A mulher dos meus sonhos

"Chove muito.

O céu que antes era azul e ensolarado agora está cinza, assim como meus sentimentos.

Sinto a mão de minha amada segurar a minha mão com tanta força... Seus dedos finos entrelaçados aos meus só me faz sentir ainda mais angústia por ter que abandoná-la.

Nem me incomodo com as gotas de água que escorrem pelo meu rosto, pois elas se misturam com as lágrimas que brotam dos meus olhos.

O cheiro forte do mar e da chuva, que antes eu tanto gostava, hoje me faz sentir ainda mais tristeza pelo que está pra acontecer.

Os meus passos estão cada vez mais pesados. Quero voltar. Quero abraçar minha amada e dizer que nunca vou deixá-la. Aperto ainda mais a sua mão enquanto andamos em direção aos navios. Não quero soltar mas é inevitável.

Ao nos aproximarmos do porto de navios percebo que ela para. Eu tento controlar minha tristeza. Então eu paro. Olho em seu rosto. Sua cabeça baixa me faz sentir ainda mais vontade de ficar com minha amada. Então eu a seguro nos ombros e levo minhas mãos em seu rosto na esperança de olhar em meus olhos e ver o quanto eu a amo. Neste momento, as lágrimas que ela estava segurando desabam de forma descontrolada. Ela segura meu terno e tenta aproximar seu corpo do meu na esperança de me abraçar, eu resisto ao seu abraço pois sei que se eu encostar em seu corpo não vou conseguir deixá-la. Eu a amo tanto.

Eu seguro em suas mãos a as beijo, primeiro uma e depois a outra, posso sentir suas mãos geladas e molhadas em meus lábios. Desço suas mãos e as solto.

Me viro pois não quero que ela me veja chorar. Me afasto lentamente na esperança de controlar minhas expressões, quando sinto controle das minhas lágrimas eu me viro para vê-la uma última vez. Ela está ajoelhada, na chuva, seu vestido verde esparramado no chão molhado, não suporto vê-la sofrer. Mesmo sofrendo eu sorrio e falo "Espera por mim".

Eu a deixo. Continuo caminhando e não ouso olhar pra traz, minha vontade é correr até ela, abraça-la forte e nunca mais soltar. Enquanto subo o navio sinto minha lágrimas se misturar com a água da chuva. No navio eu olho minha amada longe, ainda de joelhos na chuva, a mão fechada no peito e cabeça baixa. Levanto a cabeça ao céu e deixo a água lavar meu rosto. Prometo em silêncio para minha amada "Cristina eu volto""

Acordo novamente com lágrimas nos olhos.

Dessa vez esse sonho foi diferente. Cristina?

Sempre tive o mesmo sonho, mas dessa vez eu tinha um nome. Eu sempre tive esse mesmo sonho, com o tempo posso ver o rosto da mulher com mais nitidez e hoje um nome.

"Por que sempre o mesmo sonho?"

Eu não sei o motivo, mas estou com esperança de encontrar essa mulher.

Ela está em meus sonhos todas as noites, às vezes acho que estou apaixonado pela mulher em meus sonhos. Sei que absurdo mas é como me sinto, Às vezes acordo no meio da noite e tento dormir novamente só para sentir suas mãos em meus lábios. É um sonho tão real.

Preciso levantar. Cheguei do Canadá há dois dias e não posso ficar mais tempo no hotel, preciso procurar por um apartamento, hoje tenho uma reunião agendada com um escritório de contabilidade próximo daqui, poderei procurar por um apartamento à tarde.

É um pouco complicado pra mim andar pela cidade de São Paulo, principalmente as estações de metrô. Apesar de eu ter nascido e vivido aqui por vinte anos da minha vida, depois de quase dez anos fora, eu acabei esquecendo.

Encontrei o endereço do escritório mas ainda é cedo, decidi ir a uma lanchonete tomar um café enquanto espero. Ao chegar na porta da lanchonete eu a vejo lá dentro, ela está conversando com o atendente.

