5.1 O Início do Descanso
Herla se ajeitou no pequeno espaço que havia encontrado, tentando se acomodar no chão frio da clareira. A fogueira ao lado dela crepitava suavemente, oferecendo um calor que contrastava com a brisa fria da noite. Ela cruzou os braços, ainda incomodada pela presença constante de Kael e pela falta de respostas para seus problemas.
“Se ao menos eu pudesse dormir uma noite tranquila”, pensou, exasperada. Sua mente rodava com as preocupações sobre os magos da Academia, a perda de sua magia e o mistério em torno de Kael. Ele parecia sempre calmo demais, como se estivesse dois passos à frente dela em tudo.
Ela bufou, tentando se forçar a relaxar. O cansaço físico e mental era inegável, mas seu corpo insistia em ficar tenso, como se estivesse se preparando para algo. Algo que ela não conseguia identificar.
Porém, a quietude ao seu redor, longe de ser reconfortante, parecia pesada. Algo estava fora do lugar. Ela se ergueu levemente, os olhos passeando pela escuridão ao redor da clareira.
Foi então que ela ouviu. Um estalo súbito de galhos quebrando ao longe. A princípio, parecia apenas o movimento de animais noturnos, mas logo os ruídos começaram a se aproximar, pesados e rítmicos.
Herla se levantou de um salto, os sentidos alertas.
— Tem algo lá fora — ela sussurrou, olhando rapidamente para Kael.
Kael já estava em pé, a mão firme no cabo de sua espada. Ele não disse nada, apenas focou seu olhar nas sombras que cercavam o acampamento.
E então, as figuras começaram a emergir. Bandidos.
5.2. A Emboscada
Um grupo de homens robustos, com expressões malignas e lâminas em mãos, avançou em direção a eles. Um deles, aparentemente o líder, sorriu de maneira cruel.
— Kael, seu rato traiçoeiro — o líder disse, a voz grave e ameaçadora. — Achou que poderia fugir de nós?
Herla sentiu uma onda de irritação crescente. Esses homens não estavam ali por ela — estavam atrás de Kael.
— Realmente, tudo o que eu queria era dormir um pouco — resmungou ela, estreitando os olhos em direção ao líder dos bandidos. — Não é pedir muito?
Kael, apesar da situação, lançou-lhe um olhar breve e, com um sorriso irônico, murmurou:
— Parece que seu desejo de paz vai ter que esperar mais um pouco. Disse Kael
Herla revirou os olhos, enquanto Kael desembainhava sua espada com a tranquilidade de quem estava acostumado a situações como aquela. Os bandidos avançaram rapidamente, mas Kael foi o primeiro a agir, bloqueando o ataque do líder e desviando com precisão dos outros homens que tentavam cercá-los.
Herla recuou, percebendo sua vulnerabilidade. Sem sua magia, tudo o que podia fazer era se manter fora de alcance. Mas isso não seria fácil — um dos bandidos a notou e avançou, a lâmina erguida com intenção assassina.
Seu coração acelerou, e Herla instintivamente levantou a mão, como se pudesse usar sua magia para se defender. E, para sua surpresa, um lampejo de poder surgiu, pequeno, mas forte o suficiente para empurrar o bandido para trás com uma rajada de energia. Ele caiu no chão, atordoado.
Herla ofegou. Sua magia, mesmo que apenas um resquício dela, ainda estava lá. Não tinha sido completamente selada.
Kael percebeu o brilho da magia e, em meio ao combate, lançou um olhar rápido e curioso para Herla, mas não fez perguntas naquele momento. Ele estava ocupado demais acabando com os últimos bandidos. O líder, percebendo que estavam em desvantagem, recuou, gritando para os sobreviventes:
— Vamos, recuem! Isso não acabou, Kael. Eu ainda vou te encontrar de novo.
Com isso, os bandidos desapareceram de volta na escuridão da floresta, deixando Herla e Kael sozinhos na clareira, ofegantes.
3. A Verdade Escondida
Herla soltou um suspiro profundo, olhando para o céu estrelado acima de sua cabeça.
— Só queria dormir um pouco... — murmurou, exasperada. — Não é pedir muito, é?
Kael, limpando a lâmina de sua espada, lançou-lhe um olhar mais sério desta vez, sem os traços usuais de diversão.
— Você está fugindo dos magos da Academia porque é uma desertora? — A pergunta saiu direta, sem rodeios, e seu tom não carregava mais a leveza provocativa de antes.
Herla se engasgou levemente com a surpresa da pergunta. Era a primeira vez que Kael tentava realmente entender por que ela estava sendo caçada. Até aquele momento, ele não havia demonstrado curiosidade, mas agora, após ver o que parecia ser um lampejo de poder, sua postura mudou.
Ela desviou o olhar rapidamente, tentando esconder a tensão repentina que a pergunta trouxe. O que ela diria? Contar a verdade estava fora de questão. Ela não confiava em Kael o suficiente para revelar que havia sido selada, muito menos o motivo por trás disso. Mas ele já tinha visto algo — sua magia se manifestando brevemente. Se ela não fosse cuidadosa, ele desconfiaria ainda mais.
— Desertora? — ela repetiu, tentando ganhar tempo. — Não, não sou uma desertora... — Começou a falar com cautela, forçando-se a pensar rápido. **Criar uma mentira convincente, mas com o suficiente de verdade para não levantar suspeitas.
Kael estreitou os olhos, claramente percebendo sua hesitação.
