No alvorecer do dia, quando os primeiros raios de luz iluminavam o horizonte. Sinon e Acroneos, guiados por Apolo, que iluminava o caminho que ele traçava no céu, até à casa dos tios de Myra. Ao bater a porta foram atendidos por Phanes, que os recepcionou com um sorriso gentil, retribuído com um sorriso amarelado e um pouco sem graça dos dois anciões ali parados. Phanes os convidou para entrar, a pequena casa estava tomada por um aroma de chá recém-preparado, uma mistura de ervas raras colhidas ali mesmo, que impregnava o ar. Convidando os visitantes a degustarem da bebida. Sentados à mesa, os anciões se entre olhavam enquanto a fumaça subia de dentro da xícara quente. Sinon, então, decidiu começar o assunto com Phanes.
— E como tem passado Phanes? — perguntou Sinon.
— Bem dentro do possível, tentando salvar o pouco que restou da minha plantação. — lamentou Phanes.
— É! Os tempos estão mesmo difíceis para Alphios! — comentou Acroneos.
— Sim, sim! Esses ataques sorrateiros dos Guyanensis, só dificulta o que nunca foi fácil! Vocês devem saber que a alguns dias atrás queimaram metade da minha plantação?!. — disse Phanes com um certo pesar em sua voz.
Sinon e Acroneos se entreolharam vendo ali uma brecha para propor-lhe o plano que tiveram.
— É sobre isso que viemos falar com você e sua esposa. — disse Acroneos.
— Bem, ontem nós e os outros anciões do vilarejo nos reunimos, e talvez tenhamos achado uma saída para este massacre que viemos sofrendo. — disse Sinon dando uma longa pausa — Entretanto, precisaremos da sua ajuda e de Agapi.
— Como assim? Vocês estão pensando em quê? Já vou logo avisando, nunca peguei em uma espada e a minha esposa jamais irá pisar em um campo de batalha. — disse Phanes se levantando da cadeira.
— Calma homem! Não é dessa ajuda que estou falando! Ontem na reunião foi proposta a ideia de fazermos o Tributo de um dia, para assim conseguir que Ares, lance seus olhares para Alphios. E nós cogitamos a possibilidade de Myra ser o tributo. — disse Sinon.
— Myra!? Ah! Não sei se isso seria possível! Ela é o único legado que sobrou de Dynamene, e minha esposa via sua irmã como uma mãe, ela jurou a si mesma que cuidaria de.
Myra como sua. Ela jamais permitiria isso.
— Sim, sim! Entendemos! Porem isso e para um bem maior, e além mais não é nada de tão perigoso para o tributo em si, o maior perigo são as estradas até o templo em Argos. Mas claro que ela será escoltada até lá — disse Acroneos.
— Não gaste suas palavras comigo, guarde-as para a minha esposa, ela sim que decidirá o destino de Myra. — falou Phanes.
A tensão entre Sinon e Acroneos era grande, eles se preparavam para a difícil tarefa de convencer Agapi a oferecer Myra como tributo a Ares. Eles sabiam que precisariam de muita persuasão para conseguir o que desejavam, afinal, ninguém em sã consciência gostaria de oferecer um parente como tributo, especialmente para um deus como Ares.
As histórias contadas sobre Ares não eram nada lisonjeiras. Ele era conhecido por sua sede por sangue e pelo prazer que encontrava na matança e por perder facilmente o controle com suas insanidades. Mas, ao mesmo tempo, sabia-se que o deus da guerra era poderoso e capaz de trazer vitória para aqueles que o adoravam.
Os três se encaminharam até uma grande árvore onde estavam alguns fardos de trigo, e lá estava Agapi os amarrando. Enquanto caminhavam em direção a ela, os dois anciões pensavam em como poderiam convencê-la.
— Conseguiu afiar a foice que lhe pedi. — falou Agapi.
— Sim, sim! — respondeu Phanes, entregando a foice na mão de Agapi.
— Aconteceu algo? Por que Acroneos e Sinon estão aqui? E com essas caras apreensivas. — Disse Agapi com um sorriso meio sem graça, para seu marido.
— Ainda não! Mas está para acontecer, onde está Myra? — perguntou Phanes.
— Está lá colhendo o trigo com os meninos, por quê? — disse ela apontando para o meio da plantação.
— Vou chamá-la, enquanto você conversa com eles. — disse Phanes indo em direção a seus dois filhos que vinham trazendo mais fardos.
