Em uma tarde silenciosa, Rafael e Madalena se encontraram no jardim da casa dela. A tensão entre eles era palpável. Ela evitava o olhar dele, enquanto ele, finalmente reunindo a coragem que sempre lhe faltara, tentava encontrar as palavras certas.
“Madalena,” ele começou, a voz rouca e nervosa. “Eu... Eu preciso te dizer uma coisa que carrego há muito tempo.”
Ela levantou os olhos, surpresa com o tom sério. “O que foi, Rafael?”
Ele deu um passo à frente, aproximando-se o suficiente para sentir o perfume suave dela, mas ainda hesitante em tocá-la. “Eu nunca disse isso antes porque... porque era errado. Você era casada, e eu respeitei isso. Mas... agora eu não posso mais guardar isso para mim.”
Madalena franziu a testa, como se não quisesse ouvir o que viria a seguir. Aquelas palavras oprimiam seu coração, mas Rafael não hesitou. “Eu sempre te amei, Madalena. Desde o primeiro dia em que te vi no altar, no casamento com o Alfredo... eu sabia. Sabia que você era a mulher que eu procurava a vida inteira, mesmo sem perceber. Tentei esquecer, tentei me afastar, mas não consigo mais fingir.”
Ela ficou em silêncio, os olhos arregalados, absorvendo aquelas palavras que pareciam impossíveis. Sussurros do passado invadiram a mente de Rafael: ele estava sentado no banco da igreja, observando distraidamente os convidados que murmuravam baixinho enquanto o casamento de Alfredo e Madalena seguia em frente. Ele não tinha interesse em grandes cerimônias, mas, como primo do noivo, sentiu-se obrigado a estar ali. Quando Madalena entrou, no entanto, tudo mudou. Ela parecia flutuar pelo corredor; o vestido branco simples, mas elegante, destacava sua beleza natural. Seus olhos tinham um brilho suave, uma mistura de nervosismo e tristeza que Rafael não conseguia entender, mas que o prendeu imediatamente. Nunca tinha visto alguém como ela, e, naquele momento, sentiu seu coração bater de forma diferente.
Depois da cerimônia, enquanto os convidados celebravam, Rafael permaneceu à distância, observando Madalena de longe. Ele não conseguia tirar os olhos dela. Cada gesto, cada sorriso discreto... tudo sobre ela parecia perfeito. Ele se aproximou da mesa de bebidas e encheu um copo de uísque, tentando afastar a sensação de vazio que crescia dentro dele. Alfredo, seu primo, era o homem mais sortudo do mundo, pensou. Como ele conseguira conquistar alguém tão maravilhosa? Mais tarde naquela noite, Rafael encontrou seu amigo no bar da cidade. Ambos beberam em silêncio por um tempo, até que Rafael, já embriagado, começou a desabafar. "Meu primo... ele nem sabe o quão sortudo é," murmurou, a voz arrastada pelo álcool. "Eu nunca a tinha visto antes... e agora... não consigo parar de pensar nela."
O amigo o olhou com preocupação, mas Rafael continuou: "Ela é incrível! Tão bonita... mas não é só isso. Tem algo nela. Algo que... que eu não sei explicar. É como se eu tivesse encontrado... algo que nunca soube que procurava." Ele riu amargamente, dando outro gole no copo. "E agora ela é dele. O Alfredo... o maldito Alfredo... ele tem tudo e nem percebe."
A memória cortou o ar entre eles, e Rafael sentiu a dor da perda do que poderia ter sido. Madalena desviou o olhar, lutando contra as emoções que começavam a tomar conta dela. Rafael deu mais um passo, agora tão perto que ela podia sentir a intensidade no olhar dele.
“Eu sei que também não foi fácil pra você,” ele continuou, suavizando o tom. “Eu vi o quanto você sofreu naquele casamento... e eu estive sempre ali, esperando, te amando em silêncio.”
As palavras de Rafael ecoaram na mente de Madalena, fazendo seu coração acelerar. Ela balançou a cabeça, como se quisesse dissipar a confusão. “Rafael... isso é... é complicado demais. Eu...”
“Eu sei,” ele disse, interrompendo-a suavemente, “mas eu não podia mais viver com esse peso. Se eu não dissesse isso agora, ia me arrepender pelo resto da vida. Você precisa saber, Madalena. Precisa saber que, em cada sorriso teu, cada olhar, eu via tudo o que eu sempre quis. E eu... eu não vou desistir de você.”
Os olhos dela finalmente encontraram os dele, e ela viu a sinceridade crua e desesperada em cada palavra que ele dissera. Aquilo mexeu com algo profundo dentro dela, algo que ela não sabia que existia. A verdade que ele revelava era como um raio de sol em um dia nublado, e Madalena sentiu a vida pulsar em suas veias, instigando uma chama que parecia há muito adormecida.
Com o coração em chamas e a mente em tumulto, ela sabia estar à beira de uma escolha que mudaria tudo.
Madalena sentiu seu coração apertar, enquanto olhava profundamente nos olhos de Rafael. As palavras dele a atingiram como uma onda inesperada. Ela sabia que aquele momento era inevitável, mas tinha passado tanto tempo fugindo daquilo, escondendo seus próprios sentimentos. Agora, frente a frente com a verdade, tudo o que ela evitara se materializava diante dela.
