Quando Clive por fim se acalmou e parou com seu histerismo felino, eu já estava completamente exausta e desperta. De qualquer jeito, precisaria levantar dentro de uma hora – e sabia que perdera todo o sono a que teria direito naquela
noite. Era melhor sair da cama e preparar o café da manhã.
– Miadora desgraçada – falei para a parede atrás de mim e caminhei até a sala.
Depois de ligar a TV, pus a máquina de café para funcionar e observei a luz da
alvorada, que apenas começava a despontar nas janelas. Clive se enroscou em
minhas pernas; revirei os olhos para ele.
– Ah, agora você quer que eu te dê amor, né? Depois de me trocar por Purina,ontem à noite? Que babaca você é, Clive – resmunguei, esticando meu pé e
acariciando-o com o salto.
Clive tombou no chão e posou para mim. Ele sabia que eu não resistia às suas poses. Sorri e me ajoelhei ao seu lado.
– Sim, sim, eu sei. Agora você me ama porque sou a pessoa que compra ração.– Suspirei e cocei sua barriga.
Antes de ir para o chuveiro, resolvi dar uma espiada no noticiário matutino.
Ouvi um barulho no corredor. Voltei para a cozinha, com Clive em meu calcanhar,
e coloquei um pouco de comida em uma tigela. Assim que meu gato teve o que
pretendia, fui rapidamente esquecida. Enquanto ia para o chuveiro, escutei uma
movimentação no corredor. Como a Caroline Bisbilhoteira em que eu estava
rapidamente me transformando, meti a cara no olho mágico para espionar Simon e Purina.
Ele se encontrava em pé, na soleira de sua porta – dentro do apartamento o bastante para impedir que eu vislumbrasse seu rosto. Purina estava no corredor, e dava para ver a mão de Simon afagando o longo cabelo dela. Praticamente ouvi o ronronar da mulher através da maldita porta.
– Hummmm, Simon, a noite de ontem foi… hummmm – ela ronronou de fato, inclinando-se para a mão dele, que agora repousava em sua face.
– Concordo. Essa é uma boa forma de descrever a noite de ontem e a manhã de hoje – ele disse calmamente, e os dois deram uma risadinha.
Lindo. Dois pelo preço de um, de novo.
– Você me liga quando voltar à cidade? – ela perguntou enquanto ele afastava ocabelo de seu rosto.
– Ah, pode contar com isso – ele falou e então a puxou para aquilo que sópude deduzir que tenha sido um beijo arrasador.
Ela levantou um pé, como se estivesse posando. Comecei a revirar os olhos,
mas isso doeu. É que meu olho direito estava muito pressionado contra o olho mágico, sabe.
– Dosvidaniya – ela sussurrou com seu sotaque exótico. Soava muito melhor
agora que não miava como uma gata no cio.
– Claro – riu ele, e, com isso, ela partiu graciosamente.
Fiz um esforço para vê-lo antes que entrasse de novo, mas nada. Perdi-o outra vez. Tinha de admitir: depois das palmadas e dos miados, estava morrendo de
vontade de saber como ele era. Genuínas proezas sexuais estavam rolando no
apartamento ao lado. Eu só não entendia por que isso tinha de afetar o meu sono.
Virei as costas à porta de entrada e fui para o chuveiro. Debaixo da ducha, ponderei o que diabo era preciso para fazer uma mulher miar.
Por volta das sete e meia, já na rua, pulei em um bonde e revisei o dia que tinha
pela frente. Ia encontrar um cliente novo, finalizar alguns detalhes de um projeto que terminara recentemente e almoçar com minha chefe. Sorri ao pensar em Jillian.
