Capítulo 3 - Provocações e um acordo

— Olha só se não é o ogro.

A provocação escapou sem pensar, mas, no fundo, a palavra soou mais leve do que imaginava.

— Entra aí, te levo até em casa.

A oferta foi direta, quase sem rodeios, mas havia algo na sua voz que me fez hesitar.

— Não precisa, estou até gostando de ir andando.

Era mentira, claro. Os pés doíam com o salto, mas queria manter a pose de difícil, como quem recusa tudo sem realmente querer.

O olhar dele dizia que não acreditava muito no que eu dizia, mas não insistiu. Apenas respondeu:

— Ok então.

E se afastou, deixando-me ali, com uma mistura de sentimentos desconcertantes.

Não pude deixar de sentir que havia perdido algo ali, e o arrependimento surgiu em uma pequena onda. Não acreditava que ele não tivesse insistido. Em todos os filmes, ele voltaria para me convencer, mas não dessa vez. Não no mundo real.

— Não acredito! Ele não insistiu. Agora vou ter que andar, com os pés doendo, e ainda está tão frio. O que foi que eu fiz? Isso é o que dá tentar viver como num filme. Mas... não custa tentar, né?

O vento cortante fazia tudo parecer mais real, e cada passo se tornava um desafio. A mente vagava, mas logo um som atrás de mim interrompeu o fluxo de pensamentos. Acelerei o passo, os pés pesados e o medo crescendo a cada segundo.

De repente, uma mão agarrou meu braço, puxando-me para dentro de um carro. Fui imobilizada antes de perceber o que estava acontecendo. Quando tentei gritar, uma mão foi colocada sobre minha boca, abafando qualquer som.

— Dá pra colaborar? Estou tentando te ajudar!

A voz dele, tensa, mas carregada de urgência, me fez sentir ainda mais confusa.

O pânico que sentia foi substituído por uma estranha calma, enquanto tentava processar o que acontecia. A mão dele, que antes me silenciava, agora me deixava com a sensação de que eu precisava entender o que se passava.

— Você quase me matou de susto! Por que fez isso?

A raiva e o susto se misturaram, mas ele apenas respondeu com uma dureza que não pude ignorar:

— Porque você não quis entrar no maldito carro. Uma hora dessas, andando sozinha pela rua... não tem medo de morrer não?

A preocupação estava lá, mas a forma como disse aquilo, com tamanha frustração, me fez questionar tudo o que estava acontecendo.

— Não era mais fácil me convencer a entrar?

A resposta não tardou, direta e sem espaço para negociação.

— Não vou ficar tentando convencer ninguém. Se não quer entrar, problema seu. Eu faço do meu jeito.

A atitude dele era desafiadora, mas algo nela me fez sentir ainda mais nervosa.

O carro se moveu, e eu continuei olhando pela janela, tentando me distrair. O silêncio entre nós era denso, e então a pergunta dele veio como uma quebra no clima:

— Onde fica sua casa?

A mudança de assunto foi abrupta, mas a tensão ainda pairava no ar.

Dei as direções sem muita convicção, mas a mente estava em outro lugar. O que estava acontecendo? O que ele queria de mim?

— Quantos anos você tem?

A curiosidade saiu sem pensar, algo que sempre me acompanha. Idades, nomes, detalhes sobre as pessoas... não sei explicar, mas sempre quis saber.

— Tenho 29 anos. E você?

Ele desviou o olhar da estrada por um instante, o suficiente para perceber algo mais, mas logo voltou ao foco.

— 25.

A resposta saiu mais tranquila do que imaginava. O silêncio se seguiu, confortável, mas também carregado.

— Nova.

O comentário dele parecia quase um desafio, mas eu só ergui uma sobrancelha, desconfiada.

— Oh, desculpe, senhor idoso.

Provocação pura, mas parecia certo naquele momento.

Ele riu, e a sensação foi estranha, quase como se a risada tivesse o poder de suavizar tudo ao redor. Aquelas pequenas trocas entre nós... algo estava se formando. Algo perigoso, mas impossível de ignorar.

— Sua família mora aqui?

Perguntei, sem saber o quanto estava invadindo um terreno delicado.

Ele se enrijeceu, e a resposta foi curta:

— Não.

— Entendi, assunto proibido.

A tentativa de corrigir o erro foi automática. Eu sabia que tinha ultrapassado algum limite, mas o que mais poderia fazer?

— Exatamente, menina esperta.

