A manhã estava agitada. Saí de casa correndo, atrasada para o trabalho, tentando não perder o ritmo. Atravessando a rua apressada, não percebi o carro vindo em minha direção até ouvir a buzina forte. Num movimento rápido, dei um passo para o lado, desviando por pouco. O carro parou bruscamente, e o motorista desceu com uma expressão séria e claramente irritada. Ele me encarou com raiva, como se eu fosse a culpada, e talvez eu fosse.
– Cuidado, você quase me mata, menina! – ele gritou, seu tom agressivo fazendo meu coração disparar.
Fiquei atônita por um segundo, recuperando o fôlego após o susto. A sensação de quase acidente ainda me deixava tensa.
– Você é quem deveria estar mais atento! Não é assim que se dirige! – rebati, sentindo a adrenalina subir. Não era o tipo de pessoa que ficava calada diante de grosserias, eu poderia estar errada, mas vamos lá não é assim que trata uma pessoa que quase morre!
Ele me olhou por mais alguns segundos, claramente surpreso pela minha resposta. Mas ao invés de pedir desculpas, ele apenas revirou os olhos e soltou um suspiro de desgosto.
– É só você olhar para os lados, não custa nada – disse ele, como se estivesse me dando uma lição de moral. Seu tom de desprezo era quase palpável.
– Ficar gritando não vai resolver nada – retruquei, já sem paciência. Não era minha culpa ele estar tão estressado.
Ele me olhou por mais um instante, claramente frustrado. Parecia que ele estava prestes a falar algo, mas, ao invés disso, entrou de volta no carro, ainda me lançando um olhar de raiva. Eu, por outro lado, respirei fundo e dei o melhor dos sorrisos sarcásticos.
– É isso aí, vai embora, "prínci.. Ogro". – murmurei para mim mesma enquanto me afastava. O que mais eu poderia fazer?
Continuei meu caminho, ainda tentando recuperar o ritmo. Não era todo dia que quase morria atropelada por um motorista tão mal educado. Agora, só queria chegar ao jornal e deixar aquele mal momento para trás.
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Depois de mais ou menos uns 20 minutos, cheguei ao jornal. Entrei no prédio, esperava que a porta do elevador se abrisse logo, e entrei rapidamente. Apertei o número do meu andar e, em pouco tempo, já estava no meu destino. Entrei no escritório e fui direto ao que precisava: resolver a papelada sobre a manchete.
Estava tão concentrada no trabalho que nem percebi a hora passar. Quando dei conta, já era hora do almoço. Levantei, me despedi dos colegas e entrei no elevador novamente. Apertei o térreo, e assim que o elevador parou e as portas abriram, saí direto em direção ao restaurante próximo.
Entrei no restaurante e fui levada até uma mesa no canto, que eu tanto gostava. Depois de alguns minutos, o garçom se aproximou e perguntou o que eu queria pedir. Eu estava com fome e escolhi algo simples, mas delicioso: Lasagna. Uma das massas mais apreciadas da Itália, e para sobremesa, o clássico Tiramisù.
Enquanto aguardava minha refeição, observei as pessoas ao meu redor. Elas pareciam ter tudo resolvido, vivendo vidas perfeitas. Foi então que me senti observada, uma sensação desconfortável. Olhei de um lado para o outro, mas não vi ninguém me encarando. Até que, ao olhar para frente, meu coração parou por um segundo. O idiota que quase me atropelou estava sentado à mesa da frente, me observando.
Olhei fixamente para ele, estreitando os olhos. Ele se levantou e, antes que eu pudesse protestar, se sentou à minha frente.
– Ah não, agora não, pelo amor de Deus! – pensei comigo mesma.
– Olá – disse ele, sorrindo de canto.
– Olá, seu ogro. Acho que veio no lugar errado, a Fiona não está aqui – rebati, sorrindo sarcasticamente.
Ele soltou uma risada baixa. Mais que risada gostosa, pensei, incomodada. Anna, para de se distrair!
– Acho que acabei de encontrá-la. Está bem na minha frente – ele respondeu, sorrindo ainda mais.
Bufei, já perdendo a paciência.
– Ok, o que quer comigo, veio me pedir desculpas? – perguntei, arqueando uma sobrancelha.
– Claro que não, a única errada aqui é você. Atravessa a rua sem olhar para os lados – ele retrucou.
– Nossa, sua mãe nunca lhe deu educação? Está precisando de uma aula de boas maneiras. Ou melhor, está necessitando aprender a agir como um príncipe – respondi, desdenhando.