Jillian Sinclair possuía sua própria empresa de design, na qual eu tivera a sorte de estagiar em meu último ano em Berkeley. Com quase quarenta – mas com a aparência de quase trinta –, ela construiu uma reputação sólida na comunidade do design. Desafiou convenções, foi uma das primeiras a varrer do mapa o shabby chic
e a resgatar os tons neutros e serenos e os padrões geométricos do visual “moderno” que era a grande moda atual. Ela me contratou definitivamente quando o estágio acabou e agora me proporcionava a melhor experiência que uma jovem designer poderia desejar; era estimulante, criteriosa, com um instinto infalível e um olho para detalhes mais infalível ainda. Mas a melhor coisa de trabalhar para ela?
Jillian era divertida.
Quando saltei do bonde, logo avistei meu escritório. O Jillian Designs ficava no Russian Hill, uma bela área da cidade: mansões de contos de fadas, ruas sossegadas,
vista fantástica para as colinas mais altas. Algumas das maiores casas antigas haviam sido convertidas em espaços comerciais, e o nosso edifício era um dos melhores.
Soltei um suspiro ao entrar em minha sala. Jillian pedira a cada designer que desse uma cara própria ao seu espaço particular. Era uma maneira de mostrar a
potenciais clientes o que eles podiam esperar, e eu pensei muito sobre meu ambiente de trabalho. Paredes de um cinza profundo eram acentuadas por suntuosas cortinas rosa-salmão. Minha mesa era de ébano escuro, com uma cadeira
forrada de seda champanhe e dourada. A sala era discretamente distinta – com um
toque de extravagância provido pela minha coleção de anúncios das sopas Campbell’s dos anos quarenta e cinquenta. Tinha encontrado vários deles em uma
venda de garagem, todos recortados de antigas edições da revista Life e
emoldurados. Eu sorria toda vez que os olhava.
Gastei alguns minutos jogando fora as flores da semana anterior e preparando um novo buquê. Toda segunda-feira, eu parava na floricultura vizinha ao escritório para escolher flores para a semana. As flores mudavam, mas as cores tendiam a recair nas mesmas paletas. Eu era particularmente fã dos laranjas e rosas intensos,
pêssegos e dourados calorosos. Desta vez, tinha escolhido rosas híbridas de uma linda cor coral, com uma coloração framboesa nas pontas.
Reprimi um bocejo e sentei à mesa para me preparar para o dia. Vislumbrei Jillian quando ela passou pela minha porta e acenei. Sempre impecável, ela era alta, esguia e adorável. Hoje, vestida de preto da cabeça aos pés, exceto pelo peep toe
fúcsia, estava arrasando, poderosa.
– E aí, gata! Que tal o apartamento? – Jillian perguntou, sentando-se na cadeirado outro lado da mesa.
– Fantástico. De novo, muitíssimo obrigada. Nunca vou conseguir te pagar.Você é a melhor.
O meu novo apartamento era propriedade de Jillian, ela o havia comprado
assim que se mudara para a cidade, anos atrás. Agora, estava reformando uma casa em Sausalito. Tendo em vista o que eram os aluguéis em San Francisco, foi um achado. Eu já me preparava para continuar com as bajulações, quando ela me deteve
com um aceno de mão.
– Psiu, não é nada. Sei que devia ter me livrado disso, mas foi o primeiro
apartamento em que morei sozinha e não gostaria de me desfazer dele. Gosto da
ideia dele estar sendo habitado de novo. É um bairro tão bom… – Ela sorriu, eu
sufoquei outro bocejo. – Caroline, é manhã de segunda-feira. Como você já pode
estar bocejando?
Dei uma risada.
– Quando foi a última vez que você dormiu lá, Jillian? – Fitei-a por cima deminha xícara de café. Era a terceira.
– Nossa, já faz algum tempo. Um ano, talvez? Benjamin estava fora da cidade, eeu ainda tinha uma cama por lá. Às vezes, quando trabalhava até tarde, acabava dormindo no apartamento. Por quê?
Benjamin era o seu noivo. Milionário que conquistou tudo sozinho, capitalista de risco e estonteantemente bonito. Minhas amigas e eu tínhamos uma paixãozinha
platônica por ele.
