Capítulo 4 - Sob a Sombra de Ares

Logo cedo, Acroneos batia à porta dos tios de Myra ansioso para saber qual seria a decisão. No interior da casa, ele pôde perceber a movimentação, e em seguida a porta se abriu, revelando a figura cansada e desanimada de Myra. Seus olhos fundos, cercados por olheiras negras, eram reflexo de uma noite mal dormida. Acroneos, ao ver a jovem abatida, não pôde evitar expressar sua preocupação.

— Pelos deuses, o que aconteceu com você? — perguntou ele, com uma expressão de espanto estampada no rosto.

— É que não consegui dormir bem esta noite! — respondeu Myra com um longo bocejo e com um gesto, ela convidando-o a entrar.

— Entendo. Estou aqui para saber qual foi a decisão de vocês. — disse Acroneos se sentando em um banquinho que havia na cozinha.

— Sim, sim! — disse ela, com os olhos quase se fechando.

Um breve silêncio se estabeleceu, Acroneos vendo que a jovem parecia ter pegado no sono, deu uma leve tosse, ansioso para ouvir a resposta que tanto esperava.

— Então?! Sim?! — disse ela novamente.

— Isso você já disse, mas o que não disse foi qual foi a decisão. — falou ele com uma leve impaciência nas palavras.

— Ah! Decidi que serei o tributo.

— Nossa! Essa é uma ótima notícia. Assim que tomar seu desjejum, vá à casa de Sinon para começarem os preparativos. Queremos partir o mais rápido possível para Argos, o trajeto é longo!

Acroneos se despediu agradecendo, e relembrando a Myra mais uma vez a magnitude da tarefa que ela estava prestes a enfrentar. Myra sabia que ele estava certo, mas ainda assim se sentia um pouco atordoada.

Após a saída de Acroneos, Myra caminhou até a cozinha e acendeu a fogueira, preparando-se para iniciar suas atividades diárias. No entanto, sua mente estava inquieta, incapaz de se concentrar nas tarefas à sua frente. Em vez disso, encontrou-se imersa em seus próprios pensamentos, perdida em um mar de incertezas.

Myra nunca havia pensado em se deitar com um homem antes, e agora estaria intimamente envolvida com um deus. A simples ideia era assustadora, especialmente porque Ares, o deus com quem teria esse encontro, era conhecido por seu temperamento explosivo e sádico. A inquietação percorria o corpo de Myra enquanto ela tremia só de pensar nas consequências possíveis desse encontro.

Myra compreendia que estava prestes a adentrar em um mundo desconhecido, um território sem mapas nem referências. Nada seria como antes, e a incerteza se tornaria sua única companheira. A perspectiva de enfrentar os desafios desconhecidos que a esperavam provocava uma mistura de medo e curiosidade dentro dela. No entanto, Myra sabia que não tinha escolha senão prosseguir. A tarefa que lhe foi atribuída exigia coragem e sacrifício, e ela estava disposta a enfrentar o desconhecido em nome de seu povo.

Enquanto se sentava à mesa da cozinha, Myra contemplava o fogo crepitante, deixando seus pensamentos vagarem pelos caminhos incertos que se estendiam à sua frente. Ela se perguntava como seria sua vida depois de tudo isso, se seria capaz de lidar com as consequências, e se depois de tal sacrifício eles conseguiriam a paz e tranquilidade que tanto almejavam. Era um momento de transição, de se despedir da inocência e abraçar a coragem necessária para trilhar esse novo caminho.

Nesse momento de reflexão solitária, sua tia Agapi apareceu na cozinha, ainda sonolenta e esfregando os olhos. Myra levantou os olhos para encontrá-la e forçou um sorriso, guardando para si as preocupações que a consumiam por dentro. Ela sabia que sua jornada estava apenas começando e que precisaria encontrar forças dentro de si mesma para enfrentar os desafios que estavam por vir.

— Myra, minha filha, o que está fazendo aqui a esta hora? Ainda é muito cedo! — disse Agapi, bocejando.

— Desculpa tia! Acordei a senhora? É porque o senhor Acroneos veio até aqui para saber se nós já tínhamos nos decidido — explicou Myra, um pouco agitada.

— Pelos deuses! Esses homens não dão um segundo de sossego, aposto que veio a mando de Sinon. Morfeu ainda nem se retirou e eles já vêm bater à porta. E o que você disse? — perguntou Agapi, com um tom de desaprovação.

— Eu disse que farei o que me pediram — respondeu Myra, um pouco hesitante.

Agapi suspirou, preocupada. Ela sabia como Myra era teimosa e determinada em suas opiniões, e temia que ela acabasse se metendo em encrencas.

— Aí! Myra, Myra! Sabe, eu estava pensando e acho que não seria o melhor para você. Ainda mais por você ser tão indócil quando o assunto é defender seus ideais, e eu sei dentro de mim que se ele falar ou fizer algo que não lhe agrade, você irá rebater. E suas palavras costumam ser mais afiadas do que a lâmina de uma espada — disse Agapi, olhando para Myra com seriedade. — Quero que você me prometa que não importa o que aconteça ou o que for falado, você irá se manter centrada, se possível nem abra a boca. Tenho certeza que você não arrumou marido ainda, pois ninguém gosta de ser afrontado — finalizou, com um semblante de preocupação.

Myra sentiu um peso em seu coração ao ouvir as palavras de sua tia. Ela sabia que Agapi tinha razão, mas como controlar as palavras que saíam de sua boca impulsiva. Ela se perguntava se seria capaz de se manter calma e centrada.

E novamente observava as chamas do fogo na cozinha, Myra deixou seus pensamentos vagarem. Ela se recordou de momentos em que suas palavras afiadas causaram problemas e conflitos em sua vida, mas também se lembrou de momentos em que essas mesmas palavras a defenderam e protegeram aqueles que amavam.

Com uma voz suave, ela sussurrou para si mesma: “Se minhas palavras são como lâminas, então devo aprender a usá-las com sabedoria e precisão. Preciso ser como a forja que molda o metal, criando uma espada forte. E quando chegar a hora de lutar, estarei pronta para defender o que é certo e verdadeiro, com minhas palavras como minha arma e meu coração como meu escudo”.

— Tia, eu prometo que vou tentar me controlar. — disse Myra, firme.

Agapi suspirou novamente, sabendo que não conseguiria persuadir a sobrinha de sua ideia. Ela apenas balançou a cabeça, resignada.

— Não, não! Tentarei não! Você fará o seu melhor.

 Imagine se ele, um deus, gostaria de ser afrontado dentro de seu próprio templo, isso poderá lhe causar a morte! Ande, me prometa!

— Sim, tia! Eu prometo! — disse Myra com um certo ar de desdenho.

— Pois bem! Vamos começar nossos afazeres já que fomos acordadas. — disse sua tia.

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