Discussão

Ao entrar no carro do tio de Dylan, vejo a moça que me abraçou. Não sei o que tenho, não sou lésbica, mas mulheres sempre me encantam perdidamente, mais que homens.

Como ele ousa tentar enganar-me tendo uma esposa tão bela? Fora que pode ser que eu tenha interpretado mal. As vezes ele só pode ter julgado que sou uma menina legal, né? Existem muitas pessoas que me elogiam, por mais que tenha bem mais, as que me criticam.

— Senhor Alexandre. - ele fica atento a mim - Quero pedir desculpas. Eu... Eu não sou boa recebendo elogios. - digo e ele sorri virando-se para mim.

— Por que parece que você não entendeu a minha intenção?

— Intenção de dizer sou alguém legal? A sua esposa também disse. - a moça se arrepia, me perguntando desde quando ele era casado. - Isso você que deveria saber, certo?

— Ela não é minha esposa, Laila. Jamilly é minha irmã, óbvio que Dylan a chama de tia. - aí meu Deus! Que vergonha!

— Pensou que o meu tio fosse comprometido? Decepcionada? - Dylan tira sarro da minha cara.

Ignoro o meu amigo. Ele já foi motivo da maior parte do meu desgaste hoje. Apenas me viro para a janela, seja lá o que o senhor Alexandre queira, duvido que seja uma gorda como eu. Ele já entendeu as minhas intenções e agradecimentos.

Moro num subúrbio quase favelizado no estado de Goiás, podemos que dizer que sou comandada pelo tráfico por debaixo dos panos, e claro como qualquer cidade brasileira sofrendo com ondas de assaltos após um governo mais liberal.

Não é partidário político, de fato piorou tudo. Parece que os chefes dos quatros lados de Lagoa do sul perderam o controle sobre os seus cachorros e vêem mordendo a população como nunca fizeram. Todavia, ainda vivo num polo pacífico, pois moro ao lado de traficante então super tranquilo. Já esqueci portão aberto, tranquei errado, dormi igual pedra e nada. Uma das vantagens de ser amigáveis com os seus vizinhos.

Dylan tentou enganar-me dizendo morar aqui também, me levou a casa dele. Mas ele é um playboy estampado, o pai dele usa terno a mãe saltos em casa, patética encenação.

Ao contrário do tio, que não negou nenhum pouco a natureza elegante, ou acreditou que a sua riqueza seja opressão. A todos os ricos, não tenham pena de nós pobres. Dependendo dos nossos esforços, podem se tornar alguém com míseros centavos aos nossos olhos.

Sem contar que os pais dele são dois filhos da puta, escrotos, primeira coisa que repararam foi no meu físico e eu podia constatar o asco nos seus lábios. O bom tratamento forçado, repugnante.

Vejo-nos saindo da cidade. Estudamos numa escola militar corrupta, ela é quase pública, pois ainda tem um custo mensal bem baixo comparada as outras. Eles chamam contribuição não obrigatória, mas se não pagar, não renova matrícula. Ou seja, Dylan não foi expulso devido ao seu tio e pai, Alan não foi expulso por causa do seu pai. Já que ambos são porquinhos de dinheiro para eles.

Não sei o que o tio de Dylan é, talvez seja empresário assim como pai dele. Mas não é segredo para ninguém que o Alan foi folgado e, está com a cabeça em risco assim teve que fazer parceria com os canas. Por isso, um filho de traficante em colégio militar. Ironia, não é como se ele tivesse passagem então fecham os olhos para tudo.

Quem eu prefiro nesses dois polos? Com certeza é a justiça, e claro o que me mantém segura. Garanto que não é o que o crime organizado faz, fora que acho foda BOPE, CPE, CHOQUE, PRF, PF e PC, porque é a obrigação deles proteger-me como cidadã. Que faz odiar a PM, e recorrer ao crime para não pedir ajuda? O fato de quando eu precisei eles não me ajudaram, então aqueles que cancelam CPF ao invés de conversar é meu predileto. Valorizo demais a minha vida, porque ninguém se importa se eu tô viva ou se eu morri, nem mesmo o meu pai.

A essência, hipócritas constituem essa sociedade, tudo que nos restam é aceitar essa maldita realidade.

Para quem não entendeu, não somos iguais, pois somente aqueles que compartilham das mesmas opiniões pode compreender o básico sobre mim. Por isso que costumo dizer que sou rodeada de meros mortais, porque ninguém entende os meus ideais.

Orgulhosa? Talvez. Arrogante? Não sei. Cansada? Certeza.

Só sei que nada sei. Aqueles que diz em ter noção do que é capaz, nunca esteve a beira do colapso. Não tem a mínima ideia do que é se perder na própria mente, e não ter como voltar. A loucura persistente.

Tudo mundo tem uma história triste, mas pode ser subestimada por outros. Sabe por que isso acontece? Porque seu sofrimento nunca será menor que o do outro se você tiver uma dosagem comum de empatia.

A internet levando a todos a perdição. Uns utilizam ela de forma inofensiva, talvez a maioria, outros para fazer justiça, outros para destruir vidas, outros para fraturamento, o mundo cibernético é mil e uma maravilha. Dependendo também de perspectiva, eu, por exemplo, não uso muitas redes sociais WhatsApp, e olhe lá. O mundo real já é tóxico o suficiente, não há motivos para eu procurar mais frases narcóticas, de quem não faz a mínima ideia do meu inferno pessoal diário.

— Laila. - removem-me dos meus pensamentos.- Sinto que está inerte em coisas desagradáveis. - dou um sorriso.

— Quero saber o que há de agradável em um mundo comandado por humanos.

— E a misantropia dela ataca. - Dylan resmunga.

— Vai se ferrar. Você come marmita de aviãozinho, que direito crê ter de julgar-me? - ele lança-me um olhar furioso, e posso ouvir os seus tios contendo o riso. - Estou de saco cheio das suas babaquices. Que chamar atenção? Pinta a bunda de vermelho e sobe no poste. Eu não sou sua mãe, emocionado. Principalmente nesse momento, a última coisa para qual tenho tempo, é para dar atenção a você.

— Quem está a pedir atenção, porra!? - ele altera a voz.

Percebo uma sede de sangue vindo dos bancos dianteiros do carro, mas não abaixo a cabeça.

— Quem não te conhece que te compre, Dylan! Eu não, caramba! Sei bem que tá carente desde que a puta da sua ex largou, seu corno manso do caralho. Levou chifre, descobriu e fez-se de otário. Não joga a responsa para cima de mim, vira homem porra! Assuma os teus b.o, os meus já são o suficiente!

— Baixa a bola. - ele diz.

— Eu que diga, seu merdinha mimado.

Sim, meu melhor amigo. Mas não deixa de ter herdado o jeito filho da puta dos pais.

Que Merda.

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