Ela acordou ao som da batida de um coração. Sua mente estava enevoada, sua boca seca e seu corpo cansado. Esfregou sua bochecha em um peito musculoso sem pelos. Era para sentir-se alarmada, mas só tinha cansaço. Aos poucos a memória foi voltando, os episódios do dia anterior vieram como uma avalanche.
Melissa gemeu e colocou a mão na cabeça. Sentiu seus cabelos. “Não foi um sonho louco devido às drogas, então?”, perguntou a si mesma. “Draco?”, chamou pela voz e só obteve silêncio.
Abriu os olhos e se viu em um quarto estranho, de mobiliário escuro na penumbra. Se deu conta que estava dormindo em cima de alguém. Olhou para cima e se deparou com os mais belos e aterrorizantes olhos negros, olhando-a de volta. Um arrepio correu em seu corpo. Dê um salto, levantou e se afastou. Calculou mal e acabou caindo de bunda no chão.
— Ai! — Queixou-se. Olhando para si mesma, notou a camisola de cetim vermelho. “O que foi que aconteceu ontem? Pensa Melissa. Última coisa que você se lembra e de estar torrando alguns sanguessugas”, uma gargalhada a tirou de seus pensamentos. Olhando para cima, viu um homem a encarando.
— Cheia de energia quando acorda. — Ele piscou para ela.
Melissa o encarou de boca aberta. O homem era lindo, tinha cabelos sedosos que pediam para ser acariciados, uma boca beijável, físico de dar inveja. “Perdi a conta quantos gominhos ele tem?”.
— Eu, eu...
— Me chamo Nicolas. — Se apresentou.
— Sou Melissa. — A voz dela saiu esganiçada. — Onde estou? E como cheguei aqui?
— Você está na minha casa e eu te trouxe aqui. — Disse simplesmente, como se aquilo fosse corriqueiro.
— Mas eu. As criaturas. As meninas. — Melissa balbuciava as frases.
Nicolas levantou da cama e estendeu a mão para ela. — Que tal irmos tomar café enquanto conversamos?
— Quem é você? — Perguntou com receio. Ao mesmo tempo que estava com medo sentia vontade de se jogar nos braços dele.
— Sou um mago do fogo. — Falou como se aquilo explicasse tudo.
— E eu sou técnica em informática. — Melissa retrucou sarcástica.
— Você não sabe o que é um mago do fogo?
Ela balançou a cabeça em negativa. — Vi os vampiros e eu acho que sou um zumbi. — Aceitou a mão estendida. Quando os dedos deles se tocaram, uma eletricidade correu entre eles. Melissa ficou de pé e logo puxou o braço para si.
Nicolas sorriu charmoso. — Vou proteger meu cérebro de você. — Ele colocou as mãos na própria cabeça.
— Vai rindo. — Fez beicinho.
— Vamos fazer assim. — Apontou para o guarda-roupa. — As duas últimas portas, tem roupas que servem em você. Vista o que mais gostar. Enquanto isso eu vou preparar um café da manhã para nós e te explicarei tudo o que você quiser saber.
— De quem são as roupas? Sua esposa?
Sem tirar os olhos dos dela, respondeu. — São suas, estavam lhe esperando há muito tempo. Vista-se e vamos conversar. — Virou as costas e caminhou para a grande porta de madeira. Pegou uma blusa preta no encosto de uma cadeira e a colocou. Melissa quase gemeu de tristeza por perder aquela beleza.
Antes de sair disse: — No banheiro você vai encontrar tudo que precisa para sua higiene pessoal. — Fechou a porta atrás de si, deixando-a sozinha.
***
Quando Nicolas chegou na cozinha viu seu celular vibrando, atendeu no segundo toque.
— Sim começou. Estou com a portadora do fogo em minhas mãos. — Nicolas ouviu com atenção. — Não se preocupe, vou ter todas em meu poder em breve. Muito antes do dia certo. — Encerrou a chamada e largou o celular de qualquer jeito em cima do balcão. Pegou uma maçã e mordeu, sentindo o gosto azedo do alimento. Ficou surpreso com aquilo. Há muito tempo atrás perdeu suas emoções, com isso o prazer de comer uma simples maçã não existia. Sua alma fragmentada só seria inteira quando sua amada estivesse junto a ele. Sentir o gosto da fruta significava que estava mais perto de ter sua Alicia.
Pegou novamente o celular e mandou uma mensagem:
Nicolas: Quero um relatório dos passos das elementais.
Anônimo: Estamos no covil e daqui iremos atrás do mago do fogo, para acharmos a menina do fogo.
Nicolas: Onde está esse mago?
Anônimo: ABC, segundo os silfos.
Nicolas: Espere uma surpresinha. Tente atrasar o máximo possível, até a noite.
Anônimo: Vou ver o que posso fazer.
Nicolas desligou o celular e caminhou para a geladeira bem abastecida. Pegou vários ingredientes e depositou em cima do balcão. Teve que fazer o percurso mais duas vezes. Reuniu tudo para uma omelete, uma salada verde e várias frutas para a sobremesa.
Quando terminou de preparar o alimento, Melissa entrou na cozinha, vestida de jeans escuro e uma camiseta clara, seu cabelo preto em um rabo de cavalo. Nicolas ficou mais uma vez abismado com a beleza dela.
