Lady Daiana
Quando eu tinha apenas cinco anos, fui arrancada dos braços dos meus pais. A infância, para mim, não foi feita de risos nem brinquedos — foi feita de agulhas, gritos e treinos brutais que quebrariam até o mais forte dos adultos.
Poucos sobreviveram aos experimentos. Cada teste era uma sentença silenciosa. Aos doze anos, já com cicatrizes mais profundas que qualquer soldado veterano, recebi minha primeira missão: infiltrar e eliminar um alto governante. Sem rastros. Sem hesitação.
Aos quinze, das mil crianças que começaram comigo, estávamos apenas cinco. Sobreviventes. Assassinas moldadas à perfeição. Fomos promovidas à elite — o topo de uma organização que operava nas sombras, controlando guerras, regimes e revoluções.
Durante anos, executei ordens sem questionar. Fomos armas letais, fantasmas que desmoronaram impérios com um sussurro. Eu era boa no que fazia. A melhor. Mas o preço era alto: nunca mais vi minha família, nunca tive amigos. Apenas a missão.
Então, aos trinta anos, meu corpo começou a falhar. Câncer. Um inimigo que não podia ser morto com uma lâmina. Fiz tratamento, lutei até onde pude… mas a doença foi mais forte. Meu fim chegou sem glória. Sozinha, esquecida.
Ou ao menos, foi o que pensei.
Despertei como quem desperta de um pesadelo — ou de um longo sono. O corpo doía, os músculos pareciam frágeis, pequenos. Sentei-me, mas meus pés nem tocavam o chão. Assustada, olhei para minhas mãos… tão pequenas… tão jovens.
O ambiente era escuro, úmido, um porão antigo com paredes de pedra e cheiro de mofo. Levantei com esforço e tropecei até um espelho empoeirado. Meus olhos se arregalaram.
A imagem refletida não era a de uma assassina endurecida. Era a de uma menina… cabelos prateados como a lua, olhos azuis profundos como o oceano, pele clara e delicada. Eu. Mas não eu.
Fiquei ali, parada, tentando entender. Morrera. Disso eu tinha certeza. Mas agora... estava viva. E diferente.
Renascida.
Mas por quê?
E quem — ou o quê — me trouxe de volta?
Acordei como se tivesse dormido por muito tempo, o meu corpo estava todo dolorido. Sentei, os meus pés não alcançavam o chão. Olhei para minhas mãos pequenas, toquei o meu corpo, olhei ao redor e vi estar num porão antigo.
Levantei e corri para frente de um espelho velho e empoeirado. Não acreditei quando me olhei, cabelos prateados, lindos olhos azuis e pele branca. Fiquei parada na frente do espelho por um tempo tentando entender o que estava a acontecer.
Tentei abrir a porta. Trancada.
O cheiro de mofo e madeira úmida enchia o porão silencioso. Foi então que as imagens começaram — visões rápidas, cenas desconexas. Memórias que não eram minhas... mas agora, de alguma forma, eram.
Renascida. No corpo de outra.
A maçaneta girou. A porta rangeu. Uma mulher de avental entrou, empunhando um pedaço de pão duro e um copo de água.
— Come. Antes que eu me arrependa — disse ela, sem emoção.
Fitei seu rosto. Não com medo, mas com algo novo: curiosidade e frieza calculada.
— Por que me encara assim? — resmungou, antes de bater a porta.
Ela voltava uma vez ao dia, sempre com o mesmo olhar de desprezo. E eu, sempre em silêncio. Observando. Pensando.
Passou-se uma semana. E então, tudo voltou.
Eu era Daiana Stanley. Doze anos. Filha do poderoso Conde Diogo Stanley.
Ele era um homem temido, forjado nas cinzas da guerra. Conquistou terras, riqueza, e o respeito de nobres e soldados. Daiana, sua filha do segundo casamento, fora jogada à sombra da linhagem — isolada, rejeitada… esquecida.
Mas ela nÃo era a única herdeira.
Havia também Ricardo Stanley, primogênito do conde, fruto do primeiro casamento. Dezesseis anos. Frio, disciplinado. Prateado como a lua e de olhos tão cortantes quanto uma espada. O sucessor ideal. O guerreiro perfeito.
Nosso laço era tênue — quase inexistente. Ele vivia nas fronteiras, comandando em nome de nosso pai. Um irmão distante… ou talvez um obstáculo.
Agora que renasci neste corpo, vejo o mundo com novos olhos.
Não sou mais uma prisioneira. Nem Daiana.
Sou a mulher que sobreviveu ao inferno…
Alana Stanley.
A queridinha da casa. Cabelos dourados, olhos azuis brilhantes, sorriso angelical — e um coração cruel.
Ela era a terceira filha do casamento atual do conde. Tinha a minha idade, mas um mundo de privilégios que eu nunca conheci.
Sua mãe, Ana, era tão venenosa quanto educada em público. Juntas, formavam o par perfeito para me transformar em vilã da história.
E conseguiram.
"Ela envenenou Alana!" — disseram.
Encontraram o frasco escondido entre meus livros. Livros que eram meu único refúgio, meu único mundo.
Meu pai, cego de raiva e manipulado por falsas lágrimas, não hesitou.
Sem julgamento. Sem perguntas.
Apenas a porta do porão se fechando atrás de mim… e uma refeição por dia.
Eu não sei quem é minha mãe. Nunca soube.
Tudo o que tenho é uma lembrança: aos quatro anos, fui trazida para esta mansão. E desde então, fui a peça estranha que não se encaixava.
Cresci calada, humilhada, afastada.
Me escondia entre prateleiras antigas e páginas de romances, sonhando com heróis, fugas e uma chance.
Agora, estou aqui.
Num porão úmido, frio, e coberto de silêncio.
Mas não estou fraca.
Não mais.
Porque diferente da antiga Daiana…
eu já enfrentei a morte antes. Já fui treinada. Já matei para sobreviver.
E comparado ao inferno da minha vida passada, isso aqui… isso não é nada.
Olho ao redor.
Avalio rachaduras, frestas, ciclos de visita da empregada, o padrão do som dos passos.
Estou reunindo informações. Me preparando.
A motivação?
Não é vingança.
É renascimento.
Se o destino me deu uma nova chance neste mundo cruel…
vou fazer diferente.
Mas não espere que eu perdoe.
obs: estou melhorando a história pode ser que achem alguns capítulos diferentes
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Atualizado até capítulo 42
Comments
xiao hua
curti meu comentário amigos kkkk tbm to gostando
2024-10-04
3
Ray anunciaçao
ja to gostando
2024-09-23
1
Frederica Ribeiro
continue, é muito bom 😃
2024-09-21
1