A casa da matilha estava sempre aquecida, graças ao excelente sistema de calefação que contrastava com o frio implacável do exterior. Terminei de me arrumar, colocando uma camiseta de manga comprida cor rosa pastel e um jeans preto desgastado. Dirigi-me à cozinha para preparar o café da manhã dos quadrigêmeos.
Era a semana dos quadrigêmeos, e desde pequenos, uma semana antes de seu aniversário, começavam a ser mimados e consentidos em tudo o que desejavam. Era como um aniversário de sete dias, culminando numa celebração extravagante no sétimo dia.
Preparei uma variedade de pratos, incluindo waffles fofinhos, panquecas douradas, bacon crocante, ovos mexidos e suculentas salsichas. Coloquei a manteiga e a calda de bordo na mesa. Preparei café. Bebi rapidamente um pouco de café doce com leite para ter energia e comecei a arrumar a mesa. Não me era permitido tomar café da manhã com eles, nem comer o mesmo que eles comiam. Deveria preparar primeiro o café deles, deixar que comessem e depois preparar o meu.
Luna Ivy, uma mulher de pele pálida, olhos verdes e cachos dourados, entrou na sala de jantar para verificar se tudo estava como ela desejava. Olhou-me com desagrado.
— Você lavou a louça? Certifique-se de fazer isso direito antes de comer. Os quadrigêmeos vão descer logo — disse Luna Ivy friamente.
O Alfa Caspian entrou calmamente, beijou sua luna com profundo amor e assentiu com a cabeça para mim. Ele era alguém neutro em relação a mim; não era severo, não exigia coisas, mas também não me tratava com gentileza. Era como se minha existência fosse indiferente para ele. Como uma comitiva atrás dele, vieram meus "algozes", os quadrigêmeos.
Mediam um metro e noventa e cinco, vinte centímetros mais altos que eu. Pareciam com seu pai com seus cabelos pretos brilhantes até os ombros, rostos cinzelados, olhos azuis de bebê, covinhas e fendas no queixo. Como eram Alfas, todos tinham ombros largos e musculosos, abençoados com super velocidade e super força até mesmo além do que se considerava extraordinário para um lobisomem.
Eram perfeitamente idênticos e perfeitamente atrozes, ao menos para mim. Suas vozes profundas ecoavam enquanto gritavam com entusiasmo, empurrando-se uns aos outros brincalhões. Fariam vinte e um anos amanhã, mas ainda agiam como se tivessem doze.
Alex era o mais velho e o mais sério, aquele que certamente governaria com mão de ferro. Também era o mais difícil de se aproximar. Eu o respeitava muito; não era de ter namoradas, sempre que alguém perguntava o motivo sua resposta era a mesma: esse título só cabia à sua Luna.
Depois vinha Samuel, ou Sam, como todos na matilha o chamavam. Ele era o segundo em ordem descendente. Embora também fosse sério, costumava ser um pouco mais acessível, embora quando se irritava era melhor não estar por perto. Também era o mais explosivo. Ao contrário de Alex, sempre andava com uma loba ao seu braço, mas não costumavam durar muito. O relacionamento mais longo que teve foi de três meses.
Seguia-se Axel, o típico playboy e bad boy. Suas namoradas rodavam a cada dois meses, algo quase religioso. Nunca ficava com a mesma garota por mais desse tempo; às vezes até menos. Também era quem fazia minha vida um inferno sempre que podia, e isso era sempre. Ele e Sam eram os que mais me metiam medo.
Por fim, vinha Ian, o mais novo dos quatro. Ele era o mais doce, mimado e carismático. Nunca teve namorada. Pelo que eu via, era o melhor dos quatro.
