Conhecendo Miguel.

Em pleno meus 27 anos, ainda me pego pensando se seria capaz de reconhecer aquela garotinha, que agora seria uma jovem mulher. Mas sei que foi, apenas um sonho bobo da minha infância.

Amo minha família, mas depois que minha mãe morreu, me tornei frio e calculista, muitas vezes sou chamado pelo sistema do governo para ajudar a capturar criminosos de alto calibre.

Não sou um homem que vive sorrindo, muito pelo contrário, sou extremamente sério e calculista.

Meu pai sempre quer que eu seja como antes, um jovem sorridente como eu era. Mas depois que a mãe se foi, não vi mais sentido nisso, pois digo ao meu pai que o amor não é suficiente, pois mesmo amando a minha mãe, ela se foi.

Tenho meu primo e melhor amigo Fernando, que trabalha no hospital da minha família, e também tenho um carinho enorme pela minha governanta chamada Maria, que está na família há anos e me chama de menino até hoje. Ela é como uma segunda mãe para mim.

Certo dia, estava em uma de minhas empresas quando minha secretária me informou que uma moça deixou seu currículo ali, mesmo ela dizendo a mesma que não estávamos contratando, ainda mais sem experiência.

Ela disse que a moça insistiu tanto que ela acabou pegando o currículo, eu pedi para ver o currículo dela e percebi que realmente não tinha experiência.

Mas então me lembrei de que tinha dito a Maria que queria contratar alguém para ajudá-la no que precisasse. Talvez essa moça fosse útil nesse sentido.

Liguei para Maria para falar sobre isso, mas ela já havia encontrado alguém para ajudá-la. Eu fiquei feliz por ela ter encontrado alguém, mas também decidi investigar a moça antes de contratá-la, afinal, ela iria trabalhar na minha casa e ficar próxima a Maria.

Sempre preciso estar alerta e atento, afinal, minha família é uma das mais bem sucedidas do mundo e eu sou um cara que quando não está resolvendo assuntos empresariais, está caçando os monstros ocultos dessa sociedade.

Cheguei em casa exausto, após um longo dia de trabalho. Normalmente, eu não vou às minhas empresas, tenho uma equipe competente que cuida de tudo para mim. No entanto, em algumas situações, é necessário que eu esteja presente para dar a cara a tapa e mostrar que sou o chefe.

Ao chegar em casa, fui recebido por Maria, ela me informou que havia preparado tudo para a entrevista de amanhã com a moça gentil que ela havia conhecido. Confesso que não sou muito paciente com algumas pessoas, então espero que ela esteja certa e essa candidata seja realmente boa.

Apesar de ter um grande sucesso nos negócios, eu percebi que, ao longo do tempo, perdi a capacidade de lidar com as pessoas de maneira empática e compreensiva.

É fácil ser duro quando se está no comando, mas eu comecei a me questionar se essa era a melhor abordagem. Talvez eu devesse aprender a ouvir e a entender os outros.

Enquanto eu pensava nisso, senti uma sensação de solidão. Eu tinha dinheiro, sucesso e poder, mas algo estava faltando. Eu me perguntava se era possível ter sucesso sem sacrificar a minha humanidade.

Será que eu poderia ser bem-sucedido e, ao mesmo tempo, uma pessoa compassiva e sensível?

Essas questões me acompanharam até o momento em que adormeci. Eu sabia que precisava mudar algo em minha vida, mas não sabia exatamente o que era. Talvez a entrevista de amanhã me desse algumas respostas.

(NO DIA SEGUINTE)

A candidata que Maria havia conhecido chegou em minha casa para a entrevista de emprego.

Seu nome era Júlia, Assim que a vi, fiquei paralisado. Era como se o tempo tivesse parado. A jovem é linda, usando uma blusa de malha colorida e peculiar, de alguma forma ela pareceu familiar para mim.

Uma jovem tímida e gorda, ela não seguia os padrões impostos pela maioria da sociedade e isso me atraiu instantaneamente.

