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É sábado e a indústria está cheia. A hora extra começou.
A produção aqui rola de segunda a sexta somente, mas a indústria funciona em três turnos, o que significa que o pessoal da madrugada produz e alguém tem que vir no sábado de manhã embalar e despachar as coisas pra não se ter problemas com desperdício, que aqui nós chamamos de quebra. Por isso eu trabalho de terça a sábado, estou aqui pra limpar o que o pessoal da embalagem do turno da manhã sujar e também a expedição.
Lúcia e Eliete trabalham só de segunda a sexta, mas estão aqui hoje fazendo hora extra também.
- Escuta, eu tenho uma coisa pra te falar.
Olho pra Lúcia enquanto estamos tomando café da manhã.
- Hum, qual é a bomba da vez?
Ela ri pra mim e nega com a cabeça.
- Não tem bomba nenhuma. É uma novidade bem boa.
Minha amiga se ajeita na cadeira e inclina um pouco pra frente, é o nosso jeito de dizer que vamos contar uma fofoca e precisa ser bem baixo. Eliete e eu nos inclinamos também.
- Renatinho perguntou se você está mesmo solteira.
Solto o ar com força ouvindo isso. Sempre tem um cara ou outro jogando uma cantadinha, ou dando uma piscada, mas eles sempre mantém o respeito. Acontece que depois que eu fiquei solteira daquela maneira nada discreta eles estão um pouco mais calorosos comigo, vamos dizer assim. Mas Renato é encarregado da padaria no turno da manhã, sempre me tratou super bem e foi de uma educação e postura profissional incrível, nem imaginei que ele pudesse fazer uma pergunta dessa.
É um cara bonito, e as meninas da lavanderia são doidas com ele. O problema é que ele é ex namorado de uma encarregada do turno da tarde, ela cuida da embalagem nesse período. Uma mulher sebosa, que graças a Deus eu não tenho contato, já que só cuido de lá durante a manhã.
- Ai Lúcia, é melhor nem render esse assunto.
********
Quando finalmente chega a hora de ir embora pra casa, eu falto dar um pulo. Quero sair hoje, espantar essa semana de cão que eu tive com o aumento de trabalho por conta da produção. Tenho corrido de Lucas aqui dentro da empresa como o diabo foge da cruz. O fato de ele operar máquina no setor dos frios contribui pra que eu não o veja, é uma outra parte da indústria, com uma insalubridade diferente da que eu ganho, e por tanto, não tenho acesso a ela.
Só que todo azar pra pobre é pouco, assim que passo pela barreira sanitária e saio no corredor dos banheiros e vestiários eu o vejo.
Apresso o passo pra me enfiar no vestiário feminino.
- Oli, espera!
Finjo não ter ouvido e entro respirando aliviada por saber que ele não vai poder me seguir.
Troco de roupa e visto a que trouxe mais arrumadinha pra sair. Vou encontrar com a minha prima e nós vamos em um pagode hoje. Escolhi um macaquinho de musseline off white, de mangas geométricas, com um short saia e calcei um par de anabelas de amarrar combinando. Tenho um espelho amarrado na porta do meu armário e uso ele pra me maquiar e ajeitar meu cabelo que hoje está escovado.
Coloco meus brincos pequenos, meus piercings e borrifo um perfume, tudo que não podemos usar no trabalho por se tratar de uma empresa alimentícia. Pego a bolsinha que eu trouxe pra sair e deixo minha mochila no armário pra levar pra casa só na terça que vem. Decido sair pela porta dos fundos do vestiário pra não me encontrar com Lucas, mas o infeliz está me esperando na esquina.
Ando pra passar por ele fingindo que não o vi, mas sinto o agarrão no meu braço.
- A gente precisa conversar, já tem quase dois meses que você me evita e eu não te vejo, Olivia.
Dou um puxão e ele me solta.
- Conversar o quê? O seu tempo de falar acabou. Era só você ter me dito que não queria mais continuar comigo e nós dois teríamos terminado, mas ao invés disso você preferiu beijar outra bem aqui no nosso local de trabalho, me expondo ao ridículo e me fazendo virar piadinha por esses corredores.
Lucas franze as sobrancelhas enquanto me olha e engole em seco.
- Olha Olivia, eu sei que fui um imbecil e não tem nada que eu possa dizer pra fazer você me perdoar e voltar atrás. É por isso que vou ser sincero aqui com você. Eu... bom, eu não pensei que fosse me sentir tão mal depois de fazer isso, só pensei no meu próprio ego e em como seria legal beijar aquela menina, mas eu tô chateado de verdade agora comigo mesmo.