– Você só pode ter saído de um conto de fadas. Hoje em dia, não existe isso de príncipe, não, "Cinderela" – debochou ele.
– Tudo bem, vamos fazer um acordo. Eu te ensino a ter bons modos, como um príncipe – disse, com um sorriso travesso.
– E por que eu aceitaria isso, se nem seu nome sei? – ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.
– Ah, se esse é o problema, me chamo Anna, Anna Becker – respondi, com um tom brincalhão.
O garçom chegou com minha Lasagna e colocou na mesa. Ele se afastou e eu continuei minha conversa com o estranho.
– Anna – ele disse, testando meu nome.
– E o seu? – perguntei, enquanto colocava um pedaço de Lasagna na boca e mastigava lentamente.
– Miguel – ele respondeu.
– Então, Miguel, aceita? – perguntei, já sentindo uma estranha curiosidade.
– Vou pensar no seu caso – respondeu ele, com uma expressão séria, como se fosse um advogado analisando uma situação.
De repente, percebi que ele realmente era bonito. Maxilar quadrado, pele branca, olhos verdes. O cabelo preto, liso e bagunçado. E o corpo… Bem, Deus do céu! Ele devia ter uns 1,82m de altura, e eu sempre gostei dos altos. Mas o que estou pensando? Não estou dizendo que vou gostar dele, nem que vamos ser inimigos, mas talvez possamos tentar ser amigos… Ou não. Já estava me complicando, como sempre.
– Então, como vou saber onde você está, caso aceite o meu "acordo"? – perguntei, ainda meio desconcertada com os meus próprios pensamentos.
– A gente se encontra por aí – disse ele, se levantando.
– "A gente se encontra por aí"? Que frase mais cafona – resmunguei para mim mesma.
– Você falou alguma coisa? – ele perguntou, com um sorriso de canto.
– Sim, por que não senta aqui e pede seu almoço? – menti, tentando parecer casual.
– É muita gentileza, mas já almocei. Deixa para outra vez – ele disse, piscando para mim antes de se dirigir para a porta.
Terminei de comer minha Lasagna e, logo em seguida, o garçom trouxe meu Tiramisù. Sabia que deveria apressar para não ultrapassar o tempo de almoço, mas estava tão boa que, quando dei conta, já havia passado mais de 30 minutos. Chamei o garçom, paguei a conta e saí do restaurante. Rumei para o jornal, sabendo que o tempo estava contra mim.
Entrei no prédio e fui direto para o elevador. Apertei o número do meu andar e, em breve, as portas se abriram. Senti a pressão do tempo aumentando. Fui até a sala de reuniões e, ao entrar, todos os olhares se voltaram para mim. Pedi desculpas pela demora e me sentei ao lado de minha colega.
– Estão falando sobre o quê? – sussurrei para ela.
– Sobre a família real. Eles tiveram que fugir dos assassinos que entraram no castelo para matá-los. Eles não sabem onde está o príncipe, e quem descobrir vai ser promovido – ela sussurrou de volta.
– E a segurança dele? Se revelarem onde ele está, os assassinos vão atrás – murmurei, preocupada.
– Aqui, eles não ligam para a segurança de ninguém. O que importa é o dinheiro – ela respondeu com desdém.
Fiquei quieta, pensando na crueldade das pessoas. Como podem ser tão egoístas? Depois de uma longa discussão sobre o paradeiro do príncipe, a reunião foi encerrada.
Peguei algumas papeladas e fui ao elevador. No térreo, dei tchau aos colegas, e já estava bastante tarde. Corri para o ponto de ônibus, mas, claro, o ônibus já tinha saído. Gritei, corri atrás, mas não pararam.
"Maravilha, o universo está contra mim", pensei. Agora, teria que andar até o apartamento. Quando cheguei perto do ponto, olhei para meu celular. Estava descarregado. "Que ótimo, Luana vai me matar", resmunguei.
De repente, um carro preto buzinou e parou ao meu lado. O vidro desceu, e meu coração acelerou. Não, não pode ser… O idiota do Miguel estava ali, mais uma vez.
– Olha se não é a Cinderela. Cadê sua carruagem? – ele debochou, sorrindo.
"Obrigada, universo. Muito obrigada. Da próxima vez, manda um príncipe na carruagem", pensei, enquanto ele sorria para mim.
"Eu não sou vida louca nem aqui nem na China", pensei, revirando os olhos.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Ellen Palheta Silva Souza
Está bom ☺️
2022-11-22
0
Dilma Rosson
te Dou mil milhões
2021-06-19
1
Sandra Vieira
Eu estou amando a história!💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖💖
2021-03-18
3