O dia seguinte começou como qualquer outro para mim. Acordei ao som do alarme e me espreguicei lentamente. Tinha dormido mal, o rosto de Edgar Wolfe surgindo repetidamente nos meus sonhos. Cada vez que fechava os olhos, via seu olhar intenso, aquele olhar frio que, por um breve momento, pareceu quebrar. Por que ele ainda estava na minha mente? Suspirei, tentando afastar esses pensamentos enquanto me levantava.
Preparei o café da manhã e ajeitei as coisas para minha mãe antes de sair para o hospital. Ao entrar na sala de estar, ela já estava sentada à mesa, mexendo na xícara de chá com uma expressão serena no rosto.
— Você está com uma cara pensativa hoje, Cloe — ela comentou, sem levantar os olhos da xícara.
Eu sorri de leve. Minha mãe sempre foi boa em notar quando algo me incomodava.
— Só um dia agitado ontem — respondi, tentando soar casual. — Um acidente aconteceu, e isso me deixou um pouco perturbada.
Ela olhou para mim, claramente esperando que eu continuasse, mas eu não estava pronta para falar sobre Edgar. Como eu poderia explicar que um estranho, alguém que eu mal conhecia, estava ocupando tanto espaço na minha mente?
— Só... foi algo que me pegou de surpresa, mãe — finalizei, servindo uma xícara de café para mim. — Nada com que se preocupar.
Ela assentiu lentamente, mas seu olhar preocupado me seguiu enquanto eu terminava meu café e pegava minha bolsa para sair.
— Só não se esqueça de cuidar de você também, querida — ela disse suavemente.
Saí de casa e fui para o hospital, tentando me preparar para o que esperava ser um dia movimentado. No entanto, à medida que avançava pelas tarefas do dia, os pensamentos sobre Edgar continuavam voltando. Eu me perguntava se ele estava pensando no acidente, no homem que ele atropelou, ou se aquilo era apenas um evento incômodo que ele já tinha deixado para trás.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Edgar estava em seu escritório, debruçado sobre seu trabalho. Ou pelo menos estava tentando. Desde a noite anterior, algo estava diferente. Ele se sentia inquieto, uma sensação que ele não conseguia identificar. A imagem de Cloe, a enfermeira, continuava invadindo seus pensamentos. Seu rosto, sua voz firme quando o instruiu a ajudar o homem ferido, e o jeito como ela o olhou, sem medo, sem adulação. Ela não parecia intimidada por ele, como tantos outros. Havia algo nela que ele não conseguia entender, algo que o puxava para fora da bolha de controle que ele cuidadosamente construíra ao seu redor.
— Senhor Wolfe, o senhor está bem? — A voz de sua assistente, Helena, o tirou de seus devaneios. Ela estava parada ao lado de sua mesa, olhando para ele com uma expressão preocupada.
Edgar piscou, voltando à realidade. Ele percebeu que estava encarando a mesma página de relatório nos últimos cinco minutos sem realmente lê-la.
— Sim, estou — respondeu rapidamente, tentando se recompor. — O que foi?
— A reunião com o conselho está marcada para daqui a quinze minutos — disse Helena, hesitante. Ela o conhecia bem o suficiente para perceber quando algo o estava perturbando. — Há algo mais que eu possa fazer?
Ele ficou em silêncio por um momento, considerando sua próxima ação. Parte dele queria simplesmente ignorar aquele incômodo, seguir em frente como sempre fazia. Mas outra parte, uma parte que ele não estava acostumado a ouvir, queria respostas.
— Sim, na verdade, há algo que você pode fazer — ele disse, a voz firme. — Quero que descubra quem é a enfermeira que estava no acidente ontem. O nome dela é Cloe, se não me engano. Ela estava no hospital central.
Helena ficou surpresa por um instante. Não era típico de Edgar Wolfe se interessar por alguém ao ponto de pedir informações pessoais. Mas ela sabia que, quando ele pedia algo, era melhor não questionar.
— Certamente, senhor Wolfe. Vou ver o que posso descobrir.
Edgar assentiu e voltou sua atenção para os documentos à sua frente. Mas mesmo enquanto Helena saia da sala, ele sabia que seu foco estava comprometido. Ele precisava saber mais sobre Cloe. Não porque queria resolver algo como um de seus negócios, mas porque, pela primeira vez em muito tempo, ele sentia uma curiosidade genuína. Quem era aquela mulher que agia como se ele fosse apenas mais uma pessoa comum, como se sua riqueza e poder não a impressionassem?
De volta ao hospital, eu tentava manter minha mente focada no trabalho. O homem que Edgar tinha atropelado estava estável, e isso me deu um pouco de alívio. Enquanto cuidava de um paciente idoso na enfermaria, ouvi duas enfermeiras cochichando perto da entrada.
— Você ouviu falar? — uma delas disse. — Alguém da Wolfe Technologies ligou perguntando sobre a enfermeira que ajudou no acidente ontem.
Meu corpo ficou tenso. Será que Edgar estava tentando saber sobre mim? Mas por quê?
— Claro que sim, todo mundo ouviu. Parece que o próprio Edgar Wolfe está interessado nela — a outra respondeu, tentando parecer despreocupada, mas era óbvio que o assunto tinha chamado a atenção delas.
Tentei ignorar o arrepio que percorreu minha espinha. Por que ele estaria interessado em saber mais sobre mim? Decidi que não deixaria isso me afetar. Não importava o que um homem como Edgar Wolfe pensasse sobre mim. Eu tinha minha vida, meu trabalho, e nada disso envolvia bilionários arrogantes.
Mas, ao final do dia, quando voltei para casa e me sentei na cama, não consegui afastar a sensação de que algo estava mudando. O que Edgar queria? Por que ele estava tão interessado em descobrir quem eu era?
Enquanto eu olhava para o teto do meu quarto, perdida em pensamentos, em algum lugar na cidade, Edgar também estava olhando para a janela de seu escritório, as luzes da cidade refletindo em seu olhar distante. Ele não sabia o que esperava encontrar em sua busca por respostas sobre Cloe, mas sabia que precisava descobrir. Pela primeira vez, ele estava diante de algo que seu dinheiro e influência não podiam controlar: a sensação desconcertante de não saber.
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Atualizado até capítulo 78
Comments
Ana Maria Rodrigues
está derrubando suas defesas
2024-09-18
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