...POV Axel...
Hoje era meu último dia como o filho do Alfa. Amanhã faria vinte e um anos e, junto com meus irmãos, nos tornaremos os quadrigêmeos Alfas da matilha. O que significa que acabou a liberdade, e, embora não deixasse transparecer, um nó de nervosismo estava presente no meu peito. Mas um Alfa nunca mostra fraqueza, então me preparava para sair com Sander, minha namorada atual, e comemorar a véspera do meu aniversário como se nada pudesse alterar meu caminho.
Ontem, tivemos uma reunião com meus irmãos. Falamos sobre como dividiríamos o território que nos pertence. Alex se encarregaria do diplomático, com suas leis chatas e a burocracia que jamais me interessou. Mas claro, alguém como ele achava fascinante, então era o indicado. Ian, com seu carisma infalível, manejaria as reuniões sociais. É engraçado que lhe deem tão fácil, mas reconheço que ele tem seu talento. Sam e eu, em contrapartida, nos centraremos nas batalhas e nas inspeções. Não me importava perder as conversas formais; eu gostava do campo, não das palavras.
Havia um tema pairando sobre nós como um manto pesado: nossa Lua. Amanhã fará três anos desde que começamos a procurá-la. E, embora todos soubéssemos que uma Lua fortalece seu Alfa, nunca pensei que a falta de uma me afetaria tanto.
Sam se preocupava mais que nenhum, como se sua vida dependesse de encontrá-la. Talvez de algum modo sim, mas eu, Axel, sempre estive acima dessas coisas.
Essa sensação de iminente mudança foi o que me apressou a descer as escadas. Ao olhar a mesa, vi o último waffle que Alex havia deixado intocado. Egoísta. Um impulso de frustração me levou a me abaixar para me apoderar dele antes que alguém mais o fizesse.
— O que você acha que está fazendo, Kattie? — brinquei, aproveitando o momento em que a peguei.
Adorei ver como ela se tensava com minha provocação. Estava prestes a continuar incomodando quando ouvi Sam atrás de mim.
— Não pode esperar até terminar seus deveres? — disse com um sorriso malicioso, como se pretendesse detê-la.
— Deixem que ela coma — interveio Ian, lancei-lhe um olhar despectivo. Nunca entendi por que ele insistia em protegê-la.
Ela voltou para a cozinha e retornou no instante seguinte. Esse gesto me frustrava; parecia que não se interessava sequer pela comida. Agora, cada vez que estava perto de Kattie, havia algo estranho no ar. A princípio, pensei que eram meros hormônios juvenis, e claro, ela é linda, então não era de se estranhar. Mas depois, sua constante vanglória sobre o quão incríveis eram seus pais me irritava.
Sempre que podia, falava sobre o quão incríveis eram seus pais, fazendo os meus parecerem os piores pais do mundo. Frases como: ‘Quando estava com meus pais, era a menina mais feliz do mundo, costumávamos ir ao cinema, ao parque…’ e blábláblá finalizando com um ‘não como agora’. Meus pais não eram os melhores do mundo, definitivamente não eram; mas ao menos estavam lhe dando um teto, educação e comida. Enquanto os dela a deixaram com completos desconhecidos.
Desde que meu lobo apareceu, as coisas se complicaram. Era como se uma parte de mim não pudesse tirar os olhos dela. Precisava chamar sua atenção, e o melhor modo de fazer isso era importunando-a. Mas havia algo inquietante: o temor que parecia ver em seus olhos, tanto quando me olhava, como a Sam. A verdade era que, embora gostasse de perturbá-la, meu lobo me exigia que a tratasse de outra maneira. ‘Ela merece viver como uma rainha, minha princesa não precisa sujar as mãos,’ dizia, e isso me desconcertava. Eu nunca permitiria que nenhuma mulher, salvo minha Lua, me tivesse a seus pés; não era justo. No entanto, de alguma forma, Kattie continuava sendo uma espécie de labirinto em minha mente, e enquanto meu lobo a defendia, eu não podia evitar desfrutar da contrariedade que trazia à minha vida.
