Agora é real

Fico refletindo sobre a minha vida enquanto bebo meu café.

Nasci e cresci aqui no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Sempre amei as praias e o sol, todos os dias eu caminhava pela areia da praia e molhava os meus pés nas águas salgadas do mar.

Minha mãe é brasileira e meu pai Taiwanês. Ele veio ao Brasil a princípio para Minas Gerais trabalhar com mineração de pedras preciosas. Com o passar do tempo ele se especializou em design de joias e ficou bem conhecido por desenhar jóias para os famosos que viviam no Rio de Janeiro, foi aí que ele se mudou para o Rio e conheceu minha mãe. Na época, minha mãe era apenas a recepcionista de um restaurante chique, mas ele se apaixonou e acabaram se casando.

Sempre vivi nesse meio do glamour dos famosos, que sempre procuravam por meu pai para encomendar jóias. Era um desejo do meu pai que eu aprendesse sobre os negócios da família e continuasse com esse legado. Vendo meu desinteresse em desenhar e fabricar jóias, minha mãe teve a brilhante ideia de me fazer interessar por mineração, mas não em Minas Gerais e sim no Canadá. Fui enviado ao Canadá com vinte anos para aprender sobre mineração, extração e purificação de ouro, porém longe dos meus pais eu pude trilhar um caminho diferente, entrei pra faculdade de educação física e comecei a me interessar por esportes e cuidados com a saúde. Meu desejo era voltar ao Brasil e abrir uma academia, mas pesquisei a respeito e percebi que na minha atual situação financeira o melhor seria uma loja de roupas e artigos esportivos. Não quero pedir aos meus pais para me ajudar, na verdade eles nem sabem dos meus planos, eu só vou avisá-los quando tudo estiver certo e quando eu estiver tendo sucesso seguindo o caminho que eu escolhi.

Hoje, com 29 anos, eu estou realizando parte do meu objetivo.

Termino meu café, ainda são nove e meia.

Pago o café e saio, decidi ir até o escritório. É melhor tentar adiantar a reunião para não perder o horário de almoço. Penso em encontrar a mulher na lanchonete.

Chego em frente ao endereço. É um prédio comercial. Me apresento na recepção e peço para a recepcionista guardar a bolsa que carrego enquanto estou lá.

O escritório fica no primeiro andar, então subo de escada. É um escritório pequeno, um pouco bagunçado, mas posso perceber que as pessoas trabalham com responsabilidade.

Uma mulher loira me recebe com um sorriso no rosto, ela é muito bonita, parece uma modelo, bem maquiada e usando um vestido azul marinho bem justo no corpo, o vestido não é escandaloso nem decotado mas faz qualquer homem olhar pois ele realça as curvas do seu corpo.

_Bom dia! Posso ajudar em algo?

_Bom dia. Sou Daniel. Eu tenho uma reunião marcada para as dez. Sei que estou adiantando, mas eu tenho compromisso mais tarde e não posso me atrasar.

_Tudo bem Daniel. Sou Luciana. Vou ver se a Cristina pode te atender. Se ela não puder ficarei feliz em te atender no lugar dela. Você pode se sentar enquanto eu falo com ela.

Ela se retira com passos lentos, jogando seus cabelos pra trás e deslizando seus dedos entre os fios.

Eu me sento em uma poltrona e aguardo impaciente. Por coincidência, o nome da responsável pelo escritório é Cristina.

Ela retorna um pouco mais séria e me pede para acompanhá-la. Ela me leva até a sala da responsável pelo escritório e abre a porta.

_Senhora Cristina. O senhor Daniel

Eu acho engraçado quando ela fala de um jeito tão formal. Passo por ela para entrar na sala e ela fecha gentilmente a porta atrás de mim.

Quando olho para Cristina fico sem acreditar no que meus olhos estão vendo. É a mulher da lanchonete, porém agora ela usa os cabelos presos, o que a deixa ainda mais linda, pois deixa amostra o contorno do seu rosto e seu pescoço. Tento disfarçar minha surpresa ao vê-la. Ela retira os óculos e olha em minha direção, percebo que ela está surpresa ao me ver e sei que ela finge não me reconhecer, eu acho graça mas tomo cuidado para não falar nada que possa me arrepender depois, por hora vou focar no motivo de eu ter vindo até aqui.