– Você ouviu algo vindo do apartamento vizinho? – perguntei.
– Não, não. Acho que não. Tipo o quê?
– Hum, barulhos. Barulhos tarde da noite.
– Não, não quando eu estava lá. Não sei quem vive lá agora, mas acho quealguém se mudou no ano passado. Ou há dois anos? Nunca conheci. Por quê? O que você escutou?
Corei furiosamente e dei um gole no café.
– Espera aí. Barulhos tarde da noite? Caroline? Sério? Você ouviu o vizinho
transando? – ela indagou.
Bati a cabeça na mesa. Ai, meu Deus. Flashbacks. Nada de pancadas. Dei uma espiadinha em Jillian, que lançou a cabeça para trás numa gargalhada.
– Jesus, Caroline! Não fazia ideia! O último vizinho, pelo que me lembro tinhauns oitenta anos, e o único ruído que vinha daquele quarto era das reprises de Gunsmoke. Mas, pensando bem, eu realmente conseguia ouvir os episódios muitíssimo
bem…
– Céus, não é Gunsmoke o que vem daquelas paredes agora. É sexo, pura e
simplesmente. E não é sexo cheio de frescura, ou monótono. Estamos falando de sexo… interessante. – Abri um sorriso.
– O que exatamente você escutou? – Jillian perguntou, os olhos brilhando.
Não importa sua idade, nem de onde você é, existem duas verdades universais: sempre damos risada de… gases na hora errada e sempre queremos saber sobre o que acontece na cama alheia.
– Jillian, sério: nunca escutei nada assim antes! Na primeira noite, eles estavambatendo na parede com tanta força, que um quadro caiu na minha cabeça!
Os olhos de Jillian se arregalaram, e ela se inclinou sobre a mesa.
– Mentira!
– Não é mentira, não! Depois ouvi… Cruzes, ouvi tapas. – Eu estava conversando com a minha chefe sobre espancamento erótico. Entende por que adoro minha vida?
– Nãããão! – Jillian falou, e rimos como duas colegiais.
– Siiiiiim. E ele fez a minha cabeceira se mexer, Jillian. Se mexer! Vi a Castigadana manhã seguinte, quando ela estava saindo.
– Você a chama de Castigada?
– Claro! E, então, ontem…
– Duas noites seguidas! A Castigada foi castigada de novo?
– Que nada, ontem fui presenteada com uma aberração da natureza que batizeide Purina.
– Purina? Não entendi. – Ela franziu as sobrancelhas.
– A russa que ele fez miar.
Ela riu outra vez, o que fez Steve, da contabilidade, enfiar a cabeça no vão da
porta.
– O que vocês estão tagarelando, hein? – ele perguntou e então começou a rirenquanto se afastava, ainda balançando a cabeça.
– Nada! – respondemos em uníssono, para cairmos na gargalhada novamente.
– Duas mulheres em duas noites, é impressionante – Jillian suspirou.
– Impressionante? Não, não. Galinha? Sim, sim.
– Uau. Você sabe o nome dele?
– Pior que sei. É Simon. Sei, porque Castigada e Purina ficaram gritando semparar. Não foi difícil deduzir. Trepador de paredes maldito – bufei.
Jillian permaneceu calada por um momento e, então, abriu um largo sorriso.
– Simon Trepador de Paredes: adoro!
– É, você adora. Não foi o seu gato que tentou acasalar com uma russa quemiava através da parede, de madrugada. – Soltei um riso pesaroso e bati novamente a cabeça na mesa; nós continuamos dando risada.
– Muito bem, vamos trabalhar – disse Jillian por fim, enxugando as lágrimasdos olhos. – Preciso que você fisgue esses clientes de hoje. Que horas eles vêm?
