Capítulo 2: O Despertar Distante

O frio úmido do chão parecia penetrar até os ossos de Herla. Cada gota de água na terra saturada se infiltrava em suas roupas e pele, arrastando-a de volta à dolorosa consciência. O vazio dentro de si era o mais avassalador; a sensação da Árvore da Eternidade, que antes pulsava com uma conexão vibrante, estava ausente, como se parte de sua alma tivesse sido arrancada. Um abismo profundo agora preenchia o espaço onde sua magia costumava estar.

Seu corpo inteiro estava exausto. Suas pernas, outrora sustentadas por uma força mágica invisível, agora pareciam pesadas e incapazes de sustentar seu próprio peso. Quando seus olhos se abriram, lentamente, uma visão estranha se revelou. Acima de si, uma copa de árvores gigantes e tortuosas balançava, cercada por uma névoa densa. As folhas, largas e com veios prateados, pareciam pulsar com uma vida que ela não reconhecia. Essas árvores eram mais antigas do que qualquer uma que já vira, carregando uma energia selvagem e incontrolável.

— Ótimo... Nada como acordar no meio do nada, com um penteado horrível e sem magia. Obrigada, mundo— murmurou para si mesma, a ironia cortando o silêncio.

Quando tentou se levantar\, suas pernas fraquejaram. A fraqueza a encheu de fúria. O corpo que já foi indomável agora parecia uma prisão. Ela se apoiou em um tronco próximo\, sentindo a textura rugosa sob os dedos. **Cada toque de fraqueza fazia o vazio dentro dela parecer maior.**

Tentou canalizar a magia ao redor, buscando as correntes de poder que sempre estiveram à sua disposição. Mas havia apenas o silêncio, um vácuo onde a energia mágica costumava responder instantaneamente aos seus comandos. Era como tentar pegar névoa com as mãos.

— A árvore... Onde está a árvore? — murmurou.

A Árvore da Eternidade, a fonte de seu poder, estava presente em sua mente, mas apenas como um eco distante, fraco e irregular. Uma sensação de pânico ameaçava crescer dentro dela.

— Quem ousou mover a minha árvore?! — Sua voz ecoou pela floresta, carregada de raiva contida, mas a floresta apenas devolveu seu grito em um sussurro oco.

2.2 A Busca pela Verdade

Caminhando lentamente pela floresta desconhecida, Herla sentia-se mais desorientada a cada passo. O chão macio, coberto por folhas secas e musgo, rangia sob seus pés descalços. As árvores ao redor pareciam se inclinar sobre ela, como se a própria floresta a observasse com curiosidade, talvez até com desconfiança.

“Essa não é minha terra,” pensou, olhando em volta. A luz do sol, fraca e difusa pela névoa, criava sombras em movimento que brincavam com sua percepção.

Cada passo parecia afastá-la mais de sua conexão com a Árvore da Eternidade, aprofundando a sensação de desespero. O vazio em seu peito era insuportável, um buraco onde antes havia poder infinito.

— Quem poderia ter feito isso? Como eu vim parar aqui? — questionava a si mesma, repetidamente.

A resposta mais provável surgiu em sua mente como uma lâmina fria: Elyas. A raiva misturada com amargura se infiltrava em seus pensamentos ao lembrar daquele que jurara protegê-la. Elyas, o homem que se tornara obcecado por ordem e controle, ignorando a liberdade e a natureza selvagem da magia. Aquele que, no fim, a trancafiara em um selo, separado de sua fonte.

— Elyas, o que você fez? — Sua voz carregava ressentimento.

Ele estava morto. Herla sabia disso agora. Mas a marca de sua traição ainda era profunda. O que ele fez para selá-la e mover sua árvore era mais do que um ato de poder; era uma violação da própria essência dela.

Por outro lado, a perspectiva de uma vida sem a pressão de ser uma maga lendária começava a surgir em seus pensamentos. Tantos séculos de batalhas e manipulações... e se ela simplesmente deixasse tudo isso para trás?

“Eu deveria buscar minha magia de volta agora ou tentar viver uma vida comum?”

Imaginou-se por um momento como uma pessoa normal, misturada entre os mortais, talvez vendendo frutas em uma feira, cuidando de uma pequena casa. A cena era quase cômica — um vislumbre de um futuro impossível.

