Capítulo 2

Hoje resolvi conhecer a floresta. Os uivos que ouvi ontem a noite me deixaram curiosa e tentada, quem sabe eu não encontre um lobo, provavelmente ele não seria nada amigável, mas eu só quero ver um, de longe.

Chego em uma parte da floresta que é linda, as folhas secas caídas por todos os lados, as árvores formam um círculo e o sol entra dentre as várias e extensas árvores.

  — Quem é você? - me assusto com a voz que vinha de trás de mim, um garoto, alto, cabelos castanhos que vão até o queixo e olhos castanhos que lembram chocolate.

  — Oi... é, eu sou a Isis, e quem é você? - pergunto confusa, da onde ele surgiu mesmo?

  — Sou o Benjamin. Você é nova na cidade né? Minha mãe foi dar as boas vindas pra você e sua mãe. Eu estava no carro.

  — Sim. Sua mãe seria a xerife, Lia?

  — Sim. Eu vi você la, parecia entediada.

  — Um pouco, sabe, carregar caixas não é meu hobbie. - ele ri com meu comentário, e que sorriso bonito esse garoto tem.

  — Você não devia estar aqui, a floresta é perigosa. - me alerta, ainda com um pequeno sorriso no rosto.

  — São os lobos, né? E se é perigosa o que você faz aqui?

  — Eu... Eu já tô acostumado, ando por essa floresta a anos, sei onde é perigoso e onde não é.

  — Hum, eu não me importo. - vou até uma das árvores e me sento escorando minhas costas na mesma, pego dois comprimidos e os engulo a seco.

  — Você não se importa de ser devorada por lobos? - ele pergunta em tom de brincadeira.

  — Não é isso. Não acho que algo vá acontecer, não comigo.

Mentalmente lembro a mim mesma que sou amaldiçoada, a morte me persegue em todo canto, mas nunca busca a mim.

Minha cabeça começa a girar e meus olhos já pesam, Benjamin está falando algo, mas não ouço direito.

  — Ei, você tá bem? - ele se agacha em minha frente.

  — O que você tomou? - ele parecia preocupado, um pouco em pânico talvez.

Não consigo mais manter meus olhos abertos e apago....

...☆...

Me sinto carregada por alguém, meu corpo está dolorido e gelado, não tenho força para abrir os olhos ou me mexer, minha cabeça está encostada no peito de alguém quente. Minha cabeça lateja de dor, minha boca está seca e não consigo abri-la ou formar uma palavra sequer.

Percebo que já não estamos mais dentro da floresta pela pouca iluminação que que vejo por baixo das pálpebras, as luzes que vinham dos postes das ruas silenciosas. não poderia adivinhar que horas são.

Tento me lembrar quem poderia ser a pessoa que me carregava, e logo me lembro de Benjamin, ele sabia onde ficava minha casa, então era ele.

  — Minha filha. - ouço a voz da minha mãe.

  — Ai meu deus, obrigado garoto. Você poderia levá-la para dentro, por favor, venha. - A pessoa que me carregava entra e sobe as escadas, minha mãe está logo atrás, ouço os passos dela.

Deixei ela preocupada, mais uma vez, dei trabalho, estou sempre fazendo isso, não é totalmente por querer, eu apenas não consigo ser tão forte como ela.

Sou colocada em minha cama e acabo apagando alguns minutos depois.

...☆...

Ao me olhar no espelho vejo que estou com olheiras profundas e meus cabelos brancos estão emaranhados como um ninho, penteio meus cabelos e decido mantê-los solto. Coloco uma bermuda legging preta que vai até o meio das coxas, uma camiseta branca e um tênis Jordan preto e branco.

Vou direto para o colégio, o único que tem na cidade. Minha mãe já havia ido trabalhar.

Assim que chego em frente ao grande colégio penso seriamente em cabular aula e ir para a floresta, mas eu não faria isso, não hoje. com sorte talvez eu aguentaria 5 horas dentro de uma sala.

  — Oi. Você é aluna nova né? Me chamo Hadria - uma garota de cabelos ruivos e cacheados surge em minha frente com um grande sorriso. Como ela conseguia ter toda esta animação logo pela manhã.

  — Oi. Sou a Ísis. - respondo ainda andando para entrar no colégio e ela me acompanha vindo logo atrás.

Ela falava várias coisas, como o quanto a cidade normalmente é calma e que em breve eu me encaixaria bem com os outros estudantes, ou talvez não tanto. Legal ela grudou no meu pé, e não para de falar um segundo, por isso gosto de ficar sozinha, gosto de silêncio. não me levem a mal, ela parece ser legal.

