Na manhã seguinte, Isabella despertou com a sensação de que a noite anterior havia sido apenas um sonho. As lembranças da névoa, do cemitério e, principalmente, de Adrian, pareciam nebulosas, como se fossem fragmentos de uma outra realidade. No entanto, o frio que ainda sentia em sua pele e o eco de suas palavras persistiam, lembrando-a de que tudo havia sido real.
Sentada na beira da cama, Isabella olhou para o relógio e percebeu que estava atrasada. Apressou-se a se vestir e a sair de casa, tentando afastar os pensamentos que a incomodavam. Mas a imagem de Adrian, com seus olhos profundos e enigmáticos, teimava em permanecer em sua mente.
Ao chegar à escola, as crianças já estavam na sala, suas vozes ecoando pelos corredores. O som familiar das risadas e conversas infantis a trouxe de volta ao presente, proporcionando-lhe um conforto temporário. Isabella se lançou ao trabalho, tentando se concentrar nas lições do dia.
Mas, durante o intervalo, enquanto observava as crianças brincarem no pátio, sua mente voltou a vagar. Ela se pegou olhando para a floresta além do campo, onde a névoa ainda persistia em se agarrar às árvores como um véu. Havia algo naquele lugar que parecia estar chamando-a, algo que estava ligado não apenas a Adrian, mas também a uma parte de si mesma que ela ainda não compreendia.
“Isabella, você está bem?” A voz de sua colega de trabalho, Clara, a tirou de seus pensamentos.
“Ah, sim, estou bem,” Isabella respondeu rapidamente, tentando sorrir. “Só estou um pouco distraída hoje.”
Clara levantou uma sobrancelha, claramente notando que algo estava errado. “Você tem estado assim desde que voltou das férias. Está tudo bem mesmo?”
Isabella hesitou. As últimas semanas realmente tinham sido estranhas, com a sensação constante de que algo estava prestes a acontecer. Mas como poderia explicar a Clara, ou a qualquer outra pessoa, o que sentia? Que, na noite passada, havia caminhado até o cemitério com um estranho que parecia ter saído de uma outra era?
“Só estou cansada,” mentiu, tentando afastar a preocupação de Clara. “Preciso de mais café.”
Clara sorriu, aceitando a desculpa sem questionar. “Bem, se precisar de alguém para conversar, estou aqui.”
Isabella assentiu, agradecida pela oferta, mas sabendo que havia coisas que ela precisava descobrir sozinha. Quando o dia finalmente terminou, ela se viu voltando para casa, com a mente ainda girando em torno de Adrian e da sensação de que o destino estava começando a se desenrolar diante dela.
Ao cair da noite, ela decidiu fazer algo que não fazia há muito tempo: explorar os arquivos antigos da cidade. A biblioteca local tinha uma seção dedicada à história de Vale do Silêncio, repleta de livros empoeirados e documentos que poucos se importavam em ler. Mas Isabella sabia que se houvesse alguma resposta sobre o que estava acontecendo, ela estaria lá.
A biblioteca estava quase vazia quando ela chegou. A bibliotecária, uma senhora idosa de olhar perspicaz, cumprimentou-a com um aceno de cabeça, mas não fez perguntas. Isabella seguiu direto para a seção histórica, sentindo-se atraída por algo que não conseguia explicar.
Ela começou a folhear os livros, procurando por qualquer menção a acontecimentos estranhos, pessoas desaparecidas ou, talvez, a aparição de um homem como Adrian. As horas passaram, e quanto mais ela lia, mais ficava fascinada pelos relatos de eventos sobrenaturais que pareciam ocorrer ciclicamente naquela pequena cidade.
Finalmente, um nome chamou sua atenção: *Adrian Vilaris*. Ele havia vivido há mais de um século, um homem de origens nobres que, segundo os registros, havia desaparecido misteriosamente. Sua última morada conhecida? Um casarão na floresta, agora em ruínas, não muito longe do cemitério.
O coração de Isabella disparou. Não poderia ser coincidência. Adrian, o homem que havia conhecido na noite anterior, não era apenas um estranho qualquer. Ele tinha uma história, uma história que estava de alguma forma ligada à dela. Mas como ele ainda estava vivo? Ou melhor, seria ele um fantasma, uma alma perdida que buscava algo do passado?
Determinada a descobrir a verdade, Isabella decidiu que precisava encontrar aquela casa. Era arriscado ir à noite, mas ela sabia que precisava seguir seu instinto. Guardando o livro com o nome de Adrian como referência, ela saiu da biblioteca, com o coração acelerado pela expectativa do que estava por vir.
O caminho até a floresta foi rápido, e a névoa que pairava sobre as árvores parecia mais densa, mais viva, como se a estivesse esperando. Isabella hesitou por um momento antes de entrar na trilha estreita que levava à antiga propriedade dos Vilaris. Cada passo que dava parecia ecoar na quietude, como se o próprio tempo estivesse prestes a se dobrar.
Finalmente, as ruínas surgiram diante dela. O casarão, agora em decadência, ainda mantinha uma aura imponente, mesmo que estivesse envolto em trepadeiras e musgo. Isabella se aproximou lentamente, sentindo um arrepio percorrer sua pele. Ali, entre as sombras do passado, estava a chave para entender quem era Adrian – e o que ele queria dela.
Quando ela alcançou a porta principal, uma figura emergiu das sombras, como se tivesse esperado por ela o tempo todo. Adrian estava lá, seus olhos brilhando com a mesma intensidade da noite anterior, mas agora havia algo mais em seu olhar – um misto de dor e esperança.
“Você voltou,” ele disse, com uma voz que parecia carregar o peso de muitas vidas. “Eu sabia que voltaria.”
Isabella engoliu em seco, tentando controlar o medo e a curiosidade que a dominavam. “Quem é você realmente, Adrian? E por que eu sinto que nos conhecemos há muito tempo?”
Ele deu um passo à frente, e por um instante, parecia que o tempo havia parado. “Eu sou o que restou de um homem que uma vez viveu aqui,” respondeu ele, sua voz um sussurro na noite. “E você, Isabella... você é a única que pode me ajudar a encontrar a paz que me foi negada.”
As palavras pairaram no ar, cheias de mistério e de uma promessa sombria. Isabella soube, naquele momento, que sua vida estava irrevogavelmente entrelaçada com a de Adrian. E enquanto a noite caía ao redor deles, ela percebeu que estava pronta para descobrir a verdade – não importava o quão aterrorizante ou reveladora ela pudesse ser.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Luiza Paiva
um suspense agora ai que medo
2024-09-02
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