A noite caiu sobre Los Angeles, e Edgar finalmente voltou para casa. Seu apartamento ficava na cobertura de um dos prédios mais luxuosos da cidade, um local de onde ele podia ver a cidade inteira se estender sob seus pés. No entanto, ao contrário de outras noites, o panorama das luzes da cidade não o acalmava. Ele se sentia inquieto, como se algo estivesse fora do lugar.
Tirou o paletó e afrouxou a gravata, caminhando até o bar da sala de estar. Encheu um copo com uísque, mas hesitou antes de levá-lo aos lábios. Não costumava beber sem motivo, mas hoje precisava distrair a mente. Precisava entender por que Cloe ainda estava tão presente em seus pensamentos. Ele deu um gole no uísque e suspirou, passando a mão pelo rosto.
Enquanto estava perdido em pensamentos, ouviu passos suaves se aproximando pelo corredor. Sabia quem era antes mesmo de levantar os olhos. Michelle, sua madrasta, apareceu na entrada da sala. Ela estava descalça, usando um vestido de seda que deixava pouco para a imaginação. Michelle era apenas alguns anos mais velha do que ele, uma mulher que seu pai havia se casado a pouco tempo. Ela sempre fora uma presença complicada em sua vida.
— Edgar — ela disse, com uma voz aveludada, entrando na sala com um sorriso. — Você parece tenso. Dia difícil?
Ele lançou um olhar frio para ela e deu mais um gole no uísque, tentando ignorar a forma como ela olhava para ele, como um predador observando sua presa.
— Apenas trabalho, Michelle — respondeu, tentando manter o tom distante. — Nada com que você precise se preocupar.
Ela se aproximou lentamente, seus olhos azuis fixos nele. Michelle tinha uma beleza clássica e sabia muito bem como usá-la para conseguir o que queria. Desde que se casara com seu pai, ela sempre procurava uma maneira de se aproximar de Edgar, cruzando os limites do que ele considerava adequado.
— Você sabe que sempre me preocupo com você — ela murmurou, parando a apenas um passo de distância. — Talvez eu possa... ajudar a aliviar esse estresse.
Ela ergueu a mão para tocar o braço dele, mas Edgar deu um passo para trás, mantendo-se fora do alcance dela. Havia frieza e determinação em seu olhar.
— Michelle, já conversamos sobre isso — ele disse, a voz firme. — Não somos nada um para o outro além do que a lei definiu. Você é a esposa do meu pai, e só isso. Sugiro que lembre seu lugar nesta casa.
Ela riu baixinho, mas havia uma pontada de irritação em seus olhos. Michelle não gostava de ser rejeitada, e Edgar sabia disso. Ela estava acostumada a ter os homens a seus pés, mas ele sempre a manteve à distância.
— Sempre tão rígido, Edgar — ela comentou, um sorriso amargo nos lábios. — Às vezes, me pergunto como você consegue viver sem... se permitir relaxar, se permitir aproveitar um pouco a vida.
Ele estreitou os olhos para ela, sem se deixar afetar por suas palavras. Michelle gostava de jogar, de manipular, e ele sabia disso melhor do que ninguém.
— E às vezes, me pergunto como você consegue viver sem um mínimo de decência — rebateu friamente. — Eu sugiro que você vá descansar, Michelle. Hoje não estou com paciência para seus jogos.
Ela o observou por um momento, o sorriso desaparecendo lentamente de seu rosto. Havia uma tensão entre eles, uma tensão que Edgar sempre fazia questão de manter sob controle. Ele sabia que ela era perigosa, que ela tinha um lado sombrio, e ele não estava disposto a se deixar envolver em seus esquemas.
— Como quiser — disse ela finalmente, recuando com uma expressão de desgosto. — Mas um dia, Edgar, você perceberá que não pode viver a vida inteira sendo tão... inacessível.
Ela se virou e saiu da sala, deixando Edgar sozinho novamente. Ele ficou parado ali, com o copo de uísque na mão, olhando para o espaço vazio onde ela estivera. Michelle estava certa em uma coisa: ele era inacessível. Havia construído muros ao seu redor, muros que mantinham as pessoas afastadas, que o protegiam de se machucar. Mas, ultimamente, ele sentia rachaduras nesses muros.
Por que aquela enfermeira desconhecida o fazia sentir que talvez, só talvez, ele estivesse vivendo em uma prisão que ele mesmo havia construído? Ele não sabia se queria derrubar os muros, mas pela primeira vez em muito tempo, sentiu a necessidade de descobrir mais sobre alguém, não para controlá-la, mas simplesmente para entender.
Sentindo-se cansado e confuso, Edgar deixou o copo de uísque sobre a mesa e foi para a varanda. A brisa da noite bateu em seu rosto, trazendo um alívio momentâneo. Ele observou as luzes da cidade novamente, pensando em como tudo parecia tão pequeno visto dali de cima. Normalmente, essa visão lhe trazia um senso de poder, de domínio sobre tudo ao seu redor. Mas esta noite, ele se sentia mais sozinho do que nunca.
Michelle estava certa sobre outra coisa: ele não sabia relaxar, não sabia aproveitar a vida. E agora, pela primeira vez, ele estava começando a perceber o que isso lhe custara. Se conhecer Cloe o faria entender isso melhor ou não, ele ainda não sabia. Mas uma coisa era certa: ele precisava vê-la novamente. Precisava saber por que aquela mulher, uma simples enfermeira, conseguira despertar algo nele que ninguém, nem mesmo Michelle, jamais conseguira.
Enquanto a noite avançava, Edgar ficou ali, olhando para a cidade, perdido em pensamentos. A busca por Cloe era, de alguma forma, uma busca por si mesmo, por uma parte de sua humanidade que ele havia enterrado há muito tempo.
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Atualizado até capítulo 78
Comments
Cida Pereira
eita essa Michele é uma cobra, que mulherzinha.
2024-09-20
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Ana Maria Rodrigues
sempre tem uma pedra no sapato pra perturbar 😝
2024-09-19
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