É ela, Cristina. Eu congelo. Não consigo entrar. Só observo pelo lado de fora da lanchonete.

Ela coloca uma de suas bolsas no banco ao lado, pega o café e se vira para a saída. Eu saio apressado para que ela não me veja. Ela para na frente da lanchonete e fica dando voltas em torno de si mesma olhando os braços. É engraçado a forma como ela está confusa. Eu preciso falar com ela, mas não sei o que dizer.

_Isso é um jeito novo de esfriar o café ?

_Oi?

Ela me olha nos olhos. Seu olhar me deixa tão atordoado que não sei mais o que dizer, afinal é a mulher que eu sonho por quase quinze anos.

_Poderia me dar licença, por favor?

Me arrependo das palavras no momento em que saem da minha boca. Eu deveria ter dito outra coisa, perguntado seu nome ou se queria ajuda, ou me oferecer para pagar um almoço, mas minha mente não funciona quando olho pra ela.

_Ah. Me desculpe.

Ela desvia seu corpo da minha direção e sai apressada olhando seus braços e balançando a cabeça.

Enquanto ela sai pude ver seus passos apressados e seus tênis velhos de corrida, claramente não combinado com o terno feminino que ela usava, mas isso a deixava ainda mais atraente, era uma mulher realmente segura de si, capaz de sair com aqueles tênis e ainda assim ser tão atraente. Pude ver ao longe ela jogando seus cabelos negros pra trás enquanto andava, nesse momento eu só pensava em acariciar seus cabelos e matar toda a vontade de ter em meus braços, vontade que eu sinto por quase quinze anos.

Entrei na lanchonete e fui em direção a sua bolsa no banco da lanchonete. Peguei sem pensar. Eu tinha esperança de poder vê-la novamente com a desculpa de devolver a bolsa. Eu iria ficar na lanchonete o resto da tarde após a reunião para encontrá-la novamente e devolver a bolsa. Imaginava que ela ficaria tão agradecida que aceitaria meu convite para um almoço.

Por agora eu só preciso saber mais sobre ela, pelo que vi ela é conhecida do atendente, como ele já é um senhor então acredito que poderei perguntar sem me preocupar se ele tem sentimentos por ela.

_Bom dia. Um café, por favor.

_Bom dia.

Ele vai preparando o café. Eu espero um pouco antes de perguntar sobre a mulher que acabou de sair, mas tomo coragem e o faço.

_A moça que acabou de sair...

_Nem perca seu tempo. Ela é divorciada e depois do divórcio não quis saber de namorado!

Meus pensamentos se alegram. Ela não tem ninguém.

_Ela sempre compra café aqui?

_Quase sempre almoça também. Você vai ver ela umas onze e meia ou meio-dia.

Tomo meu café em silêncio olhando as horas, ainda são nove e dez.

Volto a realidade da minha vida, tenho uma reunião marcada para as dez horas, vou chegar lá antes do horário, não quero perder a chance de a encontrar novamente.

Enquanto estou esperando o tempo passar, me atrevo a olhar dentro da bolsa, há um par de sapatos envoltos em um saco branco, maquiagem e um frasco de perfume. Posso sentir seu cheiro saindo de dentro da bolsa, agora sei o perfume da mulher dos meus sonhos.

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Comments

Marinêz De Moura Pereira Cortes

Marinêz De Moura Pereira Cortes

No sonho dela, ele tem olhos azuis.

2025-05-19

0

Anny Bastos

Anny Bastos

Espero que ele consiga entregar a bolsa, e assim ficar mais proximo a ela.

2023-05-31

1

🌺 Caroeni Bernardes

🌺 Caroeni Bernardes

Cristina sua distraída, esqueceu a sacola com seus TREM 🚆 mulher, mas um gato acho fica tranquila.

2023-01-27

1

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