Capitulo 2 - Ecos da Noite

A noite caía lentamente sobre o vilarejo, envolvendo a vila em tons de violeta e carvão. As tochas tremulavam ao vento, lançando sombras que dançavam nas paredes de pedra e nos rostos endurecidos dos transeuntes. Kiara e Ricky saíram da taverna em silêncio, os passos ecoando nas pedras irregulares molhadas pelo orvalho, quebrando apenas o zumbido distante de uma carroça sendo puxada.

O ar frio parecia lavar a opressão que ainda pairava sobre Kiara desde o confronto com Christian Arvid. Ela puxou a capa ao redor dos ombros, sentindo o couro frio roçar contra a pele. Seus olhos negros varriam as ruas estreitas, cada sombra uma possível ameaça, cada janela iluminada um ponto de observação silencioso. Ricky caminhava ao lado dela, passos firmes e medidos, a respiração contida, como se temesse que o chão traísse o que estava por vir. O silêncio entre eles parecia pesar toneladas até que Ricky finalmente quebrou a tensão:

 — Kia o que você fez lá dentro, foi loucura — Ele engoliu em seco, olhando para a irmã de lado — Não sei o que deu em você, desafiar Christian daquela maneira ele não é só perigoso, ele é implacável, você sabe disso, não sabe?

Kiara não desviou o olhar da rua à sua frente, a mente relembrando cada detalhe do bar, cada centelha da presença de Christian. Ela falou, firme, quase como se cada palavra fosse um açoite:

 — Qual a diferença entre nós e ele, Ricky? Não se lembra do que fizemos quando ainda éramos crianças?

Ricky parou por um instante, surpreso com a franqueza, os olhos se estreitando:

 — Kia… não é a mesma coisa! Nós sobrevivemos, fizemos o que tivemos que fazer, mas ele… ele é sádico! Não há limites, não há regras para Christian Arvid, ele não tem escrúpulos.

Ela se virou para ele, o rosto iluminado pela luz amarelada das tochas, e a determinação brilhou nos olhos:

 — E você acha que o que fizemos é diferente? Somos tão ruins quanto ele, Ricky, nosso pai nos enviou para o reformatório porque crescemos em um mundo que não tinha compaixão, e você mudou seu nome e sua aparência para se esconder desse passado, não foi? Da mesma forma que eu mudei minha aparência, para nada me ligar com o passado.

Ricky respirou fundo, apertando os punhos, o queixo tenso. Ele queria argumentar, queria protegê-la, mas sabia que não podia. O silêncio se estendeu por alguns segundos, apenas o som do vento balançando as bandeiras da vila preenchendo o espaço entre eles. Finalmente, ele disse, com uma mistura de tristeza e resignação:

 — Você tem razão em muitos aspectos… o que fizemos não foi nobre, mas era nossa única forma de sobreviver, mas Christian… ele provavelmente nunca precisou lutar por nada, ele só conhece o poder, não o preço que se paga por ele.

Kiara manteve o olhar firme, mas uma sombra de emoção passou por seu rosto.

 — E é por isso que estou entrando na alcateia. Para ganhar força, experiência para estar pronta. — Ela respirou fundo, o vento frio da noite brincando com os cabelos negros como o ébano que caíam sobre o rosto — Para me vingar de nosso pai por tudo que ele fez para nossa família, por tudo o que ele nos fez passar.

Ricky engoliu em seco, o coração acelerado.

Ele sabia que a irmã não estava apenas buscando poder; ela queria justiça ou vingança, dependendo de como se olhasse.

 — Kia você tem noção do que está dizendo? Não é só força que você vai enfrentar lá dentro, é brutalidade, traição, homens que matariam sem pensar duas vezes — se aproximou, colocando a mão no ombro dela — Está preparada para isso?

Ela sorriu, um sorriso frio e determinado, que não alcançava os olhos dele.

 — Estou — A palavra saiu firme, definitiva, confiante — Preciso estar, ou você acha que vou passar a vida inteira vivendo nas sombras do nosso passado?