Respiro fundo tentando controlar meus impulsos, eu não quero e não posso fazer uma cena aqui.
- Lucas, por favor, só... só me deixa ir. Você está chateado por você mesmo, não por mim. Pensa no que você acabou de me falar, é tudo sobre você, não há nada sobre nós dois nessa história. Acho que é melhor mesmo dar um fim nisso, cada um pro seu lado e tudo bem. Sei que com o tempo eu vou deixar a raiva e mágoa de lado, e isso não significa que vamos voltar, só que vamos viver em paz aqui nessa empresa e é sobre isso, mas agora não dá nem pra conversar sobre sem eu sentir uma raiva enorme de você.
Olho no meu relógio de pulso e decido sair andando pra não perder o especial, é quando eu escuto:
- Você já é muito bonita mas hoje está mais ainda.
Renato equipara o passo ao meu.
- Ah, obrigada.
Não sei o que dizer além disso. Me lembro do que Lúcia me disse e fica pior ainda.
- Não tem de quê. Vai sair pra algum lugar?
Digo a ele que vou encontrar com minha prima pra sair pra dançar.
- Você gosta de dançar o quê?
- De tudo um pouco, mas hoje é pagode.
Vejo Renato estreitando os olhos e inclinando a cabeça um pouco pra esquerda.
- É naquele do centro?
- Esse mesmo.
Recebo um sorriso de canto.
- Eu também estou indo pra lá, quer uma carona? Vou encontrar com uns amigos meus, você e sua prima ficam com a gente. É melhor do que você ir daqui, pra descer no metrô e ainda ter que andar até lá depois.
Ainda penso um pouco antes de aceitar, mas acabo concordando e indo com ele. Mando uma mensagem pra Júlia.
📲 - Acabei de chegar, cadê você?
📲 - Estou no balcão.
Ando procurando por minha prima e quando a vejo eu aceno e faço um gesto com a mão pedindo pra ela chegar perto de mim. Minha prima tem o cabelo loiro em um corte chanel e ondulado. Está usando um short jeans, com salto alto e um body vermelho frente única.
Apresento ela pra Renato e nós duas o acompanhamos até duas mesas que estão juntas, com cinco pessoas em volta. Todos amigos dele.
*********
Já são mais de meia noite e meia quando Renato para na porta da casa de Júlia. Ela mora com os pais em um conjunto de prédios populares e nós viemos deixar ela em casa.
- Tchau amore, amanhã eu te ligo pra gente fazer outra coisa.
Mando um beijinho pra ela e quando nós temos certeza que ela já passou na portaria, Renato fala comigo.
- Quer dar uma esticada em algum lugar?
Ele está me olhando de um jeito bem penetrante.
Abro a boca pra responder, mas ele me interrompe.
- Antes que você diga algo eu quero que saiba que eu sou doido com você tem muito tempo já. Então se você me disser que quer ficar comigo, eu vou fazer questão de te levar até o céu.
Não seguro a risada e nem ele.
- É sério que você consegue pegar as garotas por aí com essa conversa?
Renato faz uma careta pra mim.
- Ah, geralmente funciona. Mas todas são iguais, você não, pelo visto é diferente demais.
Reviro meus olhos.
- Se você me prometer que vai parar com essa conversinha mole de quem tentar dar o golpe a todo custo, pode até ser que sim.
Ele avança na minha boca e me beija com tudo, e preciso dizer que o homem beija bem demais.
Quando me solta, me encara de novo.
- Dorme comigo. Prometo que a gente fica no off, eu sei que você não gosta de dar esparro da sua vida.
Ah, quer saber? Eu vou.
Estou cansada de ser a chifruda otária, tá na hora de dar um jeito nessa situação.
Só confirmo com a cabeça e ele abre um sorriso enorme pra mim.
- Então vamos pra minha casa. A gente toma um vinho e curte a noite bem de boa.
Renato mora em um bairro legal, classe média em um prédio com uma boa estrutura.
Ele estaciona o carro na vaga do apartamento dele e nós dois seguimos até o andar em que ele mora.
Quando abre a porta eu vejo um apê bem organizado, com uma sala aberta que ele dividiu fazendo a de estar e jantar. A cozinha em estilo americano deixa ver os eletrodomésticos brancos e tem uma luminária bonita em cima do balcão de granito preto.