— Nós já falamos com Phanes, mas ele falou que só você poderia decidir. Mas antes peço que pense muito bem antes de dar qualquer resposta. — disse Sinon.
— Decisão sobre o quê? Digam-me logo parem de arrastar suas palavras. — retrucou Agapi.
— É que decidimos fazer o tributo de um dia… E um dos nomes propostos foi o de sua sobrinha, entretanto precisamos da sua permissão, é claro que ela faça por vontade própria para ter algum efeito. — disse Sinon.
Agapi olhou com desdém para Sinon e Acroneos, que agora se sentiam desconfortáveis com a situação. Ela balançou a cabeça, negativamente e disse.
— Minha sobrinha!? Não! — Agapi com uma expressão de incredulidade no rosto. Ela deu uma longa pausa antes de continuar. — Não, não! Vocês deveriam estar envergonhados de propor algo dessa magnitude para uma jovem que já sofreu tanto! E, além disso, sabemos que para fazer essa oferenda, tem que ser uma jovem bonita, e há jovens muito mais belas do que ela que poderia fazer isso!
Sinon tentou argumentar:
— Mas Agapi, Myra é a única que não é casada, nem está para ser desposada. Além disso, ela só ficara lá um dia e uma noite no templo de Ares. Se parar para pensar bem, ela deveria se sentir honrada por ser oferecida como tributo a um deus poderoso.
Agapi soltou uma risada irônica e respondeu:
— Oh, sim! Uma honra! Uma honra tão maravilhosa que talvez fosse melhor que uma nobre fosse ao lugar de minha sobrinha! Vocês não acham?
Sinon e Acroneos se calaram, percebendo que não conseguiriam convencer Agapi com palavras. Eles sabiam que precisavam encontrar outra solução.
— Pode não parecer uma coisa justa! Mais você não acha que essa deveria ser uma escolha de sua sobrinha?! — disse Acroneos.
— O que deveria ser minha escolha? — indagou Myra chegando perto de sua tia e ouvindo o final da conversa.
Agapi, ao vê-la, segurou a pelo braço com firmeza, levando-a para um canto mais distante de Acroneos e Sinon. Myra podia sentir olhar pesado de sua tia sobre si enquanto ouvia as palavras que ecoavam em sua mente como um sinal de alerta.
Myra olhou para seus pés, sentindo o peso da decisão que precisava tomar. Ela sabia que a escolha não era fácil e que suas opções eram limitadas. E se aproximando dos dois anciões, ela falou.
— E se eu recusar? — perguntou Myra, encarando a tia e um dos homens.
— Se você recusar, as coisas podem ficar ainda piores. Acho que você sabe do que estou falando, não é? — disse Acroneos, com um olhar preocupado.
Myra suspirou, sabendo que as palavras de sua tia eram verdadeiras. Ela sabia que as coisas não estavam bem no vilarejo e a situação poderia piorar se nada fosse feito, porem ser um tributo ao um deus inconstante e algo que deve ser considerado.
A jovem saiu correndo, deixando todos surpresos com a sua reação, enquanto caminhava sem rumo, a mente de Myra estava em completa desordem. Ela sabia que estava.
Prestes a tomar uma decisão que mudaria sua vida para sempre, e as possibilidades eram aterrorizantes.
Mas ela também sabia que não podia fugir dessa responsabilidade, que era seu dever como membro do vilarejo. Ao mesmo tempo que se afastava de seus familiares, Myra não conseguia deixar de pensar em sua aparência. Ela nunca havia se sentido, bonita ou desejável como tantas outras mulheres de seu vilarejo.
De fato ela não era atraente, seu corpo magro e pouco curvilíneo não chamavam atenção, com seus olhos verdes, profundos como a floresta, muitas vezes era escondida por seu semblante de um ar triste em seu rosto. Seus lábios finos, por vezes, pareciam desprovidos de vida, sem nenhum brilho ou cor. Seu queixo suave era pouco notável, a única coisa que chamava a atenção naquela jovem eram seus cabelos. De um castanho alaranjados que pareciam incendiar, com suas longas ondulações que iam até sua cintura.
Mais os pensamentos que mais a afligiam eram. Se ela fosse entregue como tributo e não fosse de agrado de Ares? O que poderia acontecer com ela? Todos sabiam das predileções dos deuses, e Myra mais do que ninguém sabia que não correspondia a elas. Mas se ela não se oferecesse, as consequências poderiam ser ainda piores. O vilarejo continuaria a sofrer com as atrocidades do inimigas pessoas que ela amava estariam sempre em perigo.
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Atualizado até capítulo 10
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