O amanhecer trouxe consigo um frio cortante. Alana despertou na pequena pousada da vila com os músculos tensos e a mente ocupada pelas palavras enigmáticas do demônio na clareira. Na noite anterior, ela havia retornado confusa e irritada, algo que não era comum para ela após um confronto. Os demônios sempre eram diretos, predadores implacáveis e brutais. Mas aquele demônio... ele era diferente. Ele não lutara, nem tentara se esconder. Suas palavras pareciam cuidadosamente escolhidas, como se soubesse exatamente como desarmá-la sem usar força. Aquilo a incomodava profundamente.
Alana se levantou, seus pensamentos ecoando as palavras dele: **“Há mais no mundo do que você imagina.”** Ela sabia que não poderia deixar que aquilo a distraísse de seu objetivo. Demônios eram seres malignos, e qualquer traço de dúvida poderia ser fatal.
Descendo as escadas da pousada, foi recebida por olhares furtivos dos poucos aldeões presentes. Era sempre assim. Caçadores como ela traziam esperança, mas também lembranças das forças sombrias que os rodeavam. Ignorando os olhares, ela saiu para as ruas desertas da vila. O ar estava pesado, como se a própria natureza estivesse em estado de alerta. A floresta, com suas árvores retorcidas e galhos nus, parecia observar cada movimento dela.
Enquanto caminhava em direção à clareira da noite anterior, Alana notou algo estranho: o silêncio. Os pássaros não cantavam, as folhas não farfalhavam com o vento, e o som dos pequenos animais que normalmente povoavam a floresta havia desaparecido. Tudo parecia morto.
Quando chegou à clareira, seu coração se acelerou. O lugar ainda estava envolto em névoa, como se o próprio ambiente não quisesse revelar seus segredos. Sua mão pousou sobre a espada na cintura, uma sensação de inquietação percorrendo seu corpo. A clareira estava vazia, mas ela sentia que não estava sozinha.
— Você voltou, — disse uma voz familiar, profunda e calma.
Alana se virou rapidamente, e lá estava ele. O mesmo demônio da noite anterior, emergindo das sombras como se fosse parte delas. Seu corpo alto e imponente parecia ainda mais claro à luz do dia. Seus olhos, de um brilho suave e hipnotizante, fixaram-se nela. Ao contrário da expectativa de Alana, ele não parecia ameaçador. Pelo contrário, havia algo na sua postura, quase como se ele estivesse esperando por ela.
— É claro que voltei. Não terminei o que comecei, — respondeu Alana, tentando manter a voz firme, mas notando uma leve hesitação nas palavras. Ela se odiava por isso.
— Não deveria estar aqui, caçadora. — O demônio deu alguns passos para frente, mas manteve uma distância respeitosa. — Há forças nesta floresta que você não entende. Forças que estão além da simples maldade que você foi treinada para caçar.
Alana estreitou os olhos. Ele estava tentando manipulá-la, era óbvio. Demônios eram mestres em jogos mentais, e ela não se deixaria enganar. **Mesmo assim, por que ele ainda não a atacou?** Algo estava errado, mas ela não conseguia identificar o quê.
— Não me venha com enigmas, demônio. Diga o que realmente está acontecendo ou eu mesma corto essa sua cabeça e descubro, — ameaçou, erguendo a espada ligeiramente.
O demônio deu um sorriso pequeno, sem mostrar dentes, e a expressão em seus olhos parecia quase... triste?
— Eu não sou seu inimigo, — disse ele simplesmente, sua voz mais baixa agora. — Se estivesse aqui para matá-la, já teria feito isso na noite passada. Acha que estou me escondendo por medo? Não, caçadora. Há algo muito mais perigoso nesta floresta. Algo que me persegue tanto quanto persegue você.
Alana ficou em silêncio por um momento, analisando suas palavras. Poderia ser verdade? Havia mais de uma força na região? Embora sua mente racional se recusasse a confiar em um demônio, algo na sinceridade de sua voz a fez hesitar.
— Se você não é a ameaça, então o que é? — Alana perguntou, relutante em ceder a uma conversa, mas movida pela necessidade de entender o que estava acontecendo. **Se ele estivesse certo, ela precisava saber.**
O demônio olhou em volta, seus olhos varrendo a clareira com cautela, como se estivesse esperando que algo surgisse das sombras a qualquer momento. Então, ele voltou seu olhar para Alana.
— Há algo antigo, um espírito maligno que despertou nas profundezas desta floresta. Ele se alimenta do medo, da raiva. Está manipulando as pessoas desta vila, mas ninguém pode vê-lo... exceto eu. E agora, você. Por isso, todos acreditam que sou eu quem está causando o caos. Porque ninguém vê o verdadeiro inimigo.
Alana estreitou os olhos, sentindo a raiva brotar. **Manipulações, certamente.** Ele estava tentando jogar com sua confiança, mas ela já havia caçado demônios suficientes para saber que eles sempre torcem a verdade a seu favor.
— E por que eu deveria acreditar em você? — Ela deu um passo à frente, segurando sua espada com mais firmeza.
O demônio a olhou profundamente, seus olhos brilhando com algo que ela não esperava ver: cansaço. Ele parecia exausto, como alguém que havia lutado por muito tempo.
— Eu não espero que acredite em mim, caçadora, — disse ele, sua voz agora baixa e firme. — Mas eu vou te provar. Não sou seu inimigo... mas se você continuar aqui, o verdadeiro inimigo encontrará ambos.
Sem mais uma palavra, ele se virou e começou a desaparecer na neblina novamente, deixando Alana sozinha mais uma vez na clareira. Ela sentiu um turbilhão de emoções dentro de si: raiva, desconfiança, e, de alguma forma, uma estranha sensação de que talvez ele estivesse falando a verdade.
Mas ela era uma caçadora, e demônios eram demônios. Não havia espaço para dúvidas.
Ainda assim, enquanto o vento frio soprava, ela sabia que não poderia ignorar completamente o que ele dissera.
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Atualizado até capítulo 42
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