Ela balançou a cabeça. “Não... Eu preciso da minha magia. Mas por enquanto, talvez seja melhor esperar e entender o que está acontecendo. Posso fingir ser comum, só por um tempo.”

2.3. O Encontro com os Mercadores

Escondida entre as árvores, Herla observava um grupo de mercadores que passava por uma estrada improvisada. Eles caminhavam devagar, seus carrinhos de mercadorias chiando sob o peso. Era uma cena tão mundana, tão desconectada de tudo o que Herla conhecia, que por um momento pareceu irreal. Como o mundo havia mudado enquanto ela estava selada?

Os mercadores não pareciam perceber sua presença, e ela os observava em silêncio. A princípio, suas conversas eram banais — discussões sobre preços de produtos e rotas comerciais —, mas então um dos homens disse algo que a fez parar e ouvir com atenção.

— Você ouviu falar sobre a quebra de um selo? — perguntou um dos mercadores, com um tom de cautela.

— Ouvi sim — respondeu o outro, ajustando a carga. — Dizem que é sobre uma maga antiga. Selada há séculos.

Herla sentiu um arrepio. Estavam falando dela.

— E sobre Elyas? — perguntou um mercador mais jovem, com um ar de curiosidade. — Dizem que foi ele quem a selou. Mas Elyas não morreu há séculos?

O mercador mais velho suspirou, sua voz grave e cansada.

— Sim há séculos atrás. Elyas morreu cerca de 190 anos atrás, apenas dez anos após ter selado a maga. Alguns dizem que ele foi amaldiçoado... pela própria magia que tentou controlar.

Herla sentiu seu corpo tensionar. Elyas, morto... amaldiçoado por seu próprio poder. Não era surpresa, mas ouvir essas palavras era como um corte em uma ferida ainda aberta. O poder que ele tanto buscou controlar finalmente se voltou contra ele, e ele pagou o preço.

Enquanto os mercadores seguiam adiante, suas vozes ficando mais distantes, Herla absorvia as informações. A Academia de Vergaard, fundada por Elyas, ainda estava em pé, mas sem ele. E sem Elyas, a Academia era vulnerável. Talvez o controle sobre a magia estivesse mais frágil do que aparentava.

Ela apertou os punhos. Havia oportunidades nessa fraqueza, e ela saberia como explorá-las.

2.4. A Chegada à Vila

Após dias de caminhada pela floresta sombria, Herla finalmente avistou uma vila ao longe. Pequena, quase insignificante, com casas de madeira desgastadas pelo tempo, parecia uma vila presa em séculos passados. Ainda assim, era tudo o que ela precisava agora: um lugar para se esconder, se reabastecer e, acima de tudo, observar.

A cada passo, sentia a exaustão pesar sobre ela. Sem a magia para sustentá-la, o corpo estava enfraquecido, frágil. Era como se o tempo tivesse levado sua resistência junto com seu poder.

Ao passar por um pequeno riacho antes de entrar na vila, Herla parou por um instante para observar seu reflexo na água. O rosto que encarava de volta parecia mais pálido do que lembrava. Mas o que mais a incomodava era seu cabelo. Os fios que antes eram completamente brancos agora estavam escurecidos, exceto pelas pontas prateadas.

— Isso é o resultado do selamento? — murmurou. Sua magia se foi, e até seu corpo refletia essa perda.

Sem poder\, sem sua verdadeira forma\, Herla não passava de uma sombra do que já fora. **Isso era humilhante.**

Encontrando um pedaço de tecido preso a um galho, Herla o utilizou para cobrir seu cabelo. Agora, com o capuz baixo, sua aparência chamaria menos atenção. Talvez isso fosse uma vantagem.

2.5. O Disfarce Improvisado

Ao entrar na vila\, Herla observou a simplicidade ao seu redor. Homens e mulheres cuidavam de suas atividades diárias. Carroças eram puxadas pelas ruas de terra\, e crianças brincavam perto das barracas do mercado. **O mundo parecia tão distante das grandes questões que dominavam sua vida.**

Uma menina, pequena e curiosa, aproximou-se.

— Senhora, de onde você veio?

— perguntou a criança, olhando fixamente para o capuz de Herla.