— Então por que estão te caçando? — Ele continuou, cruzando os braços enquanto se sentava à frente dela, a postura mais tensa do que antes. — Magos não vão atrás de pessoas sem motivo, e claramente você sabe se defender melhor do que aparenta.
Herla respirou fundo, moldando sua resposta.
— Eu... estava envolvida em algo que a Academia não aprovava. — Ela fez uma pausa, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. — Estava pesquisando magias que eles consideram proibidas, algo que eles acham perigoso. Mas, no final das contas, eu só queria saber mais sobre a magia, expandir meus conhecimentos. Eles... não gostaram disso e resolveram me caçar. — Ela abaixou os olhos, tentando parecer sincera, mas mantendo os detalhes vagos o suficiente para não revelar demais.
Kael a observava em silêncio, claramente tentando decidir se acreditava ou não. A história era plausível, especialmente para alguém que já havia lidado com a Academia antes. Magias proibidas não eram novidade, e o controle rígido da Academia sobre os magos era amplamente conhecido.
— Então você estava estudando magia proibida? — ele repetiu, parecendo ponderar sobre a resposta. — Isso é sério o suficiente para eles não pararem até te capturarem.
Herla assentiu lentamente, aproveitando a deixa.
— Sim. Eles não vão desistir tão facilmente. — Ela olhou para ele com um leve sorriso forçado. — Por isso estou fugindo. Eu só... só queria estudar livremente, mas parece que isso não é permitido.
Kael continuou observando-a por um longo momento, seus olhos refletindo uma mistura de curiosidade e desconfiança. Ele não parecia completamente convencido, mas também não insistiu no assunto. Pelo menos por enquanto.
— Certo... — murmurou, finalmente se levantando e limpando a lâmina de sua espada uma última vez. — Mas se estiver me escondendo algo, Herla, você sabe que isso pode acabar mal. — Ele disse isso de forma casual, mas havia um peso oculto em suas palavras.
Herla se controlou para não demonstrar a irritação crescente. Kael estava certo de alguma forma, ela estava escondendo algo muito maior do que ele poderia imaginar, e não gostava da pressão crescente de suas perguntas. Mas, no fundo, sabia que era apenas questão de tempo até ele começar a descobrir mais.
Ela bufou e voltou a olhar para o céu.
— Você não precisa saber de tudo — retrucou, de forma mais defensiva do que pretendia. Ela não queria revelar mais, não agora.
Kael sorriu de canto, um sorriso mais sério dessa vez, e deu de ombros.
— Tudo bem. Mas mais cedo ou mais tarde, você vai ter que confiar em mim se quiser continuar viva.
Herla não respondeu. Apenas fechou os olhos novamente\, tentando ignorar o peso das palavras dele. **A paz que tanto buscava estava\, mais uma vez\, fora de seu alcance.**
5.4. Caminho para o Sul**
O amanhecer chegou mais rápido do que Herla esperava. O cansaço de ter passado a noite em alerta a acompanhava enquanto ela e Kael desmontavam o acampamento improvisado.
O ar da manhã estava frio, e o céu começava a tingir-se com tons alaranjados, prometendo um dia claro.
Kael, como sempre, parecia tranquilo enquanto guiava o cavalo pela trilha que serpenteava pela floresta. Herla, por outro lado, mantinha os olhos fixos à frente, ansiosa para chegar à cidade ao sul e deixar a floresta para trás. Ela odiava a sensação de vulnerabilidade que a floresta trazia.
— Quanto tempo até chegarmos à cidade? — perguntou Herla, interrompendo o silêncio.
— Se mantivermos esse ritmo, chegaremos antes do meio-dia — respondeu Kael, casualmente. — A cidade é pequena, mas tem uma guilda de aventureiros. É o lugar perfeito para nos escondermos.
Herla franziu o cenho ao ouvir a palavra esconder.
— Você fala como se isso fosse uma solução permanente — disse ela, o sarcasmo evidente em sua voz.
Kael sorriu de canto, sem desviar os olhos do caminho.
— Eu disse que seria temporário. Mas enquanto estamos fugindo, precisamos de abrigo.
Herla bufou, cruzando os braços enquanto caminhava ao lado dele.
— Temporário ou não, isso não vai durar. Assim que eu recuperar minha magia, vou me livrar dessa vida de fugas.
Kael apenas riu baixinho, como se já estivesse acostumado com as promessas de Herla.
— Veremos.
O caminho se alongou em silêncio novamente, apenas o som das folhas sob os pés e o murmúrio distante da floresta. A paisagem começou a mudar conforme se aproximavam da cidade. Herla sentia uma mistura de alívio e inquietação — alívio por finalmente encontrar algum tipo de abrigo, mas inquietação por saber que a paz seria, mais uma vez, temporária.
Ao longe, as primeiras construções começaram a surgir. A cidade do sul, envolta em uma leve névoa matinal, parecia calma e modesta, com algumas torres e a guilda se destacando no horizonte.
— Lá está — apontou Kael. — A guilda fica no centro da cidade. Podemos conseguir abrigo e talvez algumas respostas.
Herla assentiu\, seus pensamentos girando enquanto eles avançavam rumo à cidade. **Ela sabia que\, apesar do breve descanso que teriam\, as perguntas sobre sua magia\, sobre Kael e sobre os magos da Academia continuariam a assombrá-la**.
Fim do Capítulo 5
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Atualizado até capítulo 27
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