Capitulo 5 - Antes da caminhada

Assim que terminaram a rotina da manhã, Myra e Agapi sairão de sua casa e seguiram em direção à residência de Sinon. Caminharam pelas ruas do vilarejo, passando por casas de madeira e ruas de paralelepípedos, em direção à parte mais populosa. O sol já brilhava intensamente no céu, iluminando o caminho à frente.

Após cerca de 15 a 20 minutos de caminhada, Myra e Agapi chegaram à casa de Sinon. Era uma construção modesta, porém elegante, com um pequeno jardim à frente. Ao baterem na porta, foram prontamente recebidas por Ismene, esposa de Sinon, que as cumprimentou calorosamente.

— Sinon, elas chegaram! — anunciou Ismene em tom animado.

De dentro da casa, veio a resposta de Sinon:

— Façam-nas entrar!

Agapi e Myra foram conduzidas por Ismene pelos corredores da casa, cujas paredes eram adornadas com belas pinturas de deuses gregos. A decoração era refinada, refletindo o bom gosto e a posição de destaque de Sinon como um dos líderes de Alphios. O ambiente exalava uma atmosfera acolhedora e sofisticada.

Ao adentrarem a sala de estar, depararam-se com a cena. Sinon, Doros e Acroneos estavam sentados ao redor de uma grande mesa de mogno esculpida. A luz do sol entrava pelas janelas altas, criando uma atmosfera luminosa e convidativa. Uma suave fragrância de chá de dictamo permeava o ar, vindo das xícaras que os homens seguravam em suas mãos.

Agapi sussurrou no ouvido de Myra com um tom de humor:

— Pelo visto, alguém não anda muito bem da barriga.

Myra não pôde evitar um discreto sorriso, tentando conter o riso diante da observação bem-humorada de sua tia.

Sinon, ao perceber a chegada das mulheres, levantou-se de sua cadeira e dirigiu-se a elas com um sorriso acolhedor.

— Venham, venham! Estávamos esperando por vocês — convidou Sinon, indicando lugares para que se sentassem ao redor da mesa.

Todos se acomodaram, para que em fim pudessem tratar daquele assunto tão delicado. Uma bandeja de prata repleta de bolos delicadamente decorados e frutas frescas foi servida ao lado das xícaras de chá. Os aromas deliciosos se misturavam no ambiente, aguçando os sentidos de todos.

Sinon, com voz calma e autoritária, começou a explicar para Myra e Agapi o que seria necessário para a jornada que estava por vir. Como seria o procedimento do tributo, como a jovem deveria se comportar no templo… até Sinon ser interrompido por Agapi.

— E quem irá com ela? — perguntou Agapi, curiosa com os detalhes da jornada de Myra.

— Bem, ponderamos enviar dois guerreiros experientes e Eriopis, já que ela cuidava das sacerdotisas no templo de Deméter — respondeu Doros, considerando as habilidades e conhecimentos necessários para a missão.

— Mas como eles vão passar pelos guerreiros de Gygaea? — questionou Agapi, preocupada com os possíveis obstáculos no caminho.

— Eles terão que seguir pelo caminho antigo, o que levará mais tempo, mas é a escolha mais segura — explicou Acroneos, considerando as estratégias para evitar confrontos diretos.

Agapi expressou suas preocupações em relação à segurança de Myra, destacando a importância de que ela fosse bem protegida.

— Olha! Espero que a minha sobrinha chegue aqui são e salva. Não é porque ela não tem mais os pais que ela não tem ninguém que olhe por ela…

Doros interrompeu Agapi, garantindo a ela que não precisava se preocupar.

— Claro, Agapi! Pode ficar tranquila. Agora temos muito o que fazer ainda.

— Minhas netas irão auxiliar a te preparar, Myra. Assim que tudo estiver pronto, partiremos para Argos. A viagem de montaria levará cerca de dois dias e meio, mas não se preocupem, será feita uma parada em uma estalagem para pernoitar. Chegando ao templo, será imprescindível que você siga todas as instruções do sumo-sacerdote com exatidão. É de extrema importância que você execute cada detalhe corretamente para o tributo ser validado. Lembre-se sempre de que estará na presença de um deus, e isso requer o máximo de respeito e obediência.

Myra absorveu as palavras de Sinon, sentindo a seriedade e a importância do que estava por vir. Enquanto saboreava os bolos doces e frutas frescas, sua mente estava imersa em um misto de ansiedade e determinação. Ela sabia que estava prestes a adentrar em um mundo desconhecido, onde nada seria como antes, e a única coisa que a guiaria seria a incerteza.

