O vento do mar invadia a grande casa de paredes brancas, trazendo consigo uma brisa de frescor que contrastava com o peso que pairava sobre Madalena. Nos dias que seguiram à chegada de Rafael, a inquietude dentro dela crescia. Cada encontro, por mais breve que fosse, era um lembrete de tudo que ela havia deixado de sentir ao lado de Alfredo.
Madalena começou a passear pelos jardins da propriedade todas as manhãs. Era sua fuga silenciosa da rotina opressora que parecia engoli-la. E Rafael, como que atraído por uma força invisível, começou a fazer o mesmo. Sem palavras combinadas, sem necessidade de justificativas. Seus encontros se tornaram frequentes, mas nunca sem o temor de que fossem descobertos. Cada olhar trocado entre as árvores carregava um desejo reprimido, uma promessa não dita.
Naquela manhã em particular, enquanto o sol começava a aquecer as folhas úmidas de orvalho, Madalena caminhava lentamente, perdida em pensamentos. Ouviu passos atrás de si, passos que já aprendera a reconhecer. Rafael se aproximou sem pressa, como quem conhecia os limites, mas sentia a necessidade de cruzá-los.
"Eu sempre gostei deste lugar", ele disse suavemente, parando ao seu lado. "Mesmo quando criança, eu sentia que havia algo de especial aqui. Talvez fosse o silêncio, ou talvez o fato de que, entre essas árvores, o tempo parecia parar."
Madalena sorriu, mas o sorriso era frágil. Ela sabia que o tempo não parava, não para ela. As pressões e expectativas a seguiam, mesmo ali, onde os dois podiam fingir, por um breve instante, que o mundo ao redor não existia.
"Eu também sinto isso", respondeu, sem olhá-lo diretamente. "Mas às vezes penso que o tempo nos empurra, mesmo quando não estamos prontos."
Rafael ficou em silêncio por um momento, seus olhos percorrendo o rosto de Madalena. "Talvez o tempo só esteja nos mostrando que devemos seguir em frente, Madalena. Às vezes, há escolhas que já foram feitas por nós, mesmo que não tenhamos percebido ainda."
Ela sentiu o coração acelerar com aquelas palavras. Havia uma verdade incômoda nelas, uma verdade que ela temia admitir. Antes que pudesse responder, sentiu a mão de Rafael roçar suavemente a sua, um gesto tímido, mas cheio de significado. O toque foi suficiente para fazer o ar entre eles vibrar com algo novo, algo perigoso e irresistível.
Madalena afastou a mão lentamente, o conflito interno claramente refletido em seus olhos. "Eu não... posso", murmurou, dando um passo para trás. "Isso tudo... é impossível."
Rafael a observou, sem se mover. "Não é impossível, Madalena. O que é impossível é continuar vivendo dessa forma, fingindo que você não sente o que sente."
As palavras dele a atingiram como uma onda inesperada. Rafael sabia. Sabia do vazio que Alfredo deixava em sua vida, sabia do peso que ela carregava. E, mais do que isso, ele sabia o que ela começava a sentir por ele, mesmo que ela mesma não quisesse admitir.
"Alfredo é seu primo, Rafael", ela disse, tentando trazer alguma lógica àquela tempestade de emoções. "E eu sou casada."
"Alfredo não te ama", ele respondeu, a voz mais firme agora. "E você sabe disso. Você merece mais do que uma vida ao lado de alguém que te vê apenas como uma peça do jogo dele."
Madalena ficou em silêncio, o coração acelerado e a mente cheia de dúvidas. Ela sabia que Rafael estava certo, mas o medo de abandonar tudo o que conhecia a paralisava. A vida que ela levava, por mais vazia que fosse, ainda era a única vida que conhecia.
"Eu não posso trair minha família", sussurrou, quase como se estivesse tentando convencer a si mesma.
Rafael deu um passo à frente, aproximando-se o suficiente para que ela pudesse sentir seu calor. "Às vezes, Madalena, para encontrar o que realmente importa, precisamos nos perder primeiro."
Ela sentiu o peso daquelas palavras. Rafael estava oferecendo uma saída, um caminho diferente, mas não menos perigoso. E, no fundo, ela sabia que já havia começado a trilhar esse caminho, mesmo que ainda não tivesse dado o passo final.
Sem dizer mais nada, Madalena virou-se e começou a caminhar de volta à casa, deixando Rafael para trás. Mas, a cada passo que dava, sentia que algo dentro dela havia mudado para sempre. Como o rio que, hesitante, se aproxima do oceano, ela sabia que o momento de escolha estava chegando. Não havia como voltar.
Dentro da casa, Vanessa observava pela janela, os olhos brilhando com uma mistura de inveja e malícia. Ela via o que estava acontecendo, mesmo que ninguém mais visse. E, naquele momento, ela sabia que poderia usar isso a seu favor.
O jogo estava apenas começando, e Vanessa estava pronta para jogar.
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A maré de desejos entre Madalena e Rafael crescia, mas a correnteza das intrigas de Vanessa ameaçava arrastar todos para águas ainda mais perigosas.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Helena Gonçalves
Muito interessante este livro!...mais interessante ainda pela forma como está escrito. parabéns ao autor/a, sem erros ortográficos.
2024-10-22
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