02

Guarnição militar,

Área isolada de Berlim, meia-noite

Na noite do primeiro dia, Rudolf dormiu em seu escritório. Com a porta trancada e as cortinas bloqueando a visão das janelas, a garota tentou se mexer e então, desorientada, deixou um leve gemido de dor beirar seus lábios.

O capitão acordou com esse primeiro movimento. Treinado para detectar até mesmo o mais sutil dos ruídos, seus olhos se abriram no exato momento momento em que ela tentava se desvencilhar das cordas que lhe apertavam os pulsos e os tornozelos.

— Um pouco tarde para acordar, não acha?

Rudolf tentou esconder o incômodo causado pelas horas em que estivera adormecido em uma única posição. Os ossos de sua coluna estalaram ruidosamente, e só então ele conseguiu se colocar de pé.

Encolhida e amarrada, ela viu o oficial se levantar. Ele resmungou de dor e, por instinto, sua mão tocou a perna esquerda. Foi uma cena que durou apenas alguns instantes e logo ele começou a caminhar em sua direção. Na estante atrás de si havia uma jarra com água pela metade e um copo de vidro. Ele sabia que ela estava com sede, afinal seus lábios ressecados após horas sem ingerir nenhuma gota de líquido denunciavam isso.

— Q-Quem é... – sua voz soou rouca e falha. Havia um esforço notável em tentar pronunciar as poucas palavras que pretendia. Sua garganta ardia e um estranho gosto de sangue a fazia estremecer.

Em silêncio Rudolf se aproximou. Encheu metade do copo com água e a fez beber. Era como ele havia imaginado: ela estava sedenta. Após o primeiro copo, a garota o implorou que enchesse mais dois e lhe desse para beber.

— Eu sou o capitão deste lugar. Aqui dentro meu nome é Hensel. Hauptmann Hensel.

Além da sede excessiva, ela também tinha fome. Muita fome.

— O-Onde... – ela tentou. Sua garganta já estava bem melhor. — Onde...onde estou?

— Não está fora de Berlim, apenas saiba disso.

— E-Eu...eu deveria estar morta...

Rudolf se levantou. Ele colocou o copo vazio sobre sua mesa. Havia uma maçã na mesa. A fruta fazia parte de sua dieta, mas por algum motivo ele acabou caindo no sono antes que pudesse comê-la.

Ele sorriu. Ela realmente deveria estar morta.

— Já vi muitas mulheres bonitas serem mortas. Você parece ariana e eu acho que uma beleza tão espetacular assim não deveria ser desperdiçada.

— Eu sou judia. Prefiro mil vezes ser como eu sou do que ser como vocês!

Era uma mulher geniosa, visivelmente temperamental. Rudolf gostou disso. Ele sempre gostava de pessoas fortes, de espírito sagaz.

— Parece que sua língua ficou um tanto afiada depois dos copos de água que lhe dei. – ele disse. Os olhos da garota o encaravam com atenção. — Devia me agradecer. Estou lhe dando uma segunda chance.

— Pra quê? Nazistas não são confiáveis. Vocês matam por prazer. São desprezíveis!

Foi neste momento que Rudolf sentiu o sangue esquentar. Ela não tinha autoridade nenhuma para falar daquele jeito. E após tal disparate, o primeiro castigo iria começar: ela ficaria sem comida e sem água.

— Melhor dobrar a língua. Os únicos desprezíveis aqui são vocês! – ele respondeu, a voz carregada de ódio. — E escute: é melhor se comportar, seguir a risca todas as minhas ordens, porque senão realmente vou lhe matar. Você me entendeu?!

Ela não estava nas condições adequadas naquele momento. Já foi um tremendo descuido desafiar a paciência do oficial e ao se dar conta de sua idiotice, ela se calou. As cordas apertavam muito seus pulsos e suas pernas já estavam dormentes.

— Sabe – ele recomeçou, a voz mudando bruscamente. —, pensando na sua beleza...eu acho que você poderia enganar a qualquer um. Posso dizer a todos que você é ariana, assim sua vida é poupada da morte. Mas, óbvio, para isso há um preço e sua obediência a mim terá que ser primordial.

Ela se remexeu, incômoda. Um brilho estranho se fez nos olhos daquele homem, assim como um sorriso malicioso surgiu em sua face.

O homem se aproximou novamente. Ele se agachou e sua mão tocou o rosto delicado da garota. Seus dedos deslizaram até o queixo dela, fazendo-a olhar para si.

Ela era linda, porém seus olhos eram traiçoeiros. Olhos castanhos não eram bem vistos, e ela tinha os mais belos olhos castanhos.

— Vou deixar você pensar. Te dou o tempo que precisar. Mas saiba que durante todo o tempo que estiver pensando você estará privada de comida e água.

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Comments

Mafiosa

Mafiosa

/CoolGuy/

2024-06-01

1

New Biana

New Biana

l3ndo

2024-05-27

0

Maria Luisa Andrade

Maria Luisa Andrade

tá maravilhoso

2024-05-25

0

Ver todos

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