fibra de seu ser queria rejeitar a ideia, e ainda assim, ela não podia ignorar os detalhes estranhos dos ataques. Eles não eram típicos de demônios. Algo estava errado, mas confiar em um demônio era insensato, uma fraqueza que ela não podia se permitir.
Quando a vila surgiu à vista, banhada pela luz dourada do amanhecer, Alana apertou o passo. Precisava de respostas, e só conseguiria obtê-las interrogando mais profundamente os aldeões. Assim que atravessou a praça central, as portas das casas começaram a ranger, e os rostos cautelosos dos moradores surgiram. Ela notou um grupo de mulheres sussurrando, olhando na sua direção, mas logo desviando o olhar quando perceberam que Alana as observava.
A caçadora caminhou até a taverna, onde o homem que a recebera na noite anterior estaria. Entrando no ambiente pouco iluminado, viu que ele estava no mesmo lugar, agora conversando com outros dois aldeões. Seus olhos se ergueram imediatamente ao vê-la entrar.
— Você voltou cedo, — disse ele, tentando esconder o nervosismo na voz.
Alana caminhou até ele, puxando uma cadeira e sentando-se bruscamente, sem responder à saudação.
— Quero saber mais sobre os ataques, — sua voz era baixa, mas carregava uma determinação cortante. — Quem são as testemunhas? Quem viu o demônio com os próprios olhos?
Os dois homens ao lado do taverneiro trocaram olhares, mas o mais velho deles respondeu primeiro.
— Ninguém viu claramente, senhora, — ele começou, a voz trêmula. — Nós ouvimos os gritos à distância... e depois... — Ele engoliu em seco, claramente revivendo o terror. — Quando chegamos, os corpos estavam destruídos. Não sobrou muito para se ver.
Alana se inclinou para frente, sem paciência para rodeios. **Algo não estava certo**. Ela já havia enfrentado demônios suficientes para saber que, embora brutais, eles deixavam rastros claros. Havia sempre sinais de batalha, marcas de luta, o cheiro da carne queimada. Mas algo no relato desses aldeões não se encaixava.
— Mas vocês viram as sombras, não é? — Alana insistiu, tentando entender como um demônio podia ter atacado sem ser visto. — Ninguém viu a criatura de perto?
O taverneiro, que até então permanecera em silêncio, falou com mais convicção.
— Eu vi uma sombra. Era grande, enorme. E se moveu rápido... muito rápido, como um borrão. As árvores balançaram quando passou, como se o próprio vento o empurrasse. Era ele, não tenho dúvidas.
Alana fechou os olhos por um momento, tentando visualizar o que ele descrevia. **Um borrão?** Ela conhecia demônios de grande porte, mas nunca havia visto um que se movesse como uma sombra indistinta. Isso era incomum, até mesmo para as criaturas mais astutas.
— Esse demônio que você descreve, — disse ela lentamente, — ataca à distância? Não se aproxima das vítimas? Ele se esconde nas sombras?
— Sim! — O homem assentiu veementemente, agarrando-se à confirmação de sua descrição. — Nunca vemos a coisa diretamente. Apenas a sombra... e então o sangue.
Alana se levantou lentamente, o peso da espada em sua cintura lhe dando uma sensação de controle, mas sua mente estava em ebulição. **Um demônio que ataca sem ser visto?** Não era impossível, mas muito raro. A ideia de que algo mais estivesse manipulando os aldeões, como Kael dissera, começou a parecer menos absurda. Mas confiar em um demônio? Ela não estava pronta para isso.
Ela se virou, pronta para sair da taverna, quando o taverneiro chamou seu nome com urgência.
— Espere! Há algo mais. — Sua voz estava carregada de preocupação. — Esta noite... ouvimos rumores de outro ataque. Não tivemos a chance de confirmar ainda, mas dizem que foi perto da floresta, na casa da família Redor.
Alana parou, os olhos se estreitando.
— E você só está me dizendo isso agora? — A raiva aflorou, mas ela a conteve. Se houvesse outro ataque, precisava agir rápido.
Sem esperar por mais respostas, ela saiu da taverna, caminhando rapidamente pelas ruas da vila em direção à casa dos Redor, uma família que vivia à beira da floresta. Os sons da natureza retornaram à medida que ela se afastava do centro da vila, mas ainda havia um desconforto no ar. **Algo estava observando.**
Chegando ao local, a cena diante dela a fez parar. A casa dos Redor estava silenciosa, mas os sinais de destruição eram inegáveis. A porta principal havia sido arrancada das dobradiças, e as marcas de garras profundas rasgavam as paredes de madeira como se fossem feitas de papel. Sangue escorria da entrada, ainda fresco. Mas algo a fez hesitar. Havia uma ausência total de cheiro de enxofre — um sinal característico de qualquer ataque demoníaco.
Ela adentrou a casa, com a espada em punho, pronta para qualquer coisa. O interior estava escuro e sombrio, os móveis destruídos e espalhados pelo chão. Quando chegou ao que parecia ser a sala principal, Alana parou abruptamente.
Lá, no meio do caos, uma figura estava de pé, olhando para os destroços. Era Kael, o demônio. Seus olhos brilhavam fracamente na escuridão, e ele não fez qualquer movimento ao notar sua presença.
— Eu avisei que não era eu, — disse ele, sem se virar. — Mas parece que não somos os únicos a investigar.
Alana ergueu a espada, sua mente um turbilhão de emoções conflitantes. Como ele havia chegado ali antes dela? E por que ele estava simplesmente observando o local, em vez de atacar ou fugir?
— O que você está fazendo aqui? — exigiu ela, sua voz cheia de desconfiança.
Kael finalmente se virou para encará-la, seus olhos sombrios mas calmos.
— Eu estou procurando respostas, caçadora. Assim como você.
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Atualizado até capítulo 42
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