– Ah, os Nicholson vêm à uma. Os projetos e a apresentação estão prontinhos.Acho que eles vão gostar bastante do que fiz com o quarto. Vamos oferecer uma
saleta anexa à suíte e um banheiro novinho em folha. Ficou sensacional.
– Não duvido. Você me fala quais são suas ideias durante o almoço?
– Claro, sem problemas – respondi enquanto Jillian se encaminhava à porta.
– Sabe, Caroline, se você conseguir fechar esse negócio, será ótimo para a empresa – disse ela, me fitando através de seus óculos com aro de tartaruga.
– Espere só até ver o que preparei para o novo home theater dos Nicholson.
– Mas eles não têm um home theater.
– Ainda não – falei, arqueando as sobrancelhas e sorrindo astuciosamente.
– Gostei – ela aprovou e saiu para começar o seu dia.
Definitivamente, os Nicholson eram o tipo de casal que eu queria ser. Mimi
havia feito alguns serviços para Natalie Nicholson, endinheirada e de sangue azul, quando Natalie remodelou seu escritório, no ano passado. Ela me indicou para o
design do interior, e eu imediatamente comecei a planejar a transformação do
quarto do casal.
Trepador de Paredes. Céus!
– Fantástico, Caroline. Simplesmente fantástico – Natalie delirou enquanto euacompanhava ela e o marido até a porta da frente. Tínhamos passado quase duas horas revisando o projeto, e, tendo nos acertado quanto a uns poucos detalhes, não tive dúvida de que seria um trabalho excitante.
– Então, você acha que é a designer certa para nós? – Sam perguntou, piscandoos profundos olhos castanhos, envolvendo a cintura da esposa com o braço e brincando com o rabo de cavalo dela.
– É você quem me diz – provoquei-o, sorrindo para ambos.
– Adoraríamos trabalhar com você neste projeto – Natalie disse ao apertarmosas mãos.
Eu me cumprimentei mentalmente, mas mantive o rosto impassível.
– Excelente. Entro em contato em breve, e podemos começar a planejar umcronograma – falei enquanto segurava a porta do escritório para os dois.
Permaneci no vão e dei um tchauzinho; depois, entrei, deixando a porta bater
atrás de mim. Dei uma olhadinha para Ashley, nossa recepcionista. Ela ergueu uma
sobrancelha para mim, e eu retribuí o gesto.
– E aí? – perguntou ela.
– Na mosca! – Suspirei, e ambas soltamos gritinhos histéricos.
Jillian desceu a escada enquanto fazíamos uma dancinha e se deteve.
– O que aconteceu aqui embaixo? – perguntou, sorridente.
– Caroline fechou com os Nicholson! – Ashley exclamou.
– Boa! – Jillian me deu um abraço rápido. – Orgulhosa de você, gata – elasussurrou, e eu brilhei. Sério, brilhei mesmo.
Saltitei até o meu gabinete, dando gritinhos e estalidos com a língua ao
contornar a mesa. Sentei, rodopiei na cadeira e observei a baía.
Boa jogada, Caroline. Boa jogada.
Naquela noite, ao sair com Mimi e Sophia para comemorar meu sucesso, posso
ter virado mais do que algumas margaritas. Segui em frente com shots de tequila e
ainda lambia o sal que já não existia no meu pulso enquanto elas me ajudavam a
subir a escada.
– Sophia, você é linda! Sabe disso, não sabe? – falei, me inclinando para elaenquanto rastejávamos pelos degraus.
– Sim, Caroline, sou linda. Bela observação do óbvio – ela disse. Com quaseum metro e oitenta e um flamejante cabelo ruivo, Sophia tinha total consciência da sua aparência.
Mimi riu, e me virei para ela.
– E você, Mimi, é a minha melhor amiga. E é tão minúscula! Aposto que eupoderia te carregar no bolso.
Soltei uma risada enquanto tentava encontrar meu bolso. Mimi era uma filipina
nanica com pele cor de caramelo e cabelo negro retinto.