Nunca ficou com uma loba. No início, quis experimentar e tentou ficar com algumas garotas, mas sempre voltava decepcionado. Um dia, do nada, declarou-se celibatário. Disse que se guardaria para sua luna. Suas palavras foram: “Nenhuma loba conseguiu acender a faísca no meu coração. Não vou perder meu tempo em relações vazias. Esperarei minha Luna e quando ela chegar, a amarei com todo o meu ser, fazendo-a sentir-se como a joia brilhante que é.” Lembro que Luna Ivy estava eufórica quando ouviu isso. Depois do Alfa, Ian era quem ela mais protegia. Havia algo em Ian que me chamava a atenção. Talvez fosse porque sempre tentava me fazer rir ou me salvava de seus irmãos, realmente não sei. O único que eu sabia é que sem ele, minha vida seria pior do que já é.
— Você preparou tudo isso, Kattie? — disse Ian com um lindo sorriso, tirando-me dos meus pensamentos.
Enquanto passava por mim, tentou tirar o laço do meu cabelo e deixá-lo solto. A Ian eu não tinha medo; ele costumava dizer que gostava do meu cabelo solto e, sempre que podia, roubava meus laços. Mas este era o último que eu tinha; não podia deixar que o tirasse. Eu o esquivei, dando alguns passos para trás sem olhar, e esbarrei em algo duro. Virei-me e lá estava Axel, olhando-me com um sorriso travesso. Sabia que isso não era nada bom. Ele segurou-me pelos ombros, aproximando seu rosto perigosamente do meu até que nossos narizes se tocaram.
— Gatinha travessa — disse com um sorriso no rosto.
— Se Ian quer esse laço, você deve dá-lo, entendeu? — terminou dizendo Sam, colocando-se atrás de mim e acabou tirando-me o laço.
Virou-se e lançou-o para Alex, que o pegou e guardou no bolso. Com um de cada lado, começaram a me apertar, enterrando seus rostos em meu pescoço e aspirando meu cheiro. Eu me sentia presa, quase sufocada.
Comecei a questionar o que estava acontecendo; nunca tinham se comportado dessa maneira. Meus olhos encheram-se de lágrimas ao sentir sua tentativa de humilhar-me, mas recusei-me a deixá-las cair. Eu tinha prometido não chorar por eles, não ia dar-lhes essa satisfação.
Com um movimento rápido, libertei-me de seu agarre; era meu último laço, não podia perdê-lo, mas os futuros Alfas não estavam dispostos a deixar-me ir tão facilmente. Ian, ao ver minha tentativa de resistência, ficou imóvel, enquanto Axel e Sam trocavam olhares cheios de cumplicidade, desfrutando da situação.
— Vamos, Gatinha, você não quer que isso fique mais complicado, né? — disse Axel, aproximando-se um pouco mais. Seu tom era brincalhão, mas havia uma borda de ameaça em sua voz.
— Não me toque, Axel. Devolva-me meu laço! — gritei, tentando manter a voz firme, embora soubesse que estava perdendo a batalha.
Sam soltou uma risada que ecoou no ar, e isso fez com que minhas bochechas queimassem de vergonha e raiva. Eles desfrutavam da minha luta; alimentavam seu ego com pequenas derrotas. Tentei dar um passo para trás, mas as costas de Sam bloquearam meu caminho.
— Por que você não desiste? — murmurou Sam, inclinando-se para mim, com seu hálito quente roçando minha pele. — Você não pode ganhar.
Meu coração batia forte, e um nó formava-se em minha garganta. Nunca quis cair em seu jogo, a pressão de seus corpos e suas palavras ia desgastando minha resistência. Olhei para Ian, que ainda contemplava a cena com interesse, sem fazer nenhum movimento para me ajudar. A decepção apoderou-se de mim; ele, o mais doce e carinhoso entre eles, apenas observava como se isso fosse um espetáculo.
— Por que vocês são assim? — gritei, sentindo que as lágrimas começavam a surgir nos meus olhos.
Sabia que devia permanecer forte, mas a sensação de impotência era esmagadora.
— Porque podemos — respondeu Axel, exibindo um sorriso de escárnio. Ergui a cabeça, tentando desafiá-lo, mas no fundo, minha determinação desvanecia.
Naquele momento, senti como se aproximassem mais, o ar tornava-se denso com o desafio que me lançavam. Desesperada, empurrei Axel para me libertar, mas só consegui que ele risse mais.