Ricky suspirou, a mistura de orgulho e preocupação estampada em cada linha do rosto. Ele conhecia aquela determinação; havia sido sua própria companhia durante tantos anos, mas também sabia que a trajetória que Kiara escolheu era mortal.

 — Então você realmente vai entrar nessa alcateia, por sua própria conta.

— Sim — respondeu, olhando para ele com intensidade — E você sabe que não vou recuar, mesmo que isso me mate — Seus olhos brilharam, refletindo a luz trêmula das tochas — Se quero justiça, se quero força, preciso me colocar em risco.

Ricky balançou a cabeça, a preocupação transformando-se em um sorriso resignado.

 — Teimosa… — murmurou ele, quase para si mesmo, mas alto o suficiente para ela ouvir — Mas estou com você, não deixarei você fazer tudo sozinha.

Eles seguiram pelas ruas estreitas do vilarejo, cada passo sendo um lembrete da escuridão que se escondia entre as sombras. As bandeiras de tecido gasto balançavam suavemente, e o murmúrio do vento entre os galhos das árvores próximas soava como um aviso sussurrado.  Eles seguiram pelas ruas estreitas do vilarejo, cada passo sendo um lembrete da escuridão que se escondia entre as sombras. As bandeiras de tecido gasto balançavam suavemente, e o murmúrio do vento entre os galhos das árvores próximas soava como um aviso sussurrado.

Ao chegarem à praça central, o chafariz refletia a luz pálida das tochas e da lua crescente, a água cristalina dançando em círculos lentos, lançando sombras que se retorciam sobre as pedras antigas. Kiara se deixou cair em um dos bancos de madeira, puxando a capa mais perto do corpo, o ar frio cortando a pele como navalha. Ricky sentou-se ao lado dela, o olhar fixo nas figuras escuras que se moviam ao redor do vilarejo.

 — Kia — começou ele, a voz baixa, quase sussurrada — Você precisa entender uma coisa sobre Christian, ele não vai aceitar você de braços abertos, provavelmente vai te testar de maneiras que nem imagina coisas que vão desafiar a mente, o corpo, apenas para ver se aguenta a pressão.

Kiara cruzou os braços, a luz das tochas refletindo em seus olhos negros. Um sorriso frio, quase desafiador, desenhou-se em seus lábios.

 — Que venha — Sua voz era firme, decidida — Estou preparada para tudo.

Ricky desviou o olhar, respirando fundo.

 — E não é só força física, ele vai jogar com o medo, a paciência, a confiança, vai tentar quebrar você, e se não resistir, ele vai se certificar de que todos saibam.

Ela inclinou-se levemente, apoiando os cotovelos nos joelhos, encarando a água do chafariz.

 — Então é exatamente o que eu quero, quero ver até onde consigo ir, e se vou sobreviver a isso.

 Um silêncio pairou sobre eles, apenas o murmúrio da água preenchendo o espaço. Então ela perguntou, quase curiosa:

 — Mas por que ele tem esse problema com mulheres?

Ricky bufou, olhando para o céu escuro, como se a resposta fosse tão complexa quanto os mistérios da própria noite.

 — Não sei. — Sua voz estava carregada de frustração — Nunca perguntei, mas acho que ele simplesmente não confia em vocês, talvez seja orgulho, talvez medo, ou quem sabe uma mistura das duas coisas, Christian não é alguém que você consegue decifrar facilmente.

Kiara ergueu o queixo, absorvendo cada palavra. O vento frio trouxe o cheiro da floresta, misturado ao aroma do pão recém-assado e do feno ainda úmido da praça. Cada detalhe parecia reforçar a realidade: ela estava prestes a entrar em um mundo que exigiria tudo dela.

Ela bufou, o som carregado de sarcasmo e desdém.

 — Sabe, Ricky — começou, jogando o cabelo para trás com desprezo — Tenho certeza que o problema dele com mulheres não é mistério algum, aposto que a última que ele se apaixonou o traiu, ou talvez nunca tenha sido capaz de ter alguém ao lado sem sufocar, homens como ele cheios de orgulho, feridos por qualquer desvio de lealdade, transformam isso em tirania, aposto que é só mais um homem babaca traumatizado que acha que mandar nos outros é substituir o que perdeu.