Ela forçou um sorriso.

— De longe, criança. Estou apenas de passagem.

A menina sorriu de volta, mas logo foi chamada por outra criança e correu para brincar.

Herla suspirou e continuou seu caminho em direção a uma pequena taverna no fim da rua principal. ''Era um bom lugar para começar a buscar informações.''

2.6. A Taverna

O ambiente abafado da taverna a envolveu no momento em que ela entrou. O cheiro de carne assada e cerveja enchia o ar, e os risos e vozes eram altos, mas não o suficiente para abafarem o murmúrio contínuo de conversas.

Herla escolheu um canto discreto, onde poderia observar sem ser notada. Precisava de informações. O mundo havia mudado enquanto ela estava selada, e antes de tomar qualquer atitude, precisava entender o que estava acontecendo com a magia e com a Academia de Vergaard.

— Ouvi dizer que a Academia está preocupada com a quebra de um selo antigo — disse um dos mercadores em uma mesa próxima. — Estão recrutando novos magos para investigar.

Herla franziu a testa. Recrutando novos magos? Isso significava que a Academia sabia sobre sua libertação, e estavam tomando providências.

— Isso pode ser minha oportunidade — pensou.

Se ela pudesse se infiltrar como uma aprendiz, isso a aproximaria da Árvore da Eternidade e talvez, com sorte, a ajudasse a recuperar sua magia. Porém, a situação estava clara: a Academia ainda mantinha algum controle, e ela precisaria ser cuidadosa em cada passo.

2.7.Preciso descansar

Quando saiu da taverna, o ar fresco da noite a atingiu como uma lufada gélida. Ela ouviu vozes abafadas próximas e percebeu dois homens conversando perto de uma carroça quebrada. Suas palavras logo capturaram sua atenção.

— Ouvi dizer que alguns magos da Academia estarão por aqui nos próximos dias — disse um deles. — Estão investigando a quebra do selo.

''Magos da Academia... aqui?'' Seu coração acelerou. Isso significava que o tempo estava contra ela. Precisava agir rapidamente, mas, ao mesmo tempo, precisava de um plano. Cada movimento teria que ser calculado.

Quando seus olhos pousaram sobre o mercador lutando para consertar a roda de sua carroça, ela percebeu uma oportunidade.

— Por favor! Alguém pode me ajudar? — ele gritava, enquanto os aldeões passavam sem dar atenção.

Herla se aproximou com passos lentos, sua figura escondida sob o capuz.

— Eu posso ajudar — disse calmamente.

O mercador olhou para ela, aliviado.

— Obrigado! Se me ajudar com isso, posso pagar uma moeda de prata. Não é muito, mas é o que tenho.

Uma moeda de prata seria suficiente por enquanto.Juntos, eles trabalharam para consertar a roda. O esforço físico era extenuante sem a ajuda da magia. Cada puxão e empurrão a fazia sentir a fraqueza de seu corpo de forma ainda mais cruel. Mesmo assim, com esforço, conseguiram consertar a carroça.

O mercador sorriu e, fiel à sua palavra, entregou-lhe uma moeda de prata.

— Se precisar de mais ajuda, estou por aqui — disse ele, antes de se afastar com a carroça.

Com a moeda em mãos\, Herla dirigiu-se à pequena estalagem da vila. **Era um começo modesto**\, mas garantia uma cama para descansar e uma noite de planejamento. Ao entrar\, entregou a moeda ao estalajadeiro\, um homem corpulento e de poucas palavras\, que indicou um quarto simples no andar de cima.

— Quarto dois, no final do corredor — murmurou ele.

Enquanto subia as escadas, Herla ouviu fragmentos de outra conversa.

— Os magos da Academia estão vindo. Dizem que o selo foi quebrado...

Herla parou por um momento. Magos da Academia tão perto...Eles realmente sabiam sobre sua libertação. O tempo estava correndo, e ela precisaria agir rápido para não ser capturada antes de se reconectar à sua magia.

Ao entrar no quarto e trancar a porta, Herla se permitiu um breve momento de descanso. O corpo cansado agradecia pela cama simples, mas sua mente estava inquieta. Amanhã, o próximo passo de seu plano precisaria ser cuidadosamente traçado.

Fim do Capítulo 2

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