Uma Lua, Quatro Alfas
O inverno havia envolvido a matilha em um manto de neve e frio, e embora para muitos fosse uma temporada de celebração e calor, para mim só significava outra marca no calendário de solidão.
As festividades enchiam o ar com risos e cantos, enquanto eu observava das sombras, sentindo-me fora de lugar em um lar que nunca havia sido meu.
O dez de dezembro seria meu aniversário, mas ninguém se lembrava nem se importava. Esse dia também era o aniversário dos quadrigêmeos Drake, os herdeiros do Alfa Caspian, destinados a se tornarem os próximos líderes da matilha Winter Moon. A riqueza, a beleza e o poder pareciam ser parte de seu DNA, assim como o desprezo que sentiam por mim. Todos menos um. Ian, o menor dos quatro, tinha momentos de amabilidade que me permitiam sonhar, ainda que por um instante, que nem todos neste lugar estavam contra mim.
Minhas lembranças me levavam constantemente àquele dia em que meus pais me deixaram na casa do Alfa Caspian e Luna Ivy. Eu tinha apenas sete anos, e o medo havia se enraizado em meu coração desde o momento em que cruzei a porta daquela imensa mansão. "Você estará segura aqui, eles cuidarão de você" haviam me dito. Mas a realidade foi muito diferente. Sem uma explicação nem promessas de volta, me tornei um fardo, que devia pagar a dívida de meus pais, como puderam me deixar para saldar sua dívida?.
Os dias se converteram em semanas, e as semanas em anos, cada um mais pesado que o anterior. Minha vida na casa do Alfa se limitava a cumprir com uma lista interminável de tarefas que pareciam crescer com cada dia que passava. Enquanto os quadrigêmeos desfrutavam de sua infância rodeados de luxo e atenções, eu lutava para encontrar um momento de paz em meio às responsabilidades que me haviam imposto.
A casa do Alfa Caspian era majestosa, uma fortaleza de pedra e cristal que se erguia imponente entre os pinheiros cobertos de neve. No verão, os jardins floresciam com vida, mas no inverno, a paisagem se tornava um reflexo de minha própria existência: frio, desolado e sem esperança. A maioria dos meus dias passava na sala comum, uma vasta habitação com uma lareira que apenas lograva aquecer o ar gélido que me rodeava.
Amanhã completaria dezoito anos e finalmente receberia meu lobo. Este pensamento era a única coisa que me dava um vislumbre de esperança. Em breve, não estaria mais sozinha. Teria alguém a quem me agarrar, alguém que poderia entender minha dor e meus medos. Mas, por outro lado, a ideia de encontrar meu companheiro me aterrorizava.
O que aconteceria se ele também me desprezasse, como fazia quase toda a matilha? E se meu destino fosse estar sozinha, mesmo depois de obter meu lobo?.
Lembrei-me dos meus aniversários passados, marcados pela crueldade dos quadrigêmeos. O primeiro deles, aos meus oito anos, havia sido uma cruel lição na natureza daqueles que me rodeavam. Axel, Sam e Ian haviam irrompido em minha pequena festa imaginária, destroçando qualquer esperança de felicidade que pudesse ter abrigado. Suas zombarias e risos ressoavam em minha mente, um eco que nunca se desvanecia.
.........
Era o dia antes do meu oitavo aniversário, um dia como hoje e a emoção borbulhava dentro de mim como o refrigerante que havia planejado servir em minha festa. Imaginava a decoração de balões, o bolo de chocolate que sempre havia querido e meus amigos rindo e desfrutando. A ideia de um dia cheio de risos e surpresas enchia meu coração de alegria, enquanto me penteava frente ao espelho, sonhando com como seria tudo.
No entanto, a realidade era diferente. Quando os quadrigêmeos apareceram na cena, a atmosfera mágica que havia construído em minha mente se desvaneceu no instante. Axel, Sam e Ian irromperam na habitação como um turbilhão. Seus risos ressoavam no ar, mas não eram risos de alegria; eram zombeteiros, cheios de uma crueldade que não podia compreender totalmente.
