Sinto frio e ao abrir os olhos percebo que estou na floresta, demorou um tempo até que eu assimile e lembre, as imagens do grande lobo vem a mente mas ele não estava mais lá, eu estava sozinha no meio da floresta. Nem sei se aquele lobo era real ou uma alucinação ou talvez um sonho.
Olhos de fogo...
olho as horas e são 19:27, minha mãe ainda não deve ter chegado, melhor voltar logo para casa, não quero dar trabalho de novo.
Enquanto caminho penso no lobo, era um lobo, por qual motivo não me atacou, tá eu tenho mais afinidade com animais do que com humanos, mas era um lobo. Mas talvez nem fosse real, minha mente me lembra, poderia ser só mais uma das minhas alucinações.
...☆...
Entro em casa e vou direto pra cozinha, estou morta de fome. Me surpreendi ao encontrar minha mãe lá, com uma taça de vinho na mão. Logo que entro ela me olha, parece exausta, olheiras fundas de baixo dos olhos que estão cheios de lágrimas e vermelhos, rosto abatido de cansaço. Odiava ver ela assim, desde que papai morreu ela tem se matado trabalhando, e a noite bebia e chorava, nada mudou, ela queria tanto que mudasse, mas é difícil mudar, principalmente quando a dor ainda nos sufoca.
— Oi. perdão, não ter avisado, fiquei na floresta a tarde toda. - explico antes dela ter chance de falar algo.
— Tudo bem querida. Deve estar sendo difícil, afinal faltam dois dias pro aniversário dele - ela me lembra de cara que logo será aniversário do papai, o ?que normalmente é um motivo para que eu me dope mais que o normal, ou tomar algo que sei que me deixaria apagada o dia todo.
— Você parece estar cansada, vá tomar um banho e descansar. - não comento sobre o que ela falou, odeio conversar sobre ele.
Normalmente eu deixaria ela se afogar em bebida, até que a dor fosse anestesiada pelo álcool e ela acabasse dormindo em cima de alguma foto dela e do papai, assim como da última vez, mas hoje ela precisa descansar, e deixar a bebida de lado um pouco.
— Tudo bem, eu vou. - ela fala acompanhada de um grande suspiro.
— Boa noite. - falo enquanto ela sobe, e eu vou pra geladeira procurar algo para comer.
Não entendam errado, ela é minha mãe, entendo ela, as vezes precisamos anestesiar a dor com alguma coisa, então às vezes, quando sei que está doendo demais, que é quando ela simplesmente se senta no sofá com uma garrafa de vinho na mão, sem lágrimas, apenas ela, e a dor, quando é assim, eu deixo, porque precisamos nos afogar um pouco as vezes, mas só um pouco, o suficiente para que nosso cérebro entenda que precisamos voltar a superfície, para buscar por ar. Por que, infelizmente, mesmo com tanta dor, continuamos vivos.
...☆...
Sai da escola a algum tempo e estou dentro da floresta, entrar na floresta vai acabar se tornando meu passatempo definitivamente. Hoje está muito quente, perguntei a hadria se havia alguma cachoeira ou rio na floresta, ela disse que havia uma cachoeira mas era bem para dentro, e disse que era perigoso eu encontrar algum lobo ou me perder, o discurso todo de que era melhor eu não ir. Mas aqui estou eu, dentro da floresta à procura da bendita cachoeira.
Ouço barulhos e vejo um movimento à minha frente, logo um lobo surge, o mesmo lobo daquele dia, os olhos de fogo são inesquecíveis, achei que tivesse sido uma alucinação minha.
Ele se aproxima devagar e eu não havia percebido antes, mas ele é enorme, deve ter um pouco menos de dois metros, talvez 1,90, enquanto eu estou aqui com meus 1,78, estou me sentindo baixa, mas apesar da altura parecia um bebê pedindo carinho ontem.
— Por acaso você não sabe onde tem uma cachoeira por aqui? - rio de mim mesma por estar falando com o lobo, mas ele parecia me entender e se abaixa, fazendo um sinal com a cabeça para que eu suba nele.
— Tá maluco, eu não subo aí não - ele choraminga e eu com certo receio me aproximo e subo, ele levanta e eu me agarro ao pescoço do lobo, então ele começa a correr, o arrependimento bate na hora, mas a sensação do vento em meus cabelos é maravilhosa.
Longos minutos passam e ele logo para, ao abrir os olhos me deparo com uma grande cachoeira, é linda a água é limpa e azul, chega a dar para ver o fundo. Ele se abaixa e eu desço.
Me sento sobre uma pedra e o lobo vem atrás se deitando ao meu lado.
— A água deve estar ótima, acho que vou entrar. - me levanto e logo começo a me despir ficando apenas de lingerie.
— Você sabe nadar, lobo? - ele me olha e logo se levanta e fica ao meu lado, eu corro e me jogo na água e logo ele pula também.
A água está maravilhosa, eu ria de mim mesma, a sensação, tão boa, não me sentia assim, livre, a muito tempo, tão distante da dor, uma sensação tão estranha, não muito conhecida por mim, paz. Fico um tempo na água e logo sai, o lobo vem logo atrás.
— Sabe lobo, você tem olhos de fogo, eles são hipnotizantes, e intensos. - digo enquanto pego minha toalha na mochila e enrolo em minha cintura. Olho para o lobo e ele está se sacudindo para poder se secar, quando me olha vira a cabeça, parece gostar do que falei.
Olhos tão intensos, que parecem ver todos ou meus pecados. Toda vez que os olho, pareço me perder em uma imensidão de escuridão e paz, como se silênciacem a dor. É doideira, mas me acalma.
O lobo logo se deita em minhas pernas, faço carinho enquanto sinto o sol em minha pele.
— Faz muito tempo que não me sinto assim. - ele levanta a cabeça para me olhar com aqueles lindos olhos de fogo.
— Sabe, livre, bem e… feliz de certa forma, é boa a sensação.
A sensação inconfundível, não muito conhecida por mim, de paz. Não posso me acostumar com isso, nunca dura muito, são apenas pequenos momentos que vem ser apreciados.
O tempo passa e eu ainda sinto o sol quente queimando sobre a minha pele pálida. Pego-me pensando se havia outros lobos, e se houvessem outros, onde eles se escondem? Não que isso me interesse mas eu sou curiosa, e se a outros lobos como olhos de fogo? Mais grandes que o normal e mansos, eu iria querer conhecê-los. E provavelmente eles iriam me devorar.
Hadria falou que era perigoso, mas até agora só achei ele, que é um neném, adora carinho, onde estava o perigo nisso??
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Atualizado até capítulo 20
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