Ricky engoliu em seco, franzindo o cenho.

 — Kia, não seja assim com ele, ácida e provocativa — sua voz saiu baixa, tensa, quase como se pedisse para ela controlar o veneno que escorria de sua boca — Christian não gosta de gente que vai abrir a boca e cuspir escárnio, especialmente contra ele.

Ela riu, um som frio que se espalhou pelo ar da noite.

 — Ah, por favor… — disse, inclinando-se para frente, encarando o reflexo da lua na água do chafariz — Você não é mais o mesmo, Ricky, agora é só um “cão medroso”, engolindo ordens sem pensar, perdido, fraco, olhe para você, escondido, sem coragem de enfrentar nada de verdade.

Ricky apertou os punhos, a frustração visível na linha da mandíbula.

 — Eu mudei, sim, mas não por medo — disse com firmeza, quase rugindo, a voz carregada de emoção contida — Estou preocupado porque conheço ele, conheço a mente dele, ele não perdoa deslizes, Kia, ele não aceita provocações, e você não pode simplesmente chegar lá achando que pode ser insolente.

Ela arqueou uma sobrancelha, o canto da boca curvando-se num sorriso de escárnio ainda maior.

 — Então o que você quer que eu faça? Sorria, concorde com ele, aceite ordens e faça cara de cordeiro obediente? — ela riu, fria — Ricky, não é assim que eu jogo, nunca foi, nem será, se ele não gosta disso bem, azar o dele.

O irmão respirou fundo, olhando para ela com olhos que misturavam cansaço e um tipo de tristeza amarga.

 — Kia, você não percebe que ser assim com ele não é só um risco? — sua voz baixou, quase um sussurro — Você vai entrar num jogo que ele controla, e ser insolente com ele, isso vai fazer ele te colocar na linha de tiro dele imediatamente.

Ela se inclinou para frente, olhos faiscando como aço.

 — Eu enfrento, provo, mato se for preciso, se quero estar nesse mundo, se quero sobreviver nele, não vou me curvar ao medo que ele tenta impor.

O silêncio caiu sobre eles como uma sombra densa. Só o murmúrio da água no chafariz se fazia ouvir, cada gota refletindo o brilho pálido da lua. Ricky desviou o olhar, respirando fundo, sabendo que não podia convencer Kiara a recuar. Ela era fogo, e fogo não se moldava às correntes de ninguém.

 — Então faça o que quiser, mas não diga que eu não avisei — disse ele, quase resmungando, os dedos cerrados, severamente preocupado — Christian Arvid não perdoa arrogância, nem ousadia mal calculada.

Ela sorriu, fria, quase cruel.

 — Então que ele venha — a voz dela cortou a noite como uma lâmina — Porque arrogância e ousadia são tudo o que me resta.

Ricky baixou a cabeça, a mistura de orgulho e medo estampada em cada linha do rosto. Ele conhecia a irmã, sabia que ela não recuaria, e o que quer que Christian Arvid fosse, a tempestade que se aproximava estava apenas começando.

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Gió mùa hạ

Gió mùa hạ

Ainda não chega o próximo capítulo? Estou agoniada!😩

2024-08-04

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1 Epílogo
2 Capítulo 1 - A Chegada da Forasteira
3 Capitulo 2 - Ecos da Noite
4 Capítulo 3 - O Primeiro Teste
5 Capítulo 4
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7 Capítulo 6
8 Capítulo 7
9 Capítulo 8
10 Capítulo 9
11 Capítulo 10
12 Capítulo 11
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42 Capítulo 41
43 Capítulo 42
44 Capítulo 43
45 Capítulo 44
46 ATENÇÃO: ESTE CAPÍTULO CONTÉM TEMAS SENSÍVEIS COMO ASSÉDIO, ESTUPRO E VIOLÊNCIA
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48 Capítulo 46
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Atualizado até capítulo 151

1
Epílogo
2
Capítulo 1 - A Chegada da Forasteira
3
Capitulo 2 - Ecos da Noite
4
Capítulo 3 - O Primeiro Teste
5
Capítulo 4
6
Capítulo 5
7
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