Melinda

Descobri que o nome do homem que nos ajudou é Luys Luxan. Ele tem 23 anos, apenas dois a mais do que eu e Safira. Pelo nome… provavelmente é um lobo.

Só de pensar nisso, minha voz interna se embarga.

Safira acredita que escolhi esse lugar por ser acolhedor com humanos. Mal sabe ela que há mais por trás disso.

Escolhi este lugar porque sinto o sobrenatural em cada canto. É como um aroma distinto que eles carregam… e como eu sei disso, mesmo sem minha loba?

Porque vivi tempo demais entre eles. Existem cheiros… que jamais se esquecem.

Luys nos contou que o bar/restaurante do senhor Anton estava precisando de garçonetes e, com uma ajudinha dele, conseguimos a vaga.

Assim que chegamos, me surpreendo com o lugar.

É acolhedor, rústico e encantador — fico feliz que seja assim.

— Senhor Antônio, estas são Melinda e Safira, as meninas de quem falei. — Luys nos apresenta.

Estendemos a mão com um sorriso.

— Sim, sim, estava mesmo precisando de ajuda. Prazer em conhecê-las.

— O prazer é todo nosso — respondemos em uníssono.

— Já trabalharam como garçonetes antes?

— Pode dizer que é o que mais temos — diz Safira, confiante.

— Então estão contratadas. Quando podem começar?

— Se o senhor quiser, começamos agora mesmo — respondo.

— Vocês acabaram de chegar. Tirem dois dias de folga para conhecerem o lugar… e suas regras.

Agradecemos, mas… que regras são essas?

— Luys?

— Sim?

— O que o senhor Anton quis dizer com “regras”?

— Aqui na cidade existem algumas diretrizes… Vamos para a casa de vocês. Um representante da cidade virá explicar melhor.

Concordamos com a cabeça e o seguimos até nossa nova casa.

Nem cinco minutos depois, um homem entra. Muito bonito, por sinal.

— Oi, meninas. Meu nome é Mateo, e vim em nome do representante da cidade explicar algumas coisas.

— Prazer — respondemos, embora haja algo de estranho nele.

— Vamos às regras. Por mais estranhas que pareçam, aqui é assim que funciona.

Se querem viver bem por aqui, respeitem-nas.

Furtos não são perdoados. Violência sexual, menos ainda.

Em noites de Lua Cheia, todos os moradores devem ficar em casa. Os comércios são fechados e um amuleto será entregue. Coloquem-no na porta. É para proteção.

Se fosse qualquer humano ouvindo isso, pareceria loucura. Mas eu vivi em uma matilha.

Eu sei. Em noites de Lua Cheia… as coisas mudam.

Só saio de meus pensamentos ao perceber todos me olhando.

— Desculpem. Tudo certo, entendi e concordo com as regras.

— Para mim também está tudo bem — responde Safira.

Depois daquele dia, os dias foram calmos. A cidade é realmente maravilhosa. Agitada, com música por todos os lados, crianças brincando, e um senso de comunidade raro.

Trabalhar para o senhor Anton e sua esposa tem sido uma bênção. Eles nos tratam como filhas.

Com o dinheiro que ganhamos, conseguimos viver bem. Muito melhor do que em qualquer outro lugar onde estivemos.

Mas agora…

A Lua Cheia está se aproximando.

E todos parecem… tensos.

— Senhor Anton, por que o dia de Lua Cheia é tão importante aqui? — pergunta Safira, sempre curiosa.

— Nunca soubemos ao certo… Mas os que desobedeceram as regras nunca mais foram vistos.

Na Lua Cheia, ouvimos uivos, gritos, pegadas… Há quem diga que uma besta vaga pelas ruas.

Por isso, seguimos as regras. É nossa forma de sobreviver.

Ele faz uma pausa. Seu rosto se contorce em medo, mas ainda assim continua:

— Nos dão amuletos de prata. Pedem que passemos prata ao redor da casa inteira. Os estabelecimentos fecham o dia todo.

As crianças não saem. A música para.

O silêncio… é absoluto.

— Tudo bem. Agora estou convencida a ficar trancada — diz Safira, meio rindo, meio nervosa.

— A Lua Cheia será amanhã. Levem esses potes de prata e comecem os preparativos hoje mesmo.

Como moram no bosque, cuidado redobrado.

Estoquem comida e bebida, porque às vezes… ela dura até três dias inteiros.

— Obrigada — respondemos juntas.

Antes de voltar para casa, fizemos compras e estocamos tudo.

No dia seguinte, começamos a preparar o que pudermos.

Safira decidiu passar prata por toda a casa.

Uma loucura — penso comigo mesma — mas não digo nada.

É nessas noites que eu mais sinto vontade de desafiar a Deusa da Lua.

E se essa tal besta acha que vai me impedir…

Está muito enganada.

Saio do banho e já sinto o aroma suave de lavanda no ar.

Safira mexe com suas ervas — isso sempre me dá uma sensação estranha.

Talvez… ela não seja apenas uma humana.

Ainda temos muito o que contar uma à outra.

Mesmo que algo — ou alguém — esteja nos impedindo.

Talvez nessas noites de Lua Cheia, eu encontre coragem para revelar tudo.

De onde vim. Como sobrevivi até aqui.

Mesmo que doa.

— Melinda… você tem certeza que está bem? Desde que chegamos aqui, você está mais tensa que o normal — ela diz, me olhando com sinceridade.

— Eu achei que conseguiria esquecer meu passado…

As lágrimas caem antes que eu perceba.

— Me desculpe… — murmuro, e saio correndo para fora da casa.

Não me importo se há uma fera lá fora.

Porque se ela ousar cruzar meu caminho…

Talvez descubra que dentro de mim também mora algo perigoso.

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Comments

Silvia Araújo

Silvia Araújo

quanta dor

2025-01-02

0

Cleide Almeida

Cleide Almeida

coitada viu tenho dó dela 😓😥

2024-12-02

1

Maria Nice Grudgen

Maria Nice Grudgen

Esse alfa é muito lerdo aff

2024-11-03

3

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