Eu finalmente conheci alguém que representa a ideia de que nenhuma mulher deve ser rotulada para provar sua beleza, pois a beleza existe em diversas formas e cores.

Seus cabelos negros como ébano caíam em cascata sobre seus ombros, enquanto seus olhos castanhos escuros brilhavam como duas pérolas negras. Senti algo que nunca havia sentido antes, meu coração parecia querer saltar do peito.

— Olá, sou Júlia. — ela se apresentou, com uma voz suave e doce.

— O-oi, eu sou Miguel. — respondi, tentando parecer calmo.

Percebi que ela ficou surpresa quando disse meu nome.

Durante a conversa, Júlia parecia nervosa e falava baixo, o que me deixava um pouco irritado. Porém, havia algo nela que estava mexendo comigo, e eu não conseguia entender o porquê.

Talvez fosse o jeito peculiar dela ou o fato de que eu não estava acostumado a lidar com pessoas tão diferentes das que eu conhecia.

Depois da entrevista, eu decidi contratar Júlia, ela começaria na manhã seguinte, mas eu notei que sua presença mexeu comigo de uma forma que eu não conseguia controlar. Eu me senti atraído por ela, mas ao mesmo tempo, irritado.

Logo depois, assumi minha postura fria e calculista e tentei afastar esses sentimentos de minha mente.

Mas a verdade é que ela havia mexido comigo de uma forma que eu nunca havia sentido antes. Eu me sentia confuso e perturbado, e isso me irritava ainda mais.

Eu sabia que precisava lidar com meus sentimentos e encontrar uma forma de controlá-los, mas não sabia como. Esperava que isso não se tornasse um problema e que eu pudesse superar essa sensação o mais rápido possível.

Foi um alívio sair um pouco e aproveitar a hora do almoço com o Fernando. Depois de alguns minutos de conversa fiada, finalmente tomei coragem para contar a ele sobre a Júlia.

Eu estava tão confuso com meus sentimentos em relação a ela que precisava desabafar com alguém de confiança.

— Fernando, eu preciso te contar sobre a Júlia. Ela é a moça que eu contratei hoje e mexeu muito comigo. — comecei a explicar.

Fernando olhou para mim com curiosidade, dando a entender que estava interessado na história.

— O que aconteceu, cara ? — perguntou ele.

— Bem, eu não sei explicar direito. Ela é tímida, gorda, bem bonita na verdade, e de alguma forma o jeito dela me instigou. Eu me senti irritado e excitado ao mesmo tempo. Será que eu estou tendo algum distúrbio ou algo assim ? — Questionei.

Fernando soltou uma gargalhada alta e descontrolada, chamando a atenção de todos no restaurante.

— Cara, você é um engraçadão! Não acredito que você está falando sério. Você está se sentindo atraído por uma mulher tímida e gorda e acha que tem algum distúrbio? Isso é normal, meu amigo. Você só precisa se acostumar com a ideia de que gosta de uma mulher fora do padrão.

Apesar da risada que o Fernando soltou ao ouvir sobre minha atração por Júlia, eu percebi que ele não entendia totalmente meus sentimentos.

Ele estava tão preso em seus próprios conceitos que não conseguia enxergar além deles.

— Não, Fernando, você não entendeu. Não é o fato de ela ser gorda que me incomoda. Eu não ligo para essas coisas superficiais. O que me incomoda é que eu não acredito em clichês românticos. Eu não quero gostar de alguém e me machucar no final. Por isso estou confuso em relação aos meus sentimentos por ela. — expliquei.

Fernando me olhou com um pouco de incredulidade, como se achasse que eu estava inventando desculpas. Mas eu sabia que não estava, e então ele disse:

— Cara, clichês existem por um motivo. Eles funcionam. E você não pode evitar seus sentimentos apenas porque tem medo de se machucar. Isso faz parte da vida, meu amigo.

As palavras dele me tocou, mas meu medo não era de me machucar na verdade, mas sim de perder aqueles que amo.

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