Não dormi nada noite passada. A quarta feira vai ser sofrida pelo visto.
Queria tanto que as minhas férias chegassem logo pra que eu pudesse me afundar em casa sozinha. Infelizmente eu tive que vir trabalhar, vesti qualquer roupa que apareceu pela frente e estou a base de café.
- Que cara é essa, Ágata?
Quem me pergunta é Marise, ela é minha amiga e trabalha aqui há três anos. Marise é advogada, mas não participa do jurídico da empresa. Cursou direito só pra agradar a família, ela gosta mesmo é de DP.
Olho pra ela sentindo a água inundar meus olhos.
- Pierre saiu de casa essa noite.
Ela arregala os olhos ouvindo isso.
- Mas no seu aniversário e de vocês? O que aconteceu?
Dou uma fungada nada elegante e passo a mão ajeitando meu rabo de cavalo.
- Ele me contou que tem um caso com a assistente dele há dois anos, desde que ela tinha vinte e dois, e ela está grávida agora. Ontem, enquanto eu preparava a nossa noite na minha folga de aniversário, ele ia na consulta de pré natal e ouvia o coração do bebê que vai ter com outra mulher. Vinte e um anos de história, quinze anos de casamento, valeram menos do que uma paixão com uma garota e um relacionamento de dois.
Marise me dá um lenço de papel quando eu não seguro as lágrimas.
- Estou me sentindo um lixo. Ele me trocou por uma mais nova e que ainda conseguiu dar a ele o que tanto desejou e eu não pude.
Esfrego meu peito sentindo uma dor tão grande por falar disso. É o ápice de humilhação pra qualquer mulher.
- O que será que eu fiz de errado?
Minha amiga gira a minha cadeira de rodinhas pra que eu olhe pra ela.
- Nada! Ouviu bem? Nada! Você não é culpada pela falta de caráter dele e dela, não é culpada por não poder ter filhos, não é culpada por ele ir embora. Deu o seu melhor por anos, entregou sua juventude e vitalidade, seu amor, Pierre é que não soube dar valor.
Pois é, eu dei tudo.
Dei meu primeiro beijo, minha castidade, minha primeira paixão e primeiro amor pra ele, me entreguei por inteiro e estava crente de que ficariamos enrugados juntos.
Agora meus melhores anos passaram e não há mais nada, a não ser uma Ágata rejeitada nessa altura do campeonato.
- Já tem um advogado?
Nego com a cabeça.
- Não, ele saiu de casa no meio da madrugada e eu não tive tempo pra nada, a não ser chorar.
Minha amiga me diz de imediato.
- Eu vou advogar pra você e não te cobro nada. Assim que o advogado dele entrar em contato você passa o meu número.
Dou um sorriso fraco pra ela.
- Obrigada por isso.
Marise é morena, ela tem a mesma altura que eu, mas um pouco mais de corpo. Casada com um cara advogado também, e que trabalha aqui na empresa lá no jurídico mesmo. François é amigo pessoal do senhor Duran, o dono disso tudo aqui.
Sempre me disse pra deixar de ser boba e que eu me esforçava sozinha nessa relação. Eu colocava a comida no prato pra Pierre e ela faltava morrer com isso, dizia que ele tinha mãos.
Na realidade ela já enxergava o que eu não queria enxergar, ou fingia que não enxergava.
O dia passa se arrastando e quando eu chego em casa subo pra meu quarto e sinto um golpe duro observando o lado do closet de Pierre vazio. Quarenta e seis cabides transparentes pendurados sem uma peça de roupa sequer, as gavetas estão vazias, a bancada de acessórios agora tem só o relogio que eu comprei pra ele e que eu deixei lá de manhã. Ele veio aqui enquanto eu estava no escritório.
Me livro da minha roupa e ligo o chuveiro deixando a água cair no meu corpo enquanto eu choro desesperada. A vida que eu sempre conheci está acabando.
Eu fracassei mais uma vez...
********
Segunda feira no escritório, vegetei o final de semana inteiro sozinha enquanto bebia chocolate quente e assistia comédias românticas em que mocinhas vivem amores verdadeiros e pra sempre.
A coisa mais patética, eu sei, mas quando se tem uma familia como a minha...
Bom, deixa pra lá.
Não vale a pena me estressar com isso agora, não mesmo, já basta o meu problema aqui. Deixo pra pensar em como contar depois.