– Devíamos tê-la proibido de beber depois que o guacamole acabou – Mimiresmungou para Sophia. – Não vamos mais deixá-la beber sem comida por perto. –
Ela me arrastou pelos últimos degraus.
– Não fale de mim como se eu não eu não estivesse aqui – reclamei, tirandominha jaqueta e começando a fazer o mesmo com a blusa.
– Ei, nada de ficar pelada no corredor, ok? – Sophia me repreendeu, retirando achave da minha bolsa e abrindo a porta. Tentei beijá-la na bochecha, mas ela se esquivou.
– Caroline, você está fedendo a tequila e repressão sexual. Sai de perto de mim.– Ela soltou uma risada e me ajudou a passar pela porta. A caminho do quarto, avistei Clive no peitoril.
– Oi, Clive. Como vai o meu garotão?
Ele me encarou e saiu. Clive desaprovava meu consumo de álcool. Mostrei a
língua para ele. Desabei na cama e fitei minhas amigas no umbral da porta. Elas sorriram afetadamente, com aquela expressão de “você está de porre e nós não, por
isso, estamos te julgando”.
– Desçam do salto, senhoras. Já vi as duas em porres muito piores do que este– comentei, minha calça seguindo o mesmo caminho da blusa, que jazia no chão. Se
você me perguntar por que eu continuava calçando meus sapatos, não saberei
responder.
As duas abriram o edredom, e eu rastejei para debaixo dele, encantada. Elas me aconchegaram tão bem, que as únicas coisas que ficaram de fora foram meu nariz, meus olhos e meu cabelo desarrumado.
– Por que o quarto está girando? Que diabo vocês duas fizeram com o
apartamento da Jillian? Ela me mata! – gemi enquanto observava o quarto se mover.
– O quarto não está girando, Caroline. Relaxa. – Mimi deu uma risadinha abafada, sentou ao meu lado e deu tapinhas em meu ombro.
– E essas pancadas, que merda são essas pancadas? – murmurei para as axilasde Mimi, que em seguida cheirei para aprovar sua escolha de desodorante.
– Caroline, não tem pancada nenhuma. Céus, você deve ter bebido mais do quea gente pensou! – Sophia exclamou, sentando no pé da cama.
– Não, Sophia. Eu também ouvi. Você não está ouvindo? – Mimi falou numavoz sussurrada.
Sophia se imobilizou, e todas nós ficamos atentas. Uma pancada distinta
ressoou, e, depois, um inconfundível gemido.
– Gatinhas, relaxem. Vocês estão prestes a trepar pelas paredes – declarei.
Sophia e Mimi arregalaram os olhos, mas permaneceram imóveis.
Seria a Castigada? Ou Purina? Contando com esta última, Clive entrou no quarto, pulou na cama e encarou a parede com atenção arrebatada.
Nós quatro nos sentamos e aguardamos. Mal consigo descrever a que fomos
submetidos desta vez.
– Oh, meu Deus!
Tum.
– Oh, meu Deus!
Tum, tum.
Mimi e Sophia se viraram para mim e para Clive. Apenas anuímos com a cabeça – nós dois, juro. Um sorriso se espalhou lentamente pelo rosto de Sophia. Já eu me concentrei na voz que vinha da parede. Era diferente… O tom era mais baixo, e, enfim, eu não conseguia distinguir o que ela falava. Mas não era Castigada nem Purina.
– Hummmm, Simon… hi-hi… isso… hi-hi… aí… hi-hi… mesmo… hi-hi, hi-hi.
Hã?
– Isso, isso… snif… isso! Fode, fode… hi-hi, snif… fode, isso!
Ela estava dando risadinhas e fungadas. Era uma risadinha muito, muito esquisita.
Nós três rimos junto com ela durante sua trajetória ao que soou como um clímax fenomenal. Clive, tendo percebido que sua amada não apareceria, se retirou
intempestivamente para a cozinha.