Ele sorriu de canto, e isso fez meu coração acelerar. O jogo de palavras tinha algo de atraente, e era impossível não se deixar envolver.

— Não sou uma menina.

Dizia isso enquanto dava um leve murro no ombro dele, só para brincar, mas sua reação me pegou de surpresa.

— Ai!

Ele fingiu dor, e não pude deixar de rir. Sabia que meu golpe não machucava nem uma mosca.

— Nossa, nem doeu.

A risada saiu fácil, sem esconder a diversão.

— Como você sabe? Não foi você que sentiu.

A resposta veio rápida, com aquele sorriso travesso que parecia me desafiar de todas as formas.

— Hahaha, fracote.

Eu não resisti, e a provocação saiu naturalmente. Mas algo nele estava mudando. O jeito como me olhou, algo mais intenso no olhar.

— Quem é fraco?

A voz dele ficou mais séria, o tom quase ameaçador, e algo me fez hesitar.

— Você...

A palavra saiu suave, sem coragem para dizer o que realmente queria.

E então, como se fosse uma resposta direta ao que eu sentia, sua mão apertou minha coxa, e eu soltei um gemido sem querer. O medo misturado com algo que eu não queria admitir.

— Agora quem é o fracote?

A pergunta, acompanhada de um sorriso satisfeito, fez o sangue ferver.

Eu fiquei em silêncio, sem saber o que dizer, sem saber o que sentir. Ele finalmente soltou minha coxa e voltou a focar na estrada.

— Idiota.

Resmunguei, tentando disfarçar o que estava acontecendo dentro de mim.

— Falou algo?

Ele parecia genuinamente curioso.

— Nada, só pensando alto.

Menti, o que parecia ser a única saída.

— Chegamos, "Cinderela."

A brincadeira no final da frase não fez minha mente relaxar. O que aconteceu naquela noite não seria fácil de esquecer.

— Obrigada, ogro. Para um ogro, você está bem gentil.

Minha resposta saiu sem pensar. Algo tinha mudado, mas eu não sabia ainda o que era.

— Vamos, rápido. Tenho que voltar para casa e dormir.

Ele parecia impaciente, mas eu já estava cansada o suficiente para apenas seguir.

— Não posso nem te elogiar que já voltou a ser o ogro de sempre?

Sorri, sentindo uma leve diversão. Como ele conseguia me provocar assim?

— Boa noite.

A voz dele estava mais suave.

— Boa noite. Sonhe comigo.

Ele falou com um tom provocador, mas algo na maneira como disse isso me deixou sem palavras.

— Só se for pesadelo, porque sonho é difícil de alcançar.

Brinquei, sentindo o peso da noite.

— Ah, quase me esquecendo. Vai aceitar meu acordo?

— Pensei bem e resolvi te dar uma chance.

Respondeu, com um sorriso de canto.

— Hahaha, idiota. Então, que dia começamos?

— Tem algo para fazer sábado?

— Não.

— Então, sábado.

— Onde vamos nos encontrar?

— Eu venho te buscar. Não posso arriscar colocar uma princesa da Disney em perigo novamente.

Ele disse, com aquele sorriso travesso de sempre.

Ri de novo, sem saber o que sentir sobre ele. Ele tinha esse poder de me deixar confusa, mas ao mesmo tempo, algo me dizia que tudo isso estava longe de acabar.

Quando saí do carro e me dirigi para o elevador, a cabeça estava a mil. O cansaço tomou conta de mim, mas os pensamentos ainda estavam lá, rondando, esperando para me pegar.

Subi para o meu quarto, me preparei para dormir, mas enquanto me jogava na cama, o rosto dele, com aquele sorriso, não saía da minha mente.

E antes que eu pudesse pensar mais sobre isso, o sono me levou, sem piedade.