— Achei o lugar pelo cheiro. — Sorriu tímida. — O que eu posso fazer para ajudar?
— Sentar e comer. — Ele apontou para os pratos em cima da ilha na cozinha. — Já está tudo pronto. Fiz omelete e uma salada, não sei o que você gosta de comer. — Deu de ombros se desculpando.
— Omelete está ótimo para mim. — Olhando para salada, fez careta, mas sentou em um dos bancos e colocou alguns tomates-cereja no prato com a omelete.
— Já vi que verde não é sua praia. — Nicolas sentou em sua frente e pescou os tomates colocando no próprio prato. — Não é a minha praia também.
Ela riu e pegou uma garfada da comida. Fechou os olhos e gemeu com prazer. — Nossa, isso está muito bom. Melhor omelete que comi em muito tempo. — Olhou triste para o prato. — Melhor comida sólida que eu comi em muito tempo.
— Ei o que foi? — Nicolas pegou em sua mão preocupado.
— Antes de toda essa loucura eu tinha, tenho leucemia — pegou uma mecha do cabelo nas mãos — Segundo o Draco, meu corpo foi restaurado. Não entendo bem.
— Ele tem razão.
— Você sabe o que aconteceu comigo? — Perguntou com os olhos arregalados.
— Na verdade, não. — Nicolas desviou os olhos dos dela e se concentrou em seu prato por alguns segundos. — O processo normal seria: Você Melissa morrer e Draco assumir o seu corpo. Durante alguns dias canalizar energia suficiente junto com os outros elementais e canalizar para poder restaurar o poder da terra.
— Como isso? — Melissa parou de comer para prestar atenção nele.
— No solstício de verão, onde o dia é mais longo. Os quatro elementais se reúnem e liberam esta energia de volta à terra para que assim, mais mil anos a terra seja energizada.
— E onde exatamente fazemos isso?
— Só os guardiões da terra sabem onde fica o cristal. — Ele apontou para o prato com seu próprio garfo. — Coma.
— Guardiões? — Melissa deu uma garfada e mesmo de boca cheia perguntou.
— Cada elemental tem seu guardião. Elemental da água tem os tritões, da terra os lobos, do ar os silfos e do fogo os magos.
— Espera. — Largou o garfo e ergueu as mãos. — Tritões são, tipo sereias?
— Sim. Lobos ou Lobisomens. São os transmorfos, se transformam em lobos. E os silfos, são homens pássaros. Corpo de homem, mas possuem asas nas costas.
— E os magos? No que se transformam?
Sorriu sem graça e comeu seu último bocado de omelete. — Em nada. Sou só isso que você está vendo.
“Ai que vontade de o abraçar”, Melissa observou o rapaz em sua frente, não entendeu os sentimentos contraditórios que estava sentindo, uma hora, medo e outra atração, algo dizia a ela que deveria ficar longe dele.
— Um mago do fogo em seu potencial máximo vira fogo puro. Coma.
— Sim, senhor — mostrou a língua para ele enquanto comia tudo. — Você disse o processo normal. Por que agora não é normal?
— Porque acredito que Melissa é dona deste corpo e você mencionou o Draco como se fosse uma terceira pessoa.
— Ele estava me chateando na minha cabeça — apontou — Mas agora é só silêncio.
— Eu estive pensando — Levantou e retirou os pratos e os colocou na máquina de lavar, da geladeira pegou uma tigela de frutas cortadas que deixou gelando e trouxe para ela, pegou dois garfos e entregou um e manteve o outro para si. — O fato de você e Draco estarem habitando o mesmo corpo, deve estar enfraquecendo os poderes dele.
— Você acha?
— Sim. Você usou Ignis Draconem por pouco tempo e desmaiou por horas.
— Draco pediu para assumir meu corpo, eu estava cansada e deixei. — Deu de ombros agarrando a corrente e brincando com o pingente.
— Gostou do presente?
— Foi você que me deu? — Olhou para o coração vermelho e sorriu para ele — É lindo, obrigada.
— De nada. — Ofereceu uma uva para ela que pegou com os lábios. — Vocês chegaram muito cedo também. Hoje é dia dezoito de novembro e o solstício de verão é só dia vinte e um de dezembro.
— Hoje é dia dezoito?
— Sim. Até a meia-noite — Ele olhou para o relógio na parede. — Falta algumas horas ainda para isso.
— Então parabéns para mim — deu de ombros pegando um morango.
— É seu aniversário?
— Vinte e oito anos de pura gostosura — Quase engasgou com o olhar quente que ele lançou sobre ela.
Nicolas levantou da cadeira, deu a volta na ilha e se aproximou dela. — Parabéns, pequena, que muitos outros anos venham. — Foi dar um beijo no rosto dela, ao mesmo tempo que ela virava e acabou dando um selinho em sua boca. Aproveitando da situação, ele a tomou nos braços e aprofundou o beijo. A tomando com vontade, descarregando mil anos de saudade e desespero. Melissa o agarrou como se fosse uma tábua de salvação se entregando de corpo e alma a ele.
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Atualizado até capítulo 24
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