A Conexão Improvável

No reino místico de Althoria, onde as montanhas sussurravam lendas antigas e o céu parecia carregar as memórias dos deuses, uma luz intensa repousava sobre o velho castelo de pedra. Dentro dele, cercado por corredores silenciosos e sombras espessas, vivia Muriel — um anjo de beleza pálida e olhos nebulosos, como névoa em manhãs frias.

Seus cabelos longos, brancos como neve virgem, caíam em cascata até a cintura, e sua pele alva, quase translúcida, parecia feita da própria luz. Mas seus olhos... ah, seus olhos eram cinzentos e distantes, não pela cor, mas pela forma como viam o mundo — em borrões e vultos, como se estivesse preso entre o sonho e a vigília. A visão de Muriel era fraca, turva, como se o mundo ao seu redor estivesse sempre envolto em véus flutuantes. Apenas o que estava muito perto se revelava com nitidez, como se o universo exigisse intimidade para ser verdadeiramente enxergado.

Muriel havia sido capturado tempos antes por criaturas que exploraram sua confiança como lâminas afiadas. A experiência o deixara marcado por uma vulnerabilidade crua, com as asas antes radiantes agora opacas, recolhidas como pétalas murchas. E então, Renato Valieres surgiu — o príncipe demônio de um reino dividido entre guerra e diplomacia.

Renato se aproximava com passos que ecoavam mais ternura do que poder. Seu calor era facilmente percebido por Muriel, mesmo que sua imagem só se tornasse clara quando estavam próximos — uma mancha quente se transformando em um homem de traços intensos, ruivos como brasas vivas e olhos que contrastavam com tudo o que Muriel conhecia.

Com um sorriso contido e voz suave, Renato ofereceu a ele duas escolhas: poderia viver no castelo sob sua proteção ou ter um lar na cidade, ao lado da irmã do príncipe. A decisão parecia simples, mas o mundo de Muriel era confuso — de sons abafados, formas embaçadas, e emoções que pesavam como correntes. Ainda assim, ele escolheu o castelo. Ali, pelo menos, o calor de Renato era constante e seu rosto, embora enevoado, trazia conforto.

A convivência, no entanto, trouxe revelações dolorosas. Renato carregava um casamento político, selado por necessidade e desprovido de afeto. A rainha, sua esposa por contrato, existia apenas como símbolo de paz entre casas rivais. E ele... ele tinha quatro filhos, frutos de uma vida que Muriel não sabia se conseguiria suportar. Estar ao lado de Renato era se sentar sobre espinhos perfumados: lindo, mas arriscado demais.

Mesmo assim, Muriel se via sendo puxado por algo mais forte que a lógica. Começou a explorar o castelo, mesmo tropeçando em escadas e portas por causa da sua visão falha. Foi em uma biblioteca que encontrou um refúgio — um templo de conhecimento antigo, com livros sobre guerras, pactos, deuses e demônios. As letras, porém, dançavam sob seus olhos fracos. Ele precisava aproximar os rostos das páginas, passar os dedos sobre os títulos e adivinhar significados através de sombras. A frustração ardia como se o mundo estivesse sempre fora de alcance.

Foi a irmã de Renato quem o guiou por salões grandiosos, descrevendo o que ele não podia ver. Ela o tratava com gentileza, e aos poucos, Muriel ia costurando, em sua mente, a imagem do castelo através dos detalhes que ela narrava. Entre esses encontros, Muriel e Renato também se aproximavam — um se alimentando da força do outro, mesmo quando tudo parecia contra.

Muriel, com toda a sua fragilidade, descobriu que existia força em sua vulnerabilidade. Mesmo sem enxergar o mundo com clareza, ele o sentia profundamente: cada toque, cada cheiro, cada vibração emocional ao redor. E Renato era um campo de energia constante — quente, confuso, caótico, mas real.

Com o passar dos dias, as incertezas ainda sussurravam às suas costas, mas Muriel começou a ver, com os olhos do coração, que talvez o amor não precisasse ser fácil para ser verdadeiro. Talvez, juntos, pudessem escrever um novo capítulo em Althoria — um capítulo onde a luz e a sombra não se opunham, mas dançavam.

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Continua...

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