Noam

Já faz uma semana desde o primeiro sonho…

E todas as noites são iguais.

Aquela mulher estranha aparece em minha mente, sempre em conflito com a Deusa, e logo depois, vejo fogo…

Ela queima tudo ao seu redor, como se sua dor pudesse destruir o mundo.

Mas esta noite… algo mudou.

No meio do sonho, outra mulher surge.

Uma anciã de aparência serena, com olhos profundos como o tempo.

Antes que eu pudesse abrir a boca, ela faz um gesto para que eu me cale.

— “Você precisa encontrá-la. O passado está a corroendo. Você precisa consertar o coração dela, só assim o mundo não conhecerá sua escuridão. Lembre-se, Alfa… uma profecia nunca falha.”

Então ela se vira… e desaparece.

Fico ali, observando a jovem de cabelos flamejantes. Pela primeira vez, nossos olhos se encontram.

Ela não fala. Não se move. Mas uma lágrima solitária escorre por seu rosto.

Queria correr até ela. Dizer que tudo ficaria bem. Que eu a encontraria. Que nunca mais estaria sozinha.

Dou um passo em sua direção… e tudo escurece.

Acordo. Mais uma vez.

Sentado na cama, passo as mãos pelo rosto.

O que está acontecendo comigo?

Decido: assim que o sol nascer, irei até os Anciãos.

Preciso de respostas. Preciso entender essa profecia que parece nos unir.

Me levanto, tomo um banho para clarear a mente e sigo para o escritório. Quando percebo, já são 6h. Me afundo nos papéis do clã até as 8h30.

Vou atrás do meu beta, Gael.

— Gael, veja como estão as aulas de autodefesa dos ômegas. Eles precisam estar prontos para começar as rondas na próxima semana. E garanta que os mantimentos estejam preparados para a lua cheia.

— Pode deixar, Alfa. Vou organizar tudo — diz ele com um leve sorriso.

Saio sem responder, determinado, e sigo para a casa dos Anciãos.

— Bom dia, Alfa! — dizem algumas crianças, brincando na trilha.

— Bom dia — respondo, sem tirar os olhos do caminho.

Chego à casa antiga e bato na porta.

Após alguns minutos, Kaia, a anciã mais velha, surge.

— Estava esperando você, Alfa. Me perguntava quanto tempo levaria para vir — diz com sarcasmo, mas com um brilho de sabedoria no olhar. — Entre.

— Eu preciso de respostas.

— Eu sei… Mas antes, me diga: o que está te afligindo?

— Tenho tido sonhos. Sempre o mesmo. Estou em uma floresta sob o luar, e vejo uma mulher ajoelhada diante da Deusa. Ela implora por sua loba, mas não recebe resposta. Então, com lágrimas nos olhos… ela queima tudo ao seu redor.

— Isso significa que sua predestinada está mais próxima do que imagina. Quando começaram as visões?

— Há mais ou menos uma semana.

— Alguém novo chegou à cidade nesse período? Humano ou do mundo sobrenatural?

— Algumas pessoas… Mas não senti nenhum cheiro diferente. Dizem que a Luna de um Alfa tem um cheiro único, não é?

— Alfa, não estamos lidando com algo comum. Essa profecia… ela é antiga, poderosa. E imprevisível.

Não sabemos se ela é humana ou loba. Não sabemos seu rosto, sua origem ou crenças.

Sabemos apenas que ela foi renegada. E que uma maldição foi lançada sobre ela.

— Então me diga qual é essa maldita profecia. Eu preciso saber. Estou perdendo noites de sono com isso.

Logo eu… que prometi a mim mesmo nunca mais procurar pela minha Luna.

Kaia respira fundo, seus olhos se voltam para o passado enquanto começa a falar:

— Essa profecia nasceu muito antes de você.

Diziam que um Alfa nascido sob a Eclipse Azul teria seu destino entrelaçado ao de uma mulher nascida sob a Eclipse da Lua de Sangue do Lobo.

Ela, uma Renegada.

Ele, um Alfa Supremo.

Ela, amaldiçoada pela Deusa.

Ele, abençoado.

Dois caminhos opostos, um só destino.

— Durante a Eclipse de Sangue de Lobo, que ocorre a cada cem anos, uma espécie rara e quase extinta corre perigo de desaparecer.

Essas mulheres, conhecidas como Lupinas, eram geralmente betas ou ômegas. Seus pelos brancos como a neve e olhos azuis como a própria lua as tornaram alvo de caçadores.

— Dotadas de dons únicos — fogo, terra, ar ou água — escolhidos pela própria Deusa, muitas foram usadas e traídas.

E então a profecia disse:

Nasceria uma menina. Sem loba. Com alma de Alfa.

Ferida pelo mundo. Abandonada por todos.

Se até a próxima lua de sangue ela não encontrar seu companheiro destinado,

jamais despertará sua loba.

E sua dor consumirá tudo ao seu redor.

A única salvação… é o Alfa Supremo.

Fico em silêncio, absorvendo cada palavra. E quando tento falar… Kaia para subitamente.

Seus olhos ficam completamente brancos, e sua voz ecoa como vinda de outro plano:

— O tempo está passando…

E a mágoa em seu coração está crescendo…

A magia está se expandindo…

Você precisa encontrá-la…

E quebrar a maldição que grita dentro dela…

A batalha entre luz e escuridão será difícil…

Por isso, preste atenção.

Lembre-se, Alfa… uma profecia nunca falha.

Então, ela retorna ao normal. Seus ombros caem pesados, e sua respiração se torna fraca.

— Kaia, você está bem? — pergunto preocupado, pois sei o preço que uma mensagem espiritual cobra dos Anciãos.

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