...POV Sam...
Kattie estava terminando de limpar a sala de jantar, Axel e Ian já haviam se retirado. Axel se encontraria com sua namorada da vez, Sander, e Ian, mamãe o havia arrastado para o quarto para ter uma de suas conversas de mãe e filho.
Notava-se que estava nervosa, parecia tensa. Isso acontecia cada vez que estávamos sozinhos, todos os seus instintos despertavam e ela ficava atenta aos meus movimentos. Podia sentir o medo que ela me tinha, mas não me importava.
Vi como se dirigia à porta com a intenção de ir para a escola. Já eram quase sete, com certeza chegaria atrasada, o horário de entrada era até as 7h30. O ônibus passava às 7h05; com certeza não ia chegar, então decidi segui-la. De qualquer modo, não tinha nada para fazer, quem quero enganar? Sara certamente estaria me esperando, mas não importava, isso era mais divertido.
— Cachorra, te acompanho — lhe disse caminhando atrás dela.
Vi-a se tensar e senti como um arrepio percorria seu corpo, isso não era tão raro em nós; de vez em quando gostava de importuná-la.
Tudo isso começou há três anos, depois de completar dezoito e não ter encontrado minha Lua, meu lobo me instava a buscar formas de torná-la mais forte, de quebrar essa coraça de autocompaixão e autoflagelação que havia imposto, onde se deixava ser pisoteada por todos; nos dava ira, raiva que não se defendesse quando sabíamos que era perfeitamente capaz de fazê-lo.
Se decidisse ignorar completamente meu lobo, poderia chegar a perder o controle, e isso era algo que não podia acontecer. Um Alfa que não pode controlar seu lobo é um símbolo de fraqueza.
Dos quatro, sempre fui o que mais conectado estava com seu lobo; estava muito conectado à minha parte selvagem. Havia momentos nos quais não podia contê-lo e tudo saía do controle. Como no café da manhã, ao tê-la tão perto, meu lobo tomou o controle e se aproximou mais do que o necessário, por sorte se conformou só com isso e pude dominá-lo. Por isso estava ansioso para encontrar minha Lua, ela me ajudaria a mantê-lo sob controle.
Esta era uma das razões pelas quais gostava de irritá-la, levá-la ao limite onde toda essa contenção que sempre tentava manter caísse e não lhe restasse outra que explodir, defender-se e mostrar, sua verdadeira essência. Odiava com toda minha alma esta Kattie submissa, medrosa, precavida, que media cada um de seus movimentos.
Meu lobo ansiava ver essa fase dela, era puro êxtase cada vez que nos enfrentávamos, cada vez que não podia conter-se e me dizia o que pensava sem rodeios, sem inibições. A verdadeira Kattie. A que seria se não estivesse sob o jugo dessa maldita dívida que supostamente seus pais tinham.
É raro, eu sei, ao ser um Alfa ninguém pode se rebelar diante de nós, qualquer um que o faça ficaria sem cabeça no segundo seguinte, mas com Kattie era diferente. Me enchia de orgulho cada vez que a via se defender, cada vez que via que lhe era impossível abaixar a cabeça, ainda que fosse só um momento breve, sabia que havia muito mais de onde saía isso. E eu queria tudo.
Não me importava que métodos tivesse que usar para fazer sair essa fase sua, ainda que às vezes precisasse ser um pouco cruel, valia o preço. Meu lobo não estava de acordo com o método, mas aprovava os resultados, discutíamos constantemente e vivia com dor de cabeça por nossas disputas; ele queria que eu fosse mais suave, mas já havia tentado, não funcionava, com ela devia ir ao extremo, ou simplesmente abaixaria a cabeça, como fazia sempre.
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Atualizado até capítulo 97
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