Capítulo 5

Vênus sorria. Os socos de seu adversário a deixava entusiasmada. Os dois lutavam no meio de uma multidão de homens bêbados comendo e bebendo ao som de músicos. Aquele era o bar mais famoso entre os mercenários do leste. Envolto em brigas sangrentas por coisas medíocres como tabaco e sorvete, os mercenários dali viviam uma vida sonhada por qualquer criminoso que se preze.

— Senhora — disse um homem magro, vestindo roupa de couro e capacete vermelho com desenhos antigos da era passada — Meu nome é Orion, sou servo do rei Bezalel, o lorde de Abyssum.

— Não está vendo que…— ela não conseguiu completar — com mais força, infeliz!

— O lorde Bezalel está querendo seus serviços e cogita pagar muito dinheiro.

— Com mais força! — gritou ela. A multidão fez uma roda em volta dos amantes e gritaram palavras de incentivo para o homem que não estava aguentando os golpes da mulher.

— Senhora, o assunto é sério — disse Orion tentando dialogar em meio a gritaria — seus serviços serão recompensados com riquezas além da compreensão.

— O quê? — gritou ela ao ver o seu amante parando para descansar — eu não terminei!

— Me desculpe, não sou uma máquina — disse o amante com uma expressão de medo.

— Então não merece ter me tocado — gritou ela atirando na cabeça do infeliz.

— Orion, você disse que o rei Bezalel deseja meus serviços, certo? — perguntou a mulher limpando o sangue de seu rosto.

— Sim, minha senhora.

— O que seria esse trabalho? Ele quer eliminar algum rival, tipo o rei de Lux? Se for isso, posso fazer sem muita dificuldade.

— A aliança que nosso rei deu de presente à sua futura esposa foi roubada do banco. Ele deseja que você encontre o anel e o traga em segurança até seu palácio.

— Isso não é tão difícil, por que ele não chamou a polícia?

— Não estamos lidando com um criminoso comum, minha Senhora.

— Se o que diz é verdade, me siga até meu escritório — disse a mulher caminhando rumo aos fundos do bar.

Os homens pegaram o corpo do infeliz e o jogaram no canil, onde foi devorado pelos cachorros, levando a multidão à loucura. Orion ficou com um pouco de medo, mesmo sendo da alta elite dos soldados de Abyssum. O escritório da mercenária era a única coisa bonita daquele lugar. Ela vestiu uma roupa e pediu para Orion se sentar numa confortável cadeira de escritório. Ela ofereceu biscoitos e um pouco de café, mas Orion recusou, sua máscara era projetada para nunca mais sair, mesmo que ele tentasse.

— Primeiramente, meu nome é Vênus, sou a chefe desse lugar — disse ela com uma voz calma e cordial.

— Senhora Vênus, como havia dito, estamos lidando com um criminoso diferente do comum.

— Diferente? Conheço alguns criminosos excêntricos, acredito que ele possa ser um deles.

— Não, meu rei suspeita que se trata de um viajante.

— Viajante? Isso não é uma lenda contada para crianças?

— Meu rei os chama de fantasmas — disse Orion – e ele disse que essas coisas conseguem vagar pelas dimensões como deuses, mas sabemos, no fundo, que eles são apenas homens e mulheres com tecnologias mais poderosas que a nossa.

— Quando estudei magia, meus professores sempre disseram que não existe tecnologia capaz de levar um homem a outra realidade. Uma dimensão não passa de um universo paralelo igual ao nosso, mas diferente graças a magia que habita todos os lugares.

— O que você quer dizer com isso?

— Meu caro Orion, esses seres usam magia e tecnologia para viajar pelas dimensões, eles não passam de bruxos.

— Bruxos? Se isso for verdade, essa bandida tem mais poderes do que estávamos imaginando.

— Você disse bandida?

— Sim, as testemunhas afirmam que foi uma mulher que roubou a aliança.

— As coisas não podiam ficar melhores. Tomara que ela seja uma adversária à altura do meu poder.

— Você aceitará o serviço? — perguntou Orion.

— É claro que vou, meu caro homem de máscara.

Os mercenários são pessoas cruéis, isso tenho que admitir, mas nunca você verá um deles falhando em sua missão. Reis caíram graças a homens e mulheres do bando deles. Vênus, uma mulher branca, seios grandes e quadris pequenos, barriga sarada e olhar psicótico, vestia roupas de couro vermelha com uma capa rasgada devido suas batalhas. As pessoas até tentaram convencê-la a trocar de capa, mas ela sempre recusava, dizendo que aquilo representa suas batalhas vencidas, um lembrete aos tolos que tentam desafiá-la.

— Senhores, temos um serviço que vai garantir anos de vagabundagem! — gritou Vênus em seu palco no meio do bar.

— Qual é o serviço? Virar soldados do rei! — zombou um dos homens.

— Muito melhor, meu querido amigo — respondeu Vênus — estou falando de dinheiro além das nossas compreensões. O rei Bezalel de Abyssum nos deu uma semana para encontrar uma mulher que roubou a aliança da sua noivinha.

— Que rei miserável, por que não compra outro de uma vez? — zombou uma mulher.

— Também penso assim, mas se ele quer encher nosso rabo de dinheiro, quem somos nós para recusar? — Respondeu Vênus sorrindo.

— Qual é o plano?

— Não somos onipresentes para conseguir rastrear uma ladra desse nível, por isso começaremos nossa investigação em volta da praia da prisão — respondeu Vênus — se conseguirmos encontrar um cheiro, rastro, ou até mesmo um pequeno DNA, poderemos encontrar nossa ratinha sem muitas dificuldades.

Vênus deixou o palco e voltou para seu escritório. Ela abriu o guarda-roupa e tirou uma bússola da sua bolsa. Vênus entregou o objeto nas mãos de Órion e pediu para ele soprar.

— Engraçadinha — respondeu ele.

— Tinha me esquecido que você não pode tirar essa coisa — zombou Vênus soprando a bússola.

A poeira do objeto se tornou uma silhueta feminina. Vênus sussurrou as palavras: “Procure o ladrão”. O ser desapareceu, deixando somente a mercenária e o Orion no escritório.

— Amigo, até o fim de amanhã teremos nossa ratinha presa num aquário.

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