“Rafael…” sua voz saiu como um sussurro, frágil e incerta. Ela lutava para encontrar as palavras certas, para se proteger daquilo que sentia estar desmoronando ao seu redor. “Você não pode dizer essas coisas… não agora. Não assim.”
Ele se aproximou mais um pouco, seus olhos brilhando de determinação e desejo. “Por que não? Qual é o momento certo, Madalena? Eu passei anos guardando isso, respeitando seu espaço, seu casamento, suas escolhas. Mas agora? Você é livre, e eu não posso mais sufocar o que sinto. Não vou mais me esconder.”
Ela recuou um passo, como se tentasse se afastar não apenas fisicamente, mas também das emoções que ele trazia à tona. As memórias do passado vinham à tona, sussurros do passado que ela havia tentado enterrar. As noites solitárias em que chorava enquanto Alfredo estava fora, as traições, a frieza que se instalara entre eles. Rafael tinha visto tudo. Ele estava sempre por perto, sempre atento, mas ela nunca ousou sequer imaginar que poderia haver algo entre eles.
“Eu sou um caos,” Madalena finalmente murmurou, sua voz embargada pela confusão e pelo medo. “Minha vida foi um caos desde o começo. Primeiro com Alfredo, e agora… agora com tudo o que está acontecendo. Eu não posso lidar com mais nada, Rafael. Eu não sei se posso ser quem você quer que eu seja.”
Ele balançou a cabeça, negando o que ela dizia, e com um gesto rápido, pegou as mãos dela nas dele. As mãos de Rafael eram firmes, mas havia uma suavidade naquele toque que Madalena jamais sentira antes. Era como se, por um breve momento, o peso do mundo que carregava nos ombros desaparecesse.
“Eu não quero que você seja outra pessoa. Só quero você, Madalena,” ele disse, sua voz baixa e carregada de emoção. “Com todas as suas dores, suas cicatrizes, seu passado. Nada disso me assusta. Nada disso me faz te querer menos. Eu te amo por quem você é, por tudo o que você já enfrentou. Eu só quero a chance de te fazer feliz.”
As palavras dele penetraram fundo em seu coração, e ela sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Era algo que ela nunca ouvira antes, algo que Alfredo jamais lhe dissera. Ser amada por quem ela era, sem expectativas, sem exigências... era tudo o que ela sempre quisera, mas não tinha permitido a si mesma acreditar.
“Rafael, eu…” sua voz falhou, e as lágrimas finalmente caíram, escorrendo por suas bochechas. Ela tentou se afastar, soltar as mãos dele, mas Rafael a segurou firme, não permitindo que ela escapasse novamente.
“Você não precisa fugir,” ele sussurrou, a voz tão próxima que ela podia sentir o calor da respiração dele. “Não de mim.”
Madalena sabia que ele estava certo. Não podia mais fugir, não depois de tudo o que haviam compartilhado — os olhares furtivos, os momentos não ditos, as vezes em que seus corações se aproximaram, mesmo sem palavras. A verdade era que, por mais que tentasse, ela também não conseguia mais negar o que sentia.
Ela se aproximou de Rafael, hesitante, e encostou a testa no peito dele. Sentiu o coração dele batendo forte e rápido, como se também estivesse nervoso com o que viria a seguir.
“Eu tenho tanto medo…” ela confessou baixinho.
Ele a envolveu em seus braços, como se aquele abraço fosse a resposta que ela sempre procurara. “Eu também, Madalena,” ele admitiu. “Mas eu estou aqui, e não vou a lugar nenhum.”
Por um longo momento, os dois ficaram ali, imersos no silêncio que dizia mais do que qualquer palavra. O jardim ao redor parecia congelado no tempo, as flores movendo-se suavemente ao vento, mas nada ao redor deles importava. Apenas eles dois, juntos, finalmente enfrentando os sentimentos que haviam sido reprimidos por tanto tempo.
Quando Madalena finalmente se afastou, seus olhos encontraram os de Rafael novamente, mas desta vez havia algo diferente ali. Não era mais medo, nem confusão, mas uma aceitação silenciosa do que ela sabia ser verdade.
“Talvez eu tenha esperado por isso por muito tempo,” ela sussurrou, o brilho das lágrimas ainda nos olhos. “Talvez… eu nunca tenha deixado de te ver, mesmo quando tentei.”
Rafael sorriu, um sorriso suave, mas cheio de esperança. “Então, não precisa mais esperar.”
E com essas palavras, ele se inclinou e, lentamente, seus lábios tocaram os dela em um beijo terno e cheio de promessas não ditas.
Foi como se, naquele momento, todo o passado se dissolvesse, e o futuro se abrisse diante deles, carregado de possibilidades e de um amor que eles não poderiam mais negar.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Helena Gonçalves
Estou simplesmente encantada com este livro. Uma história linda, bem escrita, um vocabulário rico, um português correto e sem erros ortográficos. Parabéns autora, pelo excelente trabalho.
2024-10-23
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