O beijo foi interrompido quando os dois estavam sem fôlego. Nicolas olhou para Melissa com ferocidade, sentiu raiva dela, pois por um momento imaginou que sua Alicia estava de volta em seus braços. Podia sentir o leve aroma de flores, mas na realidade era somente resquícios dos sais de banho impregnados em seu corpo. Dando dois passos para trás, murmurou uma desculpa e saiu do cômodo deixando-a sozinha.
Andando às pressas pelo corredor, Nicolas chegou na última porta, onde se encontrava seu estúdio. Digitando a sequência de códigos em um painel do lado da porta. Quando ao abrir entrou e trancou-se do lado de dentro, escorou na parede e deslizou até o chão. Seu coração batendo freneticamente doía em sua caixa torácica. As emoções há muito enterradas vieram a superfície de uma vez.
As luzes automáticas se acenderam e mostrou inúmeras imagens que ele mesmo tinha pintado de sua Alicia. A dor da morte dela veio à tona novamente, crua doida, como uma ferida aberta. A vergonha abriu espaço. Vergonha por desejar outra mulher. Nicolas colocou suas mãos na cabeça em uma tentativa de suprimir as lembranças, que o inundaram de uma vez. A caixa de pandora estava aberta.
***
Em outro canto da cidade no bairro do Bixiga, Clara acordava depois de dormir por algumas horas, sua cabeça entorpecida devido ao sedativo. Olhou ao redor do quarto simples onde só tinha uma cama e um guarda-roupa pequeno, tudo em madeira esculpido a mão. Outra vez, não sabia onde se encontrava. Tentou levantar, porém sentiu o quarto girar. Sentou de volta na cama e fechou os olhos. A imagem do seu pai veio nítida em sua mente, a desaprovação constante dele ficou bem clara para ela.
Desde que nasceu Clara sofria de um problema no coração. Filha única de uma tradicional família chinesa tinha o fardo de honrar o nome da família. O fato de ter nascido mulher já era um ponto contra ela, mas devido ao seu problema de saúde e de não poder fazer tudo aquilo que ela considerava que o seu pai queria a deixava com sentimento de fracasso. Tentou de inúmeras maneiras ser a filha perfeita. Os estudos, era a única coisa que podia fazer sem se esforçar muito, apesar do seu empenho, sempre ficou na média.
Estava com casamento marcado como um homem de uma família tradicional, que garantiria a continuidade dos seus antepassados, seria, em seu ponto de vista a única maneira de satisfazer plenamente os seus pais, trazer orgulho, mas o ataque cardíaco frustrou seus planos e agora estava presa em um mundo confuso e mais uma vez era um fracasso. O que ninguém sabia é que ela não conseguia entrar em contato com o seu elemental. Tentou de várias maneiras, mas nada.
A porta abriu-se e por ela passaram as duas outras meninas que estavam na mesma situação que ela.
— Onde estamos dessa vez? — Perguntou sem rodeios.
— Nós estamos — Karen tentou procurar uma palavra para descrever o local — Não sei o nome certo que se dá a casa de lobisomens.
— Em que mundo nós estamos, onde existem lobisomens, vampiros. Qual é o nome daquelas coisas com penas? — Indagou.
— São silfos — esclareceu Liz. — E não diz com penas — fez careta — diz alados.
— Eu só quero ir para casa. — Clara suspirou cansada.
— Você não pode — Karen responde.
— Além de tudo agora eu sou prisioneira? — Clara encarou as duas meninas.
— Não é isso. — Liz sentou do lado dela na cama. — Nossa morte está nos noticiários.
— Como?
— Acho melhor mostramos para ela. — Karen disse e foi caminhando para o lado de fora.
As meninas saíram para um longo corredor que terminava em uma escadaria. A mansão onde se encontravam tinha três andares e um porão. Clara foi levada para o segundo andar aonde situava uma ampla sala de controle. Quando chegou encontrou vários monitores com inúmeras imagens de toda São Paulo, jornais do Brasil e do mundo, páginas da internet e uma garota olhando para tudo aquilo.
— Esta é Nala — apresentou Karen — uma hacker lobisomem. Seu trabalho aqui é monitorar todas as ações suspeitas de sobrenaturais. — Nala era alta e loira, portadora de olhos cor de mel. Acenou para as meninas. — Você pode nos mostrar o vídeo do noticiário.
— Claro! — Falou a loira. Executando uma série de comandos ela colocou um vídeo em uma tela gigante.
Chico Pinheiro começou a falar sobre o vandalismo que aconteceu na madrugada de hoje no IML Cidade Jardim. Ele mostrou imagens do estado deplorável que ficou a entrada do prédio, Ana Paula discursou sobre o sumiço dos corpos das quatro jovens que se encontravam nas geladeiras esperando por autópsia. Mostrou imagem das quatro famílias pedindo mais esclarecimento para a polícia. Clara ficou extremamente emocionada quando o seu pai em lágrimas falou sobre a perda do corpo dela. Ele pedindo para que os vândalos devolvessem e assim sua filha poderia descansar em paz.