_Com licença. Sei que estou uns minutos adiantado, mas poderia me atender agora?

_Sim. Sente-se por favor

Ela se levanta e estica a mão indicando a cadeira à frente da sua mesa.

A princípio seria uma reunião bem rápida, eu já havia pesquisado sobre tudo para abrir uma loja aqui em São Paulo, mas agora que estou na frente de Cristina, olhando em seus olhos e ouvindo sua voz, eu faço o possível para que essa reunião não acabe tão cedo. Faço todas as perguntas como se não soubesse de absolutamente nada, ao conversar com ela, posso ver como ela é inteligente e como sua voz doce encanta meus ouvidos. Infelizmente não posso segura-la pelo dia todo, é hora de acabar a reunião e fechar o contrato com ela.

_Então Senhor Daniel. A moça bonita que te recebeu vai cuidar de tudo pra você. Ela é bastante competente. Mas qualquer problema pode vir até mim também.

Eu a olho nos olhos e sorrio. Eu esperava que ela pudesse me atender sempre que eu precisasse, assim eu poderia ter mais contato com Cristina.

_Eu espero ter muitos problemas no futuro.

Eu me levanto da cadeira e estico minha mão, minha esperança é poder segurar a sua mão e sentir na vida real o que sinto nos meus sonhos. Ela segura minha mão em um aperto firme, é surreal poder sentir o calor da sua mão, fico imaginando como seria sentir o calor do seu corpo inteiro. Sinto sua mão ficar mais leve mas não a solto.

_Aquela lanchonete onde nos vimos pela manhã. Sei que você almoça lá às vezes. Você vai almoçar lá?

_Como você sabe que almoço lá?

_Eu perguntei pra um funcionário de lá. Eu ia ficar lá no horário do almoço pra tentar falar com você, mas como estou aqui, e está próximo da hora de almoçar. Quer almoçar comigo?

Ela me olha um pouco confusa e não responde nada. Eu continuo segurando sua mão e olhando em seus olhos.

De repente a porta se abre e ela solta a minha mão. Luciana

_Cristina? Está tudo bem? Vim me apresentar apropriadamente já que vou ser sua contadora.

Ela entra e segue em minha direção e toca em meu ombro.

_O que você acha de almoçarmos juntos para conversar?

Eu tento ser educado e sorrio para Luciana. Eu ia dizer que iria almoçar com Cristina mesmo sem ela ter me respondido que aceitava meu convite, mas assim que olho para Cristina, ela diz

_Otima ideia! Vocês devem se conhecer melhor para que possam trabalhar juntos. Vai ser bom pra vocês. Eu entro em contato quando o contrato estiver pronto.

Cristina caminha em direção a porta. Eu a acompanho com o olhar. Consigo ver seus tênis de corrida e lembro da bolsa com os sapatos que está na recepção do prédio. Ela abre a porta enquanto faz uma ligação no celular. Eu a observo de cabeça baixa enquanto passo por ela.

_Até mais tarde Cristina.

Eu me despeço e ela fecha a porta.

Não me sinto bem ao deixar Cristina naquela sala, mas o que eu poderia fazer? Seria loucura contar a ela que ela tem vivido nos meus sonhos por quase quinze anos. Preciso pensar no que devo fazer para me aproximar de Cristina.

Luciana não para de falar ao meu lado, mas estou tão focado em meus pensamentos que não ouço uma palavra do que ela está dizendo.

_Espera eu pegar minha bolsa e iremos almoçar. Tem um restaurante maravilhoso aqui. Eu pago.

_Me desculpe Luciana, mas agora tenho um compromisso. Preciso ir embora.

Eu saio do escritório, pego a bolsa na recepção e volto para o hotel onde estou hospedado. Preciso pensar em uma forma de me aproximar sem parecer que sou um maluco ou um perseguidor.

Deitado na cama do hotel não paro de pensar que a vida me trouxe Cristina pra realidade. É surreal o que estou sentindo. Parece um sonho e tenho medo de acordar.

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