Hoje eu completo 19 anos. Isso mesmo… dezenove, e a minha loba ainda não despertou.
Passei noites inteiras implorando à Deusa da Lua. Supliquei, gritei, chorei… mas ela nunca me ouviu.
Por anos, vivi sozinha na floresta. Caçava o que conseguia, comia o que achava. Encontrei uma caverna onde podia, ao menos, me esconder da chuva. Aos poucos, fui me arrastando até vilarejos próximos, e com algumas esmolas consegui deixar meu abrigo um pouco mais habitável. Sobrevivência. Isso era tudo o que eu conhecia.
Com quinze anos, cheguei à vila de Máladorm, onde consegui um trabalho humilde — servindo mesas e limpando chão. O dinheiro era pouco, mas era o suficiente para continuar viva. Hoje, com dezenove, continuo morando na floresta. Construi uma pequena casinha, simples, mas confortável o suficiente só para mim.
Sou ruiva, magra, tenho 1,72m. Meus olhos são escuros como a noite, e as sardas marcam meu rosto com doçura. Sou bonita, eu sei. Mas às vezes, olhar no espelho me machuca. Porque por trás dessa beleza existe um vazio que ninguém vê.
Nos últimos dias, as perguntas voltaram a me atormentar: quem sou eu? De onde vim?
E hoje, ao ver o filho do antigo Alfa passar pela vila, o medo voltou a me sufocar.
Sem pensar duas vezes, comecei a arrumar minhas coisas. Mais uma vez, fugindo.
Será que algum dia terei paz?
Será que algum dia deixarei de viver como se devesse algo ao mundo?
Saio dos meus pensamentos ao ouvir batidas na porta. Caminho lentamente até ela… e me deparo com Safira.
— Veio se despedir? — pergunto com um leve sarcasmo.
— Na verdade, não. Vim para ir com você. Não aguento mais essa cidade. Vai ser bom recomeçar. Posso ir com você?
— Você sabe que eu não tenho rumo, né?
— Sei. Mas eu quero ir com você, Melinda. Por favor. Você sabe que eu também não tenho ninguém. — Ela junta as mãos e me olha como um cachorrinho perdido.
— Tudo bem… pode vir comigo.
Ela salta nos meus braços, me enche de beijos e agradece como uma criança feliz.
— Vamos, já está na hora. Temos que pegar o ônibus pra Máville.
Entramos no ônibus, cada uma com apenas uma mochila e alguns trocados no bolso.
Não sabíamos onde iríamos morar, muito menos trabalhar. Mas, pela primeira vez na vida, eu me sentia… confiante.
Era como se o simples nome daquela cidade — Máville — despertasse algo em mim.
Algo dentro da minha alma sussurrava que lá era o meu lugar. Que, enfim, eu iria me encontrar.
A viagem foi longa. Horas e mais horas naquele ônibus cansativo.
Parávamos de tempos em tempos para ir ao banheiro. Comemos uns biscoitos que Safira trouxe na bolsa.
Ao olhar pela janela, finalmente vejo a cidade cercada por bosques, com uma placa grande anunciando:
“Bem-vindos a Máville.”
Vejo Safira ao meu lado, empolgada.
Nunca contei a ninguém como nos conhecemos… mas a verdade é que ela salvou minha vida.
Eu estava com dezesseis anos. A comida estava escassa, eu comia, no máximo, uma vez por semana. O corpo doía pela fome e pela exaustão.
E as marcas que a vida me deixou… eram profundas demais.
Fazia exatamente um ano que fui estuprada.
E aquele trauma ainda me consumia como veneno.
Naquela noite, eu decidi que seria a última.
Fui até o bosque, com uma faca nas mãos. Cortei meus pulsos, e assisti o sangue escorrer pela minha pele branca. A visão começou a escurecer…
Foi quando vi Safira. Ela correu até mim, mesmo quando pedi para que fosse embora.
Ela me ignorou, cuidou de mim, me levou para sua casa…
E desde então, vivemos praticamente juntas.
Safira nunca me perguntou sobre o meu passado. E por respeito, eu também nunca perguntei sobre o dela.
Aprendi algo vivendo assim:
Todos carregam cicatrizes.
Todos temos memórias que doem.
Lembranças que nos calam.
— Melinda? Melinda, tá me ouvindo? — grita Safira, me puxando de volta à realidade.
— Me desculpa, me perdi nos pensamentos…
— Vou perguntar onde podemos arrumar um trabalho e um lugar pra morar, tá?
— Consegue ver se tem algo perto do bosque?
— Claro. Volto já.
Fico observando a cidade. Máville é linda. Não é grande, mas é rodeada por montanhas e bosques. O clima é seco, mas agradável.
Lembro das histórias que ouvi na infância sobre um lugar assim — onde sobrenaturais e humanos viviam em paz. Um lugar que acolhia.
Uma lágrima escorre pelo meu rosto.
Se um lugar assim sempre existiu… por que me abandonaram? Por que me rejeitaram como se eu fosse um monstro?
— Melinda! — Safira vem correndo, eufórica.
— Eu achei! Um lugarzinho pra gente morar! E o moço disse que tem uns bares precisando de garçonetes. Ele vai levar a gente depois de mostrar a casa.
Sorrio diante da empolgação inocente dela.
— Que ótimo, vamos ver.
Chegamos à casa. Pequena, aconchegante. E o bosque a envolve como se a protegesse.
Sinto algo em mim se aquietar. Uma paz que eu não sentia há muito tempo.
— Melinda, tá tudo bem? — Safira se aproxima, enxugando com o dedo uma lágrima que escorreu sem que eu percebesse.
— Me desculpa… é que essa casa me lembrou algo. Mas não importa. Ela é linda.
Moço, vamos ficar com ela.
— Tudo bem — diz o homem. — Agora vamos ver onde vocês podem trabalhar?
Nem sei o nome dele. Não prestei atenção em nada que disseram até agora.
Tudo o que consigo sentir… é que estou onde deveria estar.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Ely Ana Canto
será que a amiga e a deusa da lua pra proteger ela é levar ela pro destino dela 🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔
2025-01-18
0
Claudia Claudia
espero que não apareça um infeliz querendo abusar dela
2025-02-05
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Elenita Ferreira
Já gostando 🙌🏾👏🏾👏🏾
2025-02-24
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