— Olha quem se acredita a rainha do aniversário — exclamou Axel, com um sorriso torto que me gelou o sangue.
Seu olhar estava carregado de zombaria enquanto olhava ao redor.
— Realmente acredita que alguém se importa com seu aniversário? — Sam se uniu, com uma zombaria em seu tom que me golpeou como um soco no estômago. Me retorci em meu interior ao escutar suas palavras; seu riso ressoava como um eco de meus piores temores.
Tentei manter a cabeça em alto, apertando os punhos a meus lados.
— Sim! Meus amigos se importam! — gritei, mas minha voz apenas tinha força.
Axel se aproximou e me olhou diretamente aos olhos, sua expressão era dura.
— Amigos? Acredita que alguém quereria estar com você, Kitten? Nem mesmo você é sua própria amiga.
Cada palavra calou fundo, desgarrando o véu de meus sonhos e revelando a crua realidade que me rodeava. Ian, que havia estado em silêncio, deu um passo à frente, olhando-me com uma mistura de pena e desafio. Mas inclusive sua presença, uma vez reconfortante, se sentiu como uma traição, ao ser parte desse momento ferinte.
— Talvez poderíamos vir à sua festa — disse, tentando romper a tensão, mas seu esforço foi em vão.
O que ele dizia não podia sanar as palavras dos outros. Em vez disso, sentia-se como se abrisse a porta a mais dor, ao deixar claro que inclusive se assistissem, seria só para rir de mim.
Axel e Sam não se detiveram ali. Começaram a contar histórias que nunca haviam sucedido, inventando zombarias sobre meus amigos imaginários, rindo de coisas que nunca deveriam ser motivo de riso. Seu cruel espetáculo continuou, cada brincadeira era um golpe direto ao meu coração, cada riso um eco que ressoava em minha mente.
Quando finalmente se marcharam, deixando-me sozinha entre lágrimas e o eco de suas cruéis palavras, soube que esse dia, ao menos neste momento, no canto mais escuro do meu coração, já não existia a ideia de um aniversário feliz.
.........
Meu oitavo aniversário havia sido roubado pela crueldade daqueles que sempre haviam devido me proteger.
Cada ano, tentava ignorá-los, tentava manter viva a ilusão de um dia especial, mas sempre terminava igual. As palavras ferintes e os risos cruéis destruíam qualquer felicidade que pudesse ter sentido. Meus aniversários se converteram em um recordatório de minha posição na matilha: sozinha, indesejada, e sempre à sombra dos futuros Alfas.
Olhei pela janela, observando como os flocos de neve caíam lentamente, cobrindo tudo a seu passo. A vida dentro da casa continuava como sempre, com os preparativos para a grande celebração dos quadrigêmeos em marcha. Eu só era uma sombra no fundo, ocupada em cumprir meus deveres.
Fui ao pequeno banheiro da sala comum e me duchei rapidamente, desejando poder desvanecer-me com o vapor que enchia a habitação. O reflexo no espelho me mostrou um rosto cansado, com sombras sob os olhos e uma expressão de resignação que não lograva sacudir-me.
Havia crescido, mas a carga dos meus anos passados ainda pesava sobre meus ombros.
Com o cabelo recolhido em um coque apertado, me dirigi à cozinha para começar a preparar o café da manhã para todos. Embora a casa fosse enorme, com habitações luxuosas e um sem-fim de comodidades, a mim haviam me designado um pequeno quarto apenas mobiliado. Era um reflexo do meu lugar na matilha, um recordatório constante de que não pertencia ali.
Esse dia, assim como todos os demais, trabalharia sem descanso, atendendo as necessidades daqueles que me desprezavam. Mas uma pequena faísca de esperança ardia em meu interior: em breve, tudo isto terminaria. E quando o fizesse, deixaria atrás a casa do Alfa, a matilha Winter Moon, e os quadrigêmeos que haviam convertido minha vida em um inferno. Minha liberdade estava a só seis meses de distância, e embora o caminho fosse incerto, sabia que não olharia para trás.
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Atualizado até capítulo 97
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