Estou na copa enchendo uma xícara de café pra mim. A segunda feira é atípica, é dia dos filhos no escritório e eu sempre adorei ver esse lugar cheio de crianças, traz uma alegria. Eles são tão fofos. Já vi crianças aqui de todos os tipos, todos filhos de funcionários desse setor.
De repente uma garota com cabelos grossos, longos e marrons entra na copa. Não a reconheço, é esguia e delicada, tem um laço vermelho prendendo um penteado e olhos azuis acinzentados.
- Bonjour, você viu Marise?
Abro um sorriso pra ela.
- Bonjour, ainda não chegou. Posso te ajudar?
Logo depois vem um garoto um pouco menor que ela, o mesmo tom de cabelos e olhos.
A garota sorri pra mim e eu vejo as covinhas nas bochechas.
- Ah, não, eu queria vê-la.
Ela é linda, e acho que o garoto é seu irmão. Estão vestidos de maneira mais formal. Ela tem um vestido com uma leve roda e uma saia de tule por baixo, ele usa um suspensório claro em uma calça de Oxford.
- Como vocês se chamam?
Ela aponta pra si própria.
- Eu sou Coraline...
Depois aponta pro menino.
- Esse é Maxime, meu irmão.
Abro um sorriso.
- Nomes lindos vocês têm.
Coraline agradece e quando eu pergunto quantos anos eles têm ela me diz que vai fazer onze na semana que vem e que o irmão acabou de fazer oito.
Ela se despede de mim e sai com ele da copa, nem tive tempo de perguntar de quem são filhos. Quando minha amiga chega eu já estou na minha mesa.
- Isso aqui tá animado hoje, hein?
Concordo com ela.
- Eles são maravilhosos.
Infelizmente eu nunca pude participar de algo assim aqui. Um inferno pensar que agora Pierre vai ter uma criança pra levar nesse dia no trabalho e não é um filho meu.
- Pode parar de pensar naquele bosta.
Não respondo nada e ela me pergunta:
- Como foi o final de semana?
Dou de ombros.
- Normal.
Marise toca meu ombro e me conforta.
- Agora você vai começar a viver de verdade.
Que seja.
- Duas crianças procuraram por você aqui hoje.
Decido mudar de assunto antes que eu acabe chorando.
Ela me olha confusa.
- Por mim?
Ela e François não tem filhos ainda.
- Sim. Uma garota linda chamada Coraline e o garotinho é Maxime.
Marise abre um sorriso.
- Olha, ele trouxe os dois.
Questiono quem.
- Leon. Os meninos sempre foram doidos pra conhecer isso daqui, mas ele nunca trouxe.
Arregalo os olhos.
- O senhor Duran tem filhos?
Marise abre um chiclete e me oferece, enquanto eu nego com a cabeça ela diz:
- Os mantém sobre absoluto cuidado. Não quer exposição exagerada dos filhos, eles não são fotografados nunca pra gente de fora.
Hum, interessante.
- Nunca pensei que ele pudesse ser pai.
O senhor Duran é um homem bonito e podre de rico, de vez em quando aparece em algum evento com uma modelo novinha de braços dados, mas não é classificado como mulherengo. Ele é discreto. Viúvo há um pouco mais de oito anos, a esposa dele morreu pouco tempo depois de eu chegar aqui vítima de pneumonia. Eu tinha vinte e seis anos e comecei como assistente, nunca vi ele cara a cara, poucas vezes e de relance além das fotos.
Dizem que ele mudou um bocado depois que ficou sozinho.
Nós nos concentramos no dia de trabalho e depois que volto do almoço tenho uma surpresa desagradável. Um oficial de justiça me espera.
- Senhora Rose?
Franzo a testa já sabendo do que se trata.
- Eu mesma.
Ele me estende uma prancheta.
- Assine aqui por favor. Compareça no local e data marcados com quinze minutos de antecedência.
Pego o papel e respiro fundo quando vejo que Pierre deu entrada sem nem ao menos o advogado dele me procurar.
Marise pega a intimação da minha mão e me diz:
- Não se preocupa, eu cuido disso.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Rosiclei Carniel
Eu acho que ele vai quebrar a cara com a novinha
2024-11-13
1
Carmem Lùcia Pimenta
Bosta kkkk😂🤣💩💩
2024-11-12
0
Elenic Matos
isso mesmo que ela fique com o milionário e tenha gêmeas
2024-11-01
0