— Ei, calma. Estamos apenas brincando — disse Sam, como se isso justificasse.
Minha resistência valente desmoronava lentamente, e ante sua risada escarnecedora, sua crueldade e a sensação de estar presa, deixei que os soluços escapassem. Já não podia lutar, o choro era iminente e me rendi à diversão deles, olhando para o chão, derrotada.
— Tudo bem, podem ficar com ele, Alfas — sussurrei entre lágrimas, com minha voz quebrada. — Só... me deixem em paz.
Axel e Sam trocaram olhares surpresos antes de sorrir em uníssono.
— Essa é a nossa Gatinha — disse Sam, enquanto estendia a mão para tocar meu braço com uma falsa gentileza.
Axel riu.
À medida que se afastavam, deixando-me tremendo e com a vergonha agarrada ao meu peito, compreendi que, embora tivesse perdido essa batalha, a guerra ainda não havia terminado. Teria que encontrar a maneira de mudar as regras do jogo.
— Estou com fome, parem de brincar — disse Ian em uma tentativa vã de aliviar o ambiente.
Quando girei para tentar escapar, pude ver como Luna Ivy me olhava com ódio, se seu olhar pudesse matar, já estaria três metros abaixo da terra.
Antes de que pudesse escapar, Alex se aproximou de mim. Sempre tentava evitá-lo e não olhá-lo diretamente nos olhos; tinha terror de fazê-lo se zangar, embora ele seja um dos mais calmos dos quatro, quando se zanga é o mais impiedoso. Inclinou-se ficando à minha altura e levantou meu queixo, fazendo com que eu o olhasse nos olhos.
— Você deve respeitar seus Alfas, Kattie. Entendeu? — perguntou olhando-me de forma severa.
Olhando-o nos olhos, assenti com a cabeça, já sem forças sequer para responder.
— Palavras, Kattie — disse sem desviar seu olhar do meu.
— Sim, Alfa Alex — disse quase em um sussurro, sabendo que ele podia me ouvir.
Quando Alex me soltou, corri para a cozinha. Meu coração batia tão rápido que parecia que a qualquer momento sairia do meu peito.
Comecei a arrumar e limpar todos os pratos. Ainda não tinha comido nada, só tinha no estômago o café que pude tomar de maneira rápida, e estava com muita fome. Sentia-me um pouco tonta. Essa era uma característica minha: quando passava um tempo sem ingerir sólidos, começava a ficar tonta e a ter dor de cabeça. Essa manhã só tinha tomado uns goles de café e ainda não tinha comido nada.
Quando saí para limpar a sala de jantar, vi que restava um waffle com um pouco de bacon e ovo. Deu-me água na boca de tanta fome que tinha. 'Perfeito, não terei que cozinhar para mim' pensei, já que não tinha tempo; ia chegar tarde à escola. Apressada, fui pegar o prato, quando ouvi uma voz que me fez gelar o sangue.
— O que você acha que está fazendo, Kattie? — perguntou Axel, seu tom era calmo, mas carregado de zombaria. Fiquei congelada, com o waffle nas mãos, lembrando o acontecido apenas alguns minutos antes, incapaz de responder.
— Você não pode esperar até terminar suas tarefas? — disse Sam com um sorriso malicioso.
— Deixem ela comer — interveio Ian, com uma voz mais suave — Ela também precisa de energia para trabalhar.
Ambos o olharam, mas não disseram mais nada. Olhando para Ian, assenti rapidamente, agradecida por sua intervenção. Levei o waffle para a cozinha e comi rapidamente, mal saboreando a comida. Depois, voltei para a sala de jantar para terminar de limpar. Enquanto limpava, sentia os olhos de três dos quadrilhos sobre mim, especialmente os de Sam, sempre me observando com aquele sorriso que me fazia estremecer.
Finalmente, terminei minhas tarefas e me dirigi à escola, tentando deixar para trás o peso do café da manhã. Sabia que o dia apenas começava e que me esperavam mais desafios, mas também sabia que tinha de ser forte.
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Atualizado até capítulo 97
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