Essa escola é enorme, e ao andar pelos corredores algumas pessoas me olham, mais especificamente para meu cabelo, meus longos cabelos brancos, não passam tão despercebidos como eu desejo.

as aulas acabariam em 5 horas e eu poderia ir para a floresta, se eu não acabar explodindo antes.

...☆...

Havia acabado as duas primeiras aulas e eu já não aguentava mais, Hadria estava sempre falando e minha cabeça estava prestes a explodir então arranjei um jeito de fugir dela.

Vou para a floresta, desta vez pretendo ir mais para dentro. Hadria havia falado que havia lobos na floresta, apesar de eu já saber. Eu seria azarada demais se encontrasse com um.

Depois de um tempo andando floresta adentro resolvo parar ali mesmo e me sentar, hoje eu não iria me dopar pelo menos essa é a intenção. Apenas quero ficar aqui, submersa em meus pensamentos.

Meus pensamentos voltam ao dia do acidente, sempre voltando, sempre me assombrando. Realmente a dor, ela nunca fui embora, ela sempre esteve aqui, em alguns momentos mais presente, em outros eu até esquecia que ela estava ali, mas estes momentos eram raros, e normalmente não duravam muito. Sempre voltando no..e se... e se eu não estivesse lá, se eu tivesse decidido ficar em casa com a mamãe e esperado, será que seria diferente? Eu sinto tanta falta dele, ele faz uma saudade imensa. Sinto falta do abraço dele, das histórias sobre lobos que ele costumava contar e do quão ele sempre me motivou a correr atrás do que eu queria. Ele era e sempre vai ser o melhor pai. Ele fazia eu me sentir única, eu era a princesinha dele. Se ele me visse hoje, ele não teria orgulho do que me tornei, do que estou me tornando, do quão ruim minha alma pode ser, se visse que eu deixei a raiva e a dor tomar conta, fazendo totalmente o contrário do que ele me ensinou, ficaria tão desapontado. Eu me sinto tão fraca, tendo deixado que a tempestade dentro de mim tomasse conta de tudo ao meu redor..

  — Eu queria que você estivesse aqui papai. - sussurro enquanto sinto o nó em minha garganta e a saudade.

  — Tudo seria tão diferente, você me ensinaria a lidar com a raiva, a controlá-la, a usá-la a meu favor. Você sempre foi um ótimo pai, e um ótimo marido, mamãe concordaria com isso - ri fraco, enquanto lágrimas se acumulavam em meus olhos.

Ao escutar um graveto quebrando me viro rapidamente para trás, de onde vinha o barulho tinha um grande lobo de pelagem negra. Me assusto com o grande animal à minha frente mas de maneira alguma ouso me mover. O lobo tinha olhos alaranjados como o fogo, com certeza, era como fogo vivo, ele me encarava, também imóvel, não parecia que queria me atacar, pelo contrário, o animal parecia estar com certo receio em se mover ou se aproximar. Ele lentamente se deita nas folhas secas da floresta como se não quisesse me assustar.

  — Isso é mais uma das minhas alucinações? - me pergunto e no mesmo instante o lobo vira a cabeça para o lado.

  — Como se você entendesse algo que eu falo. - dou uma risada leve ao me encontrar falando com um lobo. Que piada.

Resolvo arriscar perder a mão e a estendo devagar na intenção de acariciar a cabeça do grande lobo, ele não recua nem avança, apenas fica me olhando. Ao conseguir encostar nele me aproximo mais, mesmo que ainda com certo receio, faço carinho em sua cabeça enquanto me sento ao lado do mesmo, ele deita sua cabeça em minhas pernas e fica olhando as grandes árvores e o sol que brilha dentre elas enquanto aproveita o carinho. Que lobo atirado, acabo rindo sozinha do lobo, oque chama a atenção do mesmo que levanta a cabeça para me olhar, os olhos de fogo, tão hipnotizantes.

A que ponto cheguei estou no meio da floresta com um lobo deitado em meu colo enquanto faço carinho no mesmo, mas pelo menos não estou chapada.

Deve ser boa a sensação de poder correr livremente pela floresta e sentir o vento sobre os pelos, deve ser libertador.

Agora, como uma distração, minha mente estava focada no lobo e nas grandes árvores ao nosso redor, naquele breve momento, mesmo que não fosse real, a dor sumiu, como um remédio.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!