Logo após essas explicações, Myra foi conduzida a um quarto espaçoso, onde uma grande banheira de madeira se destacava no centro. Ao redor do cômodo, várias ânforas estavam dispostas no chão, aguardando o início dos preparativos. Lá estavam as três netas de Sinon, prontas para auxiliar Myra em sua preparação.

As netas solicitaram que Myra removesse suas vestes, e então começaram a esfoliar sua pele seca com uma mistura de sal do mar mediterrâneo e azeite de oliva. A sensação de ardência percorreu seu corpo, mas ela suportou em silêncio, contendo as reclamações.

Após a “sessão de tortura”, as netas pediram que Myra se sentasse perto da janela, onde o sol batia com intensidade, para que os efeitos do tratamento surtissem o máximo efeito. Após um tempo considerável exposta ao sol, elas removeram cuidadosamente a mistura de seu corpo. Myra sentia-se incomodada com todo aquele processo, pois embora tivesse suas rotinas de beleza, nunca havia chegado a tal extremo.

Oitane, a neta do meio, se aproximou segurando uma ânfora contendo uma mistura de mel e azeite, destinada a deixar a pele de Myra mais clara e macia. Era de extrema importância que sua pele ficasse o mais clara possível, como símbolo de uma mulher recatada.

Por fim, realizaram um banho de infusões de ervas com lavanda, cúrcuma e outros minerais, proporcionando a Myra um momento relaxante e revigorante.

Enquanto desfrutava da água perfumada e relaxante, Myra ouvia os sons que vinham de fora e deixava sua mente vagar sobre tudo o que havia acontecido nas últimas horas. No entanto, seus pensamentos foram interrompidos pela voz de uma das netas de Sinon.

— Você está temerosa? — perguntou Canace, a mais nova das três netas.

Sua prima mais velha repreendeu Canace com um cutucão na cintura, indicando que ela estava sendo indiscreta.

— O que eu falei?! Só fiz uma pergunta — defendeu-se Canace.

— Não estou com medo! — respondeu Myra com um leve sorriso. — Na verdade, meu maior medo é que o vilarejo continue sob ataque.

Canace, enquanto penteava os cabelos de Myra, não perdeu a oportunidade de compartilhar seus desejos mais ousados.

— Eu também não teria medo, mas só se fosse tributo a Apolo. Como eu gostaria de passar uma noite em sua cama — disse Canace, com certa ousadia.

Sua prima Helice, chocada com a franqueza de Canace, repreendeu-a imediatamente.

— Pelos deuses, Canace! Isso não, é algo a se dizer! — exclamou Helice, demonstrando sua reprovação.

Canace tentou se justificar, alegando que todos já haviam imaginado estar na cama de um deus, fosse homem ou mulher.

— Não me coloque no meio de suas indiscrições, Canace! — repreendeu Oitane, a neta do meio.

Myra soltou uma gargalhada, levando rapidamente a mão à boca para conter o som. Ela nunca havia tido um dia tão animado, pensou consigo mesma. “Ser um tributo tem seu lado bom”, refletiu enquanto encontrava graça na discussão das netas.

Nesse momento, Oitane se aproximou com um pequeno potinho contendo pétalas de rosas-vermelhas amassadas.

— Leve isso com você em sua viagem para Argos. Passe em seus lábios quando chegar ao templo. Isso os deixará rubros. E quando estiver lá, antes de se encontrar com ele, belisque suas bochechas para ficarem vermelhas. Isso lhe dará um ar mais saudável.

Myra agradeceu a Oitane, exibindo um sorriso caloroso e bondoso.

— Grata! — disse Myra, demonstrando sua gratidão pelo gesto.

Oitane sorriu em resposta, enfatizando a importância da jornada de Myra.

— Gratos somos nós por seu ato! Você está devolvendo a fé ao povo, e um ser humano sem fé é um ser sem esperança, apenas sobrevivendo em vez de viver plenamente.

Após ouvir essas palavras, Myra começou a refletir sobre tudo o que havia vivenciado até aquele momento. Ela questionou-se sobre a diferença entre viver uma vida difícil e simplesmente sobreviver, será que teria alguma diferença? Apesar das dificuldades e dos momentos trágicos, Myra amava cuidar do campo com seus tios e primos, assim como pescar no lago Egina próximo à sua casa. Ela não via diferença entre apenas existir e verdadeiramente viver. Para ela tudo era o mesmo.

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