— É por isso que não podemos voltar para nossas famílias — disse Karen — imagine nós aparecendo em casa, vivas.
Clara ainda estava absorvendo as palavras do seu pai, nunca tinha ouvindo-o falar com tanto sentimento. Olhou para as meninas e balançou a cabeça afirmativamente.
— Você deve estar com fome — Liz tocou seu braço — São duas horas da tarde. Você perdeu o café da manhã e o almoço.
— E a culpa foi de quem? — Perguntou irritada — Quem foi que me apagou.
— Ah! Esse foi o Lucas — Liz olhou com ar de desculpas.
— Já acharam a Melissa? — Perguntou Clara.
— Ainda não. Isso é um outro assunto que temos que tratar. — Falou Karen. — Assim que Adam consertar as motocicletas nós iremos para o ABC atrás de um mago do fogo e assim achar Melissa e salvar e o mundo.
— Salvar? O mundo? viramos X-Men? — Indagou sarcástica.
— Estamos mais para Capitão Planeta — Karen riu — Aliás, puta coincidência você controlar a água.
— Por quê? — Confusa Clara seguiu as outras meninas, elas caminhavam em direção a cozinha.
— Porque, a Gi do Capitão Planeta era a japinha que controlava a água — respondeu Karen com uma careta.
— Na verdade, ela era tailandesa e eu sou chinesa — retrucou Clara.
***
Melissa estava sentada no sofá abraçando os próprios joelhos, sua mente confusa pelos acontecimentos anteriores, ela não entendeu as atitudes do Nicolas. Tentando se distrair alcançou o controle remoto da grande televisão que ocupava metade da parede da sala.
“Só podia ser a casa de um homem”, pensou ao ligar a televisão. Na tela uma imagem sua e de novas amigas era transmitida. Melissa aumentou o volume e escutou a reportagem completa.
— A bagunça no necrotério teve seus resultados — falou Nicolas entrando na sala. Seu cabelo molhado indicado que ele tinha acabado de sair do banho, de jeans preto e com camiseta. Sentou do lado de Melissa no sofá. — Gostaria de pedir desculpas pelo meu comportamento.
— Não há nada a se desculpar — Melissa não tirou os olhos da televisão enquanto falava.
— Sim eu preciso. — Encostando a cabeça no sofá e fechando os olhos começou a falar — Eu confesso estou atraído por você, porém quando eu te beijei eu senti que essa atração estava traindo a memória de minha Alicia.
— Quem é Alicia? — Melissa levantou o rosto para olhá-lo.
— Minha falecida noiva. — Suspirou com pesar.
— Como ela morreu? — Tocando o seu braço se desculpou — não precisa me dizer.
— Preciso. Ela foi morta para ser um receptáculo para um Elemental.
— Como assim?
— Antigamente, quando era chegada a hora, os anciões de cada elemento escolhiam jovens mulheres e as matavam para que os elementos pudessem surgir. Dava um veneno que parava o coração. — Nicolas abriu os olhos e olhou. Melissa jurou que eles mudaram para verde, foi tão rápido que não deu importância. — As meninas tem que morrer na mesma hora e lugar ou muito próximas. Deixar essa decisão para o destino é muito arriscado.
— Isso é tão cruel. Como as meninas eram selecionadas? — Melissa estava indignada.
— Um nome em uma sacola. Era o máximo que os anciões permitiam que o destino comandasse. — Raiva o cegou novamente, contra a impunidade do ato — As meninas não sabiam quem seria escolhida. Eu e Alicia, nós iríamos fugir da Vila onde morávamos, mas não deu tempo.
Melissa não aguentou, lançou seus braços ao redor de seu pescoço e o abraçou transmitindo todo seu carinho. Nicolas a puxou para o colo e deixou-se ser confortado. O que ela não viu foi o sorriso diabólico que se formou em seus lábios.
***
Não muito longe dali, Júlia Peres de Oliveira estava sendo enterrada por seus familiares e amigos. Seus pais davam graças a Deus por poder dar o descanso para sua amada filha. Ela não tinha sido vítima do estranho roubo de corpos do IML onde estava. No cemitério da Vila Formosa, dois homens jogavam punhados atrás de punhados de terra até cobrir todo o caixão. Todos os presentes observavam o trabalho. O que ninguém viu foi a estranha runa que significava vida nas cores, vermelha, azul, marrom e verde aparecendo no ombro esquerdo da jovem.
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Atualizado até capítulo 24
Comments
Katefanfics200
Leio o resto amanhã e aguardo seus comentários em minha história🥰
2024-05-06
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Katefanfics200
Seria um caos
2024-05-06
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Katefanfics200
Elas devem ser importantes!!
2024-05-06
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