– Que merda é essa? – Mimi sussurrou, seus olhos arregalados.
– Essa é a tortura sexual que tenho escutado nas duas últimas noites. Vocês nãofazem ideia – resmunguei, sentindo os efeitos da tequila.
– A Risadinha fez essa apresentação nas duas últimas noites? – Sophia gritou,levando a mão à boca quando mais gemidos e risadinhas atravessaram a parede.
– Até parece. Esta é a primeira noite que tive o prazer de conhecê-la. Antes, foia Castigada. Era uma garota muito safadinha e precisava ser punida. E, ontem, Clive conheceu o amor de sua vida quando Purina fez sua estreia…
– Por que Purina? – Sophia interrompeu.
– Por que ela mia na hora H – falei, me escondendo debaixo da coberta. Aeuforia etílica estava começando a se dissipar e a dar lugar ao óbvio déficit de sono que eu experimentava desde que me mudara para aquele antro de devassidão.
Sophia e Mimi puxaram a coberta do meu rosto no exato momento em que a
moça gritou:
– Ai, meu Deus, isso é… ha-ha-ha-ha… tão bom!
– O cara do apartamento ao lado consegue fazer uma mulher miar? – Sophiaindagou, com uma sobrancelha erguida.
– Aparentemente, sim – cacarejei, sentindo a primeira onda de náusea me fustigar.
– Por que ela está rindo? Por que alguém riria ao ser comida desse jeito? –perguntou Mimi.
– Sei lá, mas é bacana ouvi-la se divertindo – disse Sophia, rindo ela própriadepois de uma gargalhada particularmente retumbante. Gargalhada, minha gente… – Você já viu esse cara? – Mimi perguntou, o olhar ainda fixo na parede.
– Não. Mas o meu olho mágico tem trabalhado bastante.
– Bom, pelo menos um buraco tem estado ocupado nesta casa – Sophia murmurou.
Eu a encarei.
– Que desagradável, Sophia. Só vi a nuca dele, mais nada – respondi, me endireitando.
– Uau, três garotas em três noites. Isso é que é energia! – disse Mimi, aindacontemplando a parede, boquiaberta.
– É repugnante, isso sim. Já nem posso dormir à noite. Minha pobre parede! –choraminguei, e um gemido profundo veio dele.
– Sua parede… O que sua parede tem a ver com… – Sophia começou, mas eu agarrei sua mão.
– Só espere, por favor – falei. Ele estava chegando lá.
A parede desatou a tremer ao ritmo das pancadas, e os risos da mulher ficaram cada vez mais altos. Sophia e Mimi arregalaram os olhos, atônitas, enquanto eu me limitei a balançar a cabeça.
Podia ouvir Simon gemendo e sabia que ele estava perto do clímax. Mas seus ruídos foram rapidamente abafados pelos da sua parceira daquela noite.
– Oh… hi-hi… é isso… hi-hi… aí… hi-hi… não… hi-hi… para… oh… hi-hi… meu Deus… hi-hi… não… hi-hi… para!
Por favor. Por favor. Pare.
Hi-hiiiiiii…
E, com uma risada e um gemido derradeiros, o silêncio caiu sobre o ambiente.
Sophia e Mimi se entreolharam, e Sophia disse:
– Oh…
– Meu… – acrescentou Mimi.
– Deus – ambas disseram em coro.– E é por isso que eu não consigo dormir
– suspirei.
Enquanto nos recuperávamos da Risadinha, Clive voltou ao quarto para brincar
com uma bolinha de algodão.
Risadinha, acho que te odeio mais do que todas…
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Comments
Fatima Gonçalves
GENTE TER PAREDE DIVIDIDA É ASSIM MESMO ESCUTA TUDO
2023-10-07
1
Marley Terezinha
eu não estou entendendo nada autora
2023-07-29
2