3- Quase Morro Do Coração

Muitas perguntas passavam pela minha cabeça, principalmente sobre o seu sumiço e como ele tinha conseguido subir no meu quarto.

Ele me olhava preocupado, com seus olhos grandes, profundos e negros. 

Não consegui dizer nada, apenas agir. Pulei em seu pescoço, o abraçando.

Sentia muita saudades de ver o seu sorriso largo e de sentir o seu perfume viciante.

Ele estar ali era como um sonho, ao qual não queria acordar. Ele me abraçou de volta e me apertou contra ele, era o abraço mais gostoso que senti na vida. Ele não podia me dar isto e sumir novamente. Então eu me soltei de seus braços, dei um soco no seu peito e disse:

— Idiota! Não pode me deixar! Não pode sumir e me deixar para trás! Eu gosto muito de você e não me importo com a dificuldade de ficarmos juntos. Eu quero ficar com você para sempre. Eu te amo, tonto!

Ele me olhou surpreso e após sorriu. Ele voltou a me abraçar e disse em meu ouvido:

— Eu também te amo, minha pequena esquentadinha!

Desde esse dia começamos a namorar e eu me entreguei ao Aiden. Tenho certeza que será com ele que irei me casar, sou capaz de enfrentar o mundo, pelo nosso amor.

Agora que fiz dezoito é a hora de nos libertarmos do controle de nossa família.

Hoje vou me encontrar com ele e lhe dizer que quero fugir daqui com ele. Que não importa se tivermos que morar embaixo de uma ponte, se estivermos juntos, tudo estará bem.

O Aiden, apesar do tamanho, que pode assustar, é o namorado mais gentil e carinhoso. 

E um pouco ciumento também, pois sempre fica bravo quando sente o cheiro de outro homem em mim. Isto porque meu pai arranjou mais encontros e insiste que eu deva me casar logo, pois segundo ele, estou na idade.

Eu nem deixo esses caras chegarem perto, mas mesmo assim Aiden sabe quando algum garoto se aproxima.

Isto é, a minha situação atual está desconfortável para nós dois. 

Chegou a hora de assumirmos para todos o nosso amor e dar um fora daqui.

…

A lua está especialmente linda hoje cheia e brilhante, iluminando tudo. Sorte a minha pois estou indo encontrar Aiden no nosso esconderijo. Subir essa montanha escura só com uma lanterna, não é fácil, mas com a luz do luar iluminando, tudo fica melhor.

Hoje pela manhã, encontrei um bilhete de Aiden no meu travesseiro. Dizia que tinha algo muito importante para me mostrar essa noite,  pois agora aos vinte anos deveria tomar uma decisão importante em sua vida. 

Eu espero que essa decisão seja um pedido de casamento, não aceito menos que isso.

Continuo a subir, muito ansiosa. Se ele tinha algo importante, eu também tinha. É hoje que vou pedir para fugirmos daqui. Trouxe até uma mochila, com algumas coisas importantes para a viagem.

Logo avisto o posto florestal, que fica bem no topo da montanha. Esse é o nosso esconderijo. Eu poderia estar exausta, mas depois de todos esses anos me encontrando aqui com o Aiden, já sou uma montanhista nata. 

Escalo as bases da construção, já que as escadas já foram para o beleléu há muito tempo. Pode parecer perigoso, mas como perceberam, desde criança gosto de escalar coisas.

Assim que chego ao topo, chamo pelo Aiden. Não ouço uma resposta e está tudo silencioso, parece que estou sozinha aqui.

Estranho… mas dou de ombros e encosto na grade de madeira do posto. Admiro a lua que está incrível vista daqui. Realmente essa parece ser uma noite mágica.

De repente, ouço um barulho que me assusta. Dou um pulo e olho para trás, onde tudo estava escuro e silencioso. Jurava que tinha ouvido um rosnado terrível.

Meu coração acelera, pois tenho certeza que não estou sozinha aqui.

Continuo olhando para a curva da construção, com a respiração acelerada.

— Quem está aí?! — grito — Aiden, é você?

Continuo olhando para o breu que se instalava naquela parte mal iluminada pela lua. De repente, vejo olhos vermelhos me observando. Olhos tão intensos que me paralisam.

Engulo em seco e penso:

“Meu Deus! O demônio da floresta veio me buscar!”

Olho para baixo e vejo o quanto estava no alto, era impossível me jogar dali. Estava encurralada.

Vejo uma pata enorme saindo da escuridão e de repente um Lobo monstruoso se revela.

“Então essa é a cara do demônio?!” — penso, tremendo igual uma “vara verde”.

Era o maior lobo que já vi na vida, mesmo nunca tendo visto um lobo na vida. Mas ele era anormalmente gigante e o seu focinho passava do topo da minha cabeça. Gente, e eu nem sou tão baixa assim. Talvez ao lado de Aiden eu seja bem baixa… mas não vem ao caso.

Ele se aproxima mais e mostra os seus dentes poderosos. Fecho os olhos e coloco a mão no peito, imaginando que eu iria morrer de um ataque do coração antes que ele me pegasse. Isso até que seria bom, pelo menos não morreria sentindo muita dor.

Continuo de olhos fechados e nada acontece, de repente me pergunto como aquele lobo gigante conseguiu subir aqui e ainda ser tão silencioso. Se não fosse pelo rosnado, não teria percebido sua presença. Suas patas gigantes com garras afiadas, conseguiam dar passos leves e imperceptíveis. Só podia ser um ser sobrenatural.

Abro um olho e vejo a morte de perto.

O Lobo estava de pé, apoiado nas duas patas traseiras na minha frente, dobro o pescoço para ver o seu focinho, juro que ele de pé era mais que o dobro do meu tamanho.

E foi nesse momento que a coisa mais estranha da minha vida aconteceu…

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