- Vem cá.
Ele pega na minha mão e me leva pra sentar em uma das banquetas de aço cromado.
- Vinho branco ou tinto?
Me acomodo bem antes de responder.
- Tinto.
Renato abre uma porta do armário escuro e planejado que ele tem na cozinha e revela uma mini adega.
- Tenho esses dois aqui que eu acho os melhores, ambos são reserva.
Olho as duas garrafas. Uma é Cassilero Del Diablo e a outra é um Pedra Cancela.
- O Chileno, sem dúvidas.
A gente entende bem de vinho e de outras bebidas, a adega do supermercado gourmet do senhor Barsamian é uma das melhores do país e ele foi o pioneiro em colocar bons vinhos de maneira acessível pra todos. A gente ganha um desconto comprando lá no crachá e vez ou outra ganhamos degustação de algumas coisas.
Renato guarda o Pedra Cancela e depois abre o Cassilero me servindo primeiro e depois a si. Ele usa uma tampa especial pra vedar a garrafa outra vez e depois dá a volta no balcão pra se sentar na banqueta do lado da minha.
Coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha esquerda e depois diz:
- Que bom que você aceitou vir.
Coloco a mão direita na coxa esquerda dele e dou o meu melhor sorriso.
- Eu também acho isso.
A gente conversa bastante, descubro que nós dois temos muita coisa em comum.
- Porque é que você não é expansivo desse jeito lá naquela indústria?
A fama dele é péssima. Dizem que ele tem mãos de ferro pra comandar a equipe dele, mas uma coisa ninguém pode negar, no lado profissional é um baita encarregado.
- Porque infelizmente quando se é bonzinho demais as pessoas não te respeitam naquele lugar. Eu tenho quatorze anos de trabalho para o senhor Fuad, antes eu era funcionário de loja, quando ele abriu aquela indústria há dez anos atrás eu vim já com o cargo de encarregado e várias pessoas que eu conhecia vieram pro chão de fábrica. Foi aí que eu percebi que elas não me respeitavam pelo simples fato de me conhecerem há bastante tempo, fui chamado a atenção por isso e desde então mudei minha postura. Eu sei o que as pessoas falam de mim, que eu sou muito exigente e tal, que eu não sou mais uma pessoa humilde só porque uso uma touca azul alí dentro, mas você nunca vai ser bom pra quem só quer ir receber no dia certo mas trabalhar porcamente.
Bom, isso é verdade. O que não falta é morcego que se escora nos outros alí naquele lugar.
- É, olhando por esse lado você tem razão. Mas foi uma surpresa bem agradável conversar com você.
Ele deixa a taça dele em cima do balcão e chega perto do meu ouvido direito.
- Só conversar?
Eu também deixo a minha e olho bem nos olhos dele.
- Não sei, isso eu vou descobrir ainda.
**********
Estou deitada de bruços com as costas à mostra.
Sinto um carinho e solto um gemido.
- Pelo amor de Deus, você não cansa?
Renato dá uma risada gostosa.
- *Não estou pensando em s*xo de novo, as três que nós demos foram mais do que suficiente. Só estou admirando esse seu corpo e pensando que ele é bem mais bonito do que eu imaginava*.
Abro os olhos e franzo a testa.
- Seu tarado! Ficava me imaginando sem roupa?
Ele confirma com a cabeça antes de responder.
- É óbvio que sim, sua b*nd* é maravilhosa demais. Você passa e os caras quase tem um torcicolo pra olhar.
Meu Deus.
- Bem que quando eu entrei naquele lugar me disseram que nenhum homem alí valia nada, é por isso que não dou bola.
E eu ainda fui burra e namorei com um.
Renato estala a língua e diz:
- Eu valho, e muito. Pode continuar me dando bola o quanto quiser.
Ele me faz deitar no peito dele e enquanto me faz um carinho na cabeça eu me acomodo pra dormir.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Fatima Gonçalves
ela que tá certa aproveita vida eles fazem isso de montão só não fica vulgar
2024-10-04
2
Cléia Maria da Silva d Azevedo
Deixa ela dar muito a perereca. Os homens podem. Por quê ela na? Quero ela fod...... muito prá depois conhecer o babaca.
2024-04-07
16
Delma Maria
tô achando que não foi uma boa ideia /Awkward//Awkward//Awkward//Awkward/
2024-03-15
0