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Comments

ABM

ABM

Estou amando 😍

2021-03-18

4

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Capítulos
1 Capítulo 1 - Conto de fadas e tudo mais
2 Capítulo 2 - Conhecendo o prínci.. Ogro.
3 Capítulo 3 - Provocações e um acordo
4 Capítulo 4 - Edward, onde você está?
5 Capítulo 5 - Um momento de descontração
6 Capítulo 6 - Parque de emoções, digo diversões
7 Capítulo 7 - Uma roda gigante de emoções
8 Capítulo 8 - Um boa noite e uma amiga curiosa
9 Capítulo 9 - Douglas e Luana, será que é match?
10 Capítulo 10 - Dizem que apressados comem cru
11 Capítulo 11 - Uma festa, um beijo, uma música
12 Capítulo 12 - Um feliz aniversário!
13 Capítulo 13 - Um pé machucado, um coração amando
14 Capítulo 14 - Um bêbado e uma "falastrona"
15 Capítulo 15 - Uns amassos, mas espera aí, e o pé machucado?
16 Capítulo 16 - Segredos ou histórias mal contadas?
17 Capítulo 17 - Mãe, a senhora está bem?
18 Capitulo 18 - Umas "férias" no castelo
19 Capitulo 19 - Descobertas assustadoras
20 Capitulo 20 - Miguel, é você?
21 Capitulo 21 - Será que fiz certo?
22 Capitulo 22 - Seu nome é Miguel mesmo?
23 Capitulo 23 - Estamos quites
24 Capitulo 24 - Uma ideia de sucesso
25 Capitulo 25 - Diga ao príncipe que mandei "oi"
26 Capitulo 26 - Conhecendo o príncipe Edward
27 Capitulo 27 - Estou em apuros
28 Capítulo 28 - Minha mulher, pow
29 Capítulo 29 - Noivos?!
30 Capítulo 30 - Vou te marcar
31 Capítulo 31 - Namorados então?
32 Capítulo 32 - Apresentando meu digníssimo namorado
33 Capítulo 33 - Desmaio suspeito
34 Capítulo 34 - O que está acontecendo?
35 Capítulo 35 - Máscaras
36 Capítulo 36 - Uma visão diferente
37 Capítulo 37 - Então você que comprou o castelo?
38 Capítulo 38 - Segundas intenções
39 Capítulo 39 - Confiança
40 Capítulo 40 - Tentando convencer o "inimigo"
41 Capítulo 41 - O baile
42 Capítulo 42 - Algo de errado não está certo
43 Capítulo 43 - Perdendo um sapato e chamas
44 Capítulo 44 - Meu salto...
45 Capítulo 45 - O verdadeiro Alvo
Capítulos

Atualizado até capítulo 45

1
Capítulo 1 - Conto de fadas e tudo mais
2
Capítulo 2 - Conhecendo o prínci.. Ogro.
3
Capítulo 3 - Provocações e um acordo
4
Capítulo 4 - Edward, onde você está?
5
Capítulo 5 - Um momento de descontração
6
Capítulo 6 - Parque de emoções, digo diversões
7
Capítulo 7 - Uma roda gigante de emoções
8
Capítulo 8 - Um boa noite e uma amiga curiosa
9
Capítulo 9 - Douglas e Luana, será que é match?
10
Capítulo 10 - Dizem que apressados comem cru
11
Capítulo 11 - Uma festa, um beijo, uma música
12
Capítulo 12 - Um feliz aniversário!
13
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14
Capítulo 14 - Um bêbado e uma "falastrona"
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Capítulo 15 - Uns amassos, mas espera aí, e o pé machucado?
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Capítulo 16 - Segredos ou histórias mal contadas?
17
Capítulo 17 - Mãe, a senhora está bem?
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Capitulo 18 - Umas "férias" no castelo
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Capitulo 19 - Descobertas assustadoras
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Capitulo 20 - Miguel, é você?
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Capitulo 21 - Será que fiz certo?
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Capitulo 22 - Seu nome é Miguel mesmo?
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Capitulo 23 - Estamos quites
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Capitulo 24 - Uma ideia de sucesso
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Capitulo 25 - Diga ao príncipe que mandei "oi"
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Capitulo 26 - Conhecendo o príncipe Edward
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Capitulo 27 - Estou em apuros
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Capítulo 29 - Noivos?!
30
Capítulo 30 - Vou te marcar
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Capítulo 31 - Namorados então?
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Capítulo 32 - Apresentando meu digníssimo namorado
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Capítulo 33 - Desmaio suspeito
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Capítulo 34 - O que está acontecendo?
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Capítulo 35 - Máscaras
36
Capítulo 36 - Uma visão diferente
37
Capítulo 37 - Então você que comprou o castelo?
38
Capítulo 38 - Segundas intenções
39
Capítulo 39 - Confiança
40
Capítulo 40 - Tentando convencer o "inimigo"
41
Capítulo 41 - O baile
42
Capítulo 42 - Algo de errado não está certo
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Capítulo 45 - O verdadeiro Alvo

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