Plano de fuga.

William Mesquita era o homem mais rico de Canídeos, conhecido como o dono da cidade por ser o proprietário de praticamente todos os imóveis que funcionavam estabelecimentos comerciais. Até mesmo a sede da prefeitura lhe pertencia. Além disso, a sua fazenda estava avaliada na casa dos milhões. Para Miguel era difícil acreditar que a pessoa mais influente e importante da cidade era a responsável pelo sofrimento do seu melhor amigo.

“Ele sempre me pareceu ser um bom homem.” — Buscou na memória notícias ruins envolvendo William, acusações e reclamações de terceiros, mas nada veio à mente. Ele sempre foi educado, simpático e disposto a ajudar quem o procurava. Os cidadãos teciam elogios sobre William e enalteciam o quão altruísta este era, eles tinham uma imagem completamente distinta da que Caíque explanava.

Um lobo em pele de cordeiro?

— É uma piada, certo?

— Bem que eu gostaria que fosse apenas uma brincadeira de mau gosto da minha parte — Caíque falou, triste.

— Como vamos ajudar o Kayman? Já tem algum plano? — Miguel decidiu deixar as indagações sobre o caráter de William para outra hora, naquele momento tinha questões mais relevantes para se preocupar.

— Eu tenho uma ideia, mas não sei se é muito boa — Caíque admitiu, inseguro.

— E qual é?

— Tirar Kayman escondido da cidade ainda hoje — revelou, hesitante. — Eu pensei que você poderia viajar com ele para outro estado, talvez ‘pro Piauí ou Mato Grosso, o mais longe possível, de forma que o Senhor Willian não os encontre.

— Sério que é esse o plano? E por que temos que colocar em prática ainda hoje? — Miguel não entendia a urgência de fugir.

— Não podemos planejar muito e arriscarmos sermos descobertos pelo Senhor William, além disso, quanto mais tempo gastamos com planejamento, mais tempo o Kayman sofre nas mãos daquele filho da puta.

— Bom ponto. — Várias indagações surgiram na caótica mente de Miguel. — Algo me diz que nunca mais poderei colocar os pés aqui novamente.

— Nem você, nem o Kayman poderão retornar. Sinto muito, sei que talvez eu esteja pedindo demais... abandonar o emprego, casa e ainda se colocar em risco — suspirou, desanimado e mordeu o lábio inferior. — Tudo bem se não quiser ajudar, está no seu direito.

— Tudo bem — sorriu brando. — Sendo sincero, não existe nada que me prenda aqui, os meus parentes ignoram a minha existência e o meu melhor amigo precisa da minha ajuda, talvez até seja um sinal divino, avisando que o meu tempo em Canídeos finalmente acabou. Ok! Eu apoio o seu plano, como vamos proceder?

— Acho melhor irmos para a sua casa, terminar a conversa lá... pensando bem, não sei se foi uma boa decisão ter essa conversa aqui.

— Concordo contigo. — Se ele soubesse o rumo que a conversa tomaria, teria marcado aquele papo com Caíque na sua casa mesmo e não em uma lanchonete.

Caíque se espantou ao correr as vistas pelo espaço e reparar estar praticamente vazio, havia apenas um casal de mulheres duas mesas a frente e uma família de cinco pessoas do outro lado do salão.

— Caramba, quanto tempo passou? Está praticamente vazio.

Levantando-se, Miguel também percorreu os olhos pelo lugar.

— Nem reparei a hora passando. — Miguel tirou o celular smartphone do bolso da calça e conferiu a hora. — Vamos?

— Sim!

Caíque levantou e eles desceram para o térreo da lanchonete, pagaram a conta e caminharam juntos para a saída.

— Estou com o carro do meu pai — Caíque avisou enquanto caminhavam para o estacionamento aberto, sem cobertura. — Será mais fácil fugir.

O percurso até a casa de Miguel durou menos de dez minutos, nesse meio tempo eles permaneceram em silêncio, cada um traçando um plano na mente e pensando nos possíveis desafios e problemas que poderiam surgir.

Ao chegarem na pequena e apertada residência de dois cômodos, Miguel, com o auxílio de Caíque, arrumou as roupas e documentos nas duas mochilas desgastadas e na única mala de rodinhas que possuía. O imóvel era alugado, então, deixaria de realizar os depósitos; quanto aos móveis, comprados com o esforço do seu trabalho, teriam que serem deixados para trás.

Miguel não era rico, estava bem longe disso, porém, nos últimos cinco anos depositava ‘uma graninha’ na poupança visando comprar a almejada casa própria e investir no seu sonho de cursar faculdade ou de ao menos fazer um curso técnico. Porém, agora teria que colocar as metas em segundo plano e utilizar o dinheiro para fugir com Kayman.

Quando terminaram, Miguel escondeu a chave na ‘caixinha do correio com um bilhete informando que já depositou o aluguel do mês e pedindo para a proprietária vender os bens ou doar para os mais necessitados.

Eles entraram na caminhonete e seguiram viagem rumo a fazenda do William. Durante o percurso, planejaram os últimos detalhes do plano improvisado, tentando passar um para o outro confiança, por mais que o nervosismo estivesse esmagando-os em um abraço apertado.

...[...]...

Caíque parou o carro a 1 km da fazenda, escondido entre árvores e fora da estrada. A ideia era finalizar o percurso a pé, para não arriscarem serem vistos ou pegos. Ele conferiu a hora, passava das vinte e uma, o que significava que a maioria dos sentinelas estavam ocupados comendo e haveria poucos lobos fazendo rondas.

Usando a visão aguçada, capaz de enxergar com precisão na escuridão, Caíque conduziu Miguel pela floresta com segurança e em passos rápidos, apressados. Conforme se aproximavam da residência, as respirações se tornavam mais descompensadas e a tensão pesava em seus ombros.

Quando alcançaram a cerca de madeira que dava a volta por toda a propriedade, Caíque dançou as vistas atentas em torno do local que estavam, tentando perceber a presença de algum shifter, agradecendo silencioso ao não notar ninguém.

— Caramba, é muito grande. — Miguel observou tenso o enorme casarão branco com colunas, janelas e portas azuis. Como encontrariam Kayman sem serem vistos? — Sabe exatamente em qual quarto ele fica?

— Sei sim, não se preocupe — Ele escalou a cerca sem dificuldades, passou para o outro lado e apontou para a esquerda. — Último quarto do segundo andar.

Miguel também escalou a cerca e pulou para o outro lado, grunhindo ao raspar as palmas na madeira com algumas farpas levantadas.

Eles atravessaram a área aberta, sem árvores ou arbustos, e pararam debaixo da janela quadrada. Caíque chamou o amigo, não muito alto, orando para ninguém aparecer e conferindo o entorno. Miguel se uniu a ele, chamando pelo amigo com tom mais elevado.

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Comments

Anônima💜💖

Anônima💜💖

Meu cú tá que não passa nem